Um esquema de tráfico internacional de armas provenientes do Paraguai para abastecer criminosos em Juiz de Fora e também de comércio de entorpecentes foi desmantelado pela Polícia Civil durante a operação Protocolo Fantasma, desencadeada entre terça e quinta-feira (24). Um caminhoneiro de 34 anos morador do Eldorado, Zona Nordeste, e um ajudante, 38, também juiz-forano, acabaram presos em flagrante após serem interceptados pela Delegacia Especializada Antidrogas na BR-267, próximo ao município de Seritinga, no Sul de Minas, a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora. Os policiais encontraram uma pistola 9mm com 17 munições escondida dentro de uma caixa de som na cabine do Volkswagen baú ocupado pelos suspeitos, além de cerca de R$ 16 mil em cheques e dinheiro. Já na casa do ajudante, em Grama, Zona Nordeste, foi achada uma submetralhadora com silenciador 9mm e mais 43 munições, além de meio quilo de cocaína avaliado em R$ 2.500.
Segundo o delegado responsável pelas investigações iniciadas há oito meses, Rogério Woyame, a suspeita é de que o caminhoneiro autônomo aproveitava os fretes em rotas que incluíam o Paraná para adquirir armas de uso restrito, que eram trazidas em meio à carga e revendidas pelo dobro do preço na cidade. Depois de parar nas mãos de bandidos, principalmente daqueles ligados ao tráfico de drogas, os armamentos possivelmente eram usados em vários crimes, inclusive homicídios. A descoberta do esquema trouxe à tona uma provável explicação para o fato de os assassinatos em Juiz de Fora estarem cada vez mais sendo praticados com pistolas e outras armas com maior poder de destruição.
“Em janeiro, um investigador nosso recebeu a informação de que uma pessoa estaria vendendo armas na cidade, trazidas de fora. Iniciamos a investigação e chegamos a um caminhoneiro que viajava para o Paraná. Conseguimos interceptação telefônica com ordem judicial, sendo constatado que realmente ele se deslocava várias vezes por mês ao estado. Pelos áudios, o acompanhamos negociando a venda de armas. Fizemos todo um trabalho para segui-lo, levantar residências, porque mora em um local e está construindo uma casa em outro. Também averiguamos as pessoas com quem ele andava, sua movimentação e a do caminhão. Dando prosseguimento à interceptação, percebemos que ele também trazia drogas de lá”, explicou Woyame.
Negociação
Em um dos áudios divulgados pela polícia, o suspeito afirma que está com uma “macaquinha 9mm” automática, antiga, mas afirma que é boa. Na negociação da submetralhadora de fabricação italiana, apreendida na casa do ajudante, o motorista conta que a arma está parada com ele há uns quatro meses, que “está meio feia, mas tem pressão”.
“Na investigação ficou claro que é o caminhoneiro quem compra a arma lá no Paraná ou no Paraguai. Mas sempre pega no estado, não atravessa a fronteira com o armamento. Uma pessoa entrega esse material para ele. Não sabemos se ele vai no país negociar ou se já tem um contato para comprar e repassar a ele. Mas todas as armas são de procedência do Paraguai”, completou o delegado. “Era muito vantajoso. Ele aproveitava os fretes que fazia como caminhoneiro e passava perto da fronteira para trazer os materiais. Ficou apurado que ele pagava entre R$ 1.500 e R$ 3 mil em uma arma e vendia pelo dobro do preço. Pagava R$ 2 mil em uma pistola, e pedia R$ 4 mil, R$ 5 mil nela.” O valor seria aumentado também de acordo com os apetrechos, conforme Woyame. “A submetralhadora, por exemplo, está com silenciador, e isso aumenta bastante o preço dela, porque é um equipamento que a torna mais letal e furtiva no seu uso.”
Policiais interceptam caminhão de madrugada e completam 48 horas de ação
A operação Protocolo Fantasma desbaratou um esquema de tráfico internacional de drogas e também colocou à prova os próprios policiais civis da Delegacia Antidrogas, que atuaram por 48 horas ininterruptas. A equipe iniciou o trabalho na noite de terça-feira, viajou até Pouso Alegre e Caxambu, no Sul de Minas, no início da manhã de quarta, culminando com a interceptação do caminhão-baú na BR-267 por volta de 1h da madrugada de quinta (24). “Foi um trabalho de paciência. Fizemos monitoramento na estrada e também da interceptação telefônica”, pontuou o delegado responsável pelo caso, Rogério Woyame.
“Estávamos seguindo o caminhão na BR para saber onde ele iria entregar o material mas, infelizmente, o veículo começou a apresentar uma série de problemas mecânicos e fomos obrigados a fazer a abordagem no meio da estrada. Seguimos até um posto próximo para podermos realizar as buscas, porque no acostamento estava perigoso. Depois fizemos uma busca minuciosa na Delegacia Regional, onde averiguamos toda a carga (de amido de milho) e encontramos a pistola 9mm raspada, com dois carregadores e 17 munições”, contou o delegado.
A equipe ainda solicitou apoio do canil da Polícia Militar a fim de localizar possíveis drogas camufladas em meio à carga, mas nenhum outro material ilícito foi achado. Em seguida, os policiais fizeram buscas nas residências dos suspeitos. Na casa do caminhoneiro foram apreendidos uma Honda Hornet, avaliada em mais de R$ 20 mil, além de botas e calça de motociclistas, que seriam provenientes de crime e teriam sido receptadas como pagamento de dívida. “Como em um dos áudios ele negociava a submetralhadora, continuamos as diligências e localizamos 500g de cocaína e a arma com silenciador e dois carregadores na casa do ajudante, comprovando o vínculo entre os dois na empreitada criminosa e a venda de drogas.”
Segundo Woyame, a manobra foi batizada pelo próprio termo utilizado pelo caminhoneiro. Em um dos áudios, ele fez menção de que, quando viajava para trazer ilícitos, chamava a viagem de “protocolo fantasma”. De acordo com o delegado, ele vai responder por tráfico internacional de armas, tráfico de drogas e associação para o mesmo crime, além de receptação. Já o ajudante, vai ser indiciado por tráfico de entorpecentes, associação e posse ilegal de arma de uso restrito. A dupla foi encaminhada ao Ceresp.
Entrada na cidade
“Comprovamos um canal de entrada de armas na cidade. Isso demonstra um pouco da facilidade e da necessidade de continuarmos reprimindo e trabalhando, com investigação e inteligência. Uma só arma pode ser usada em vários crimes na cidade. O fato de termos apreendido uma submetralhadora já traz uma grande tranquilidade para a Polícia Civil, porque uma 9mm é muito letal”, concluiu o delegado. As investigações continuam na tentativa de identificar os compradores dos armamentos. “Normalmente são pessoas ligadas ao tráfico de drogas com intenção de proteger os pontos de venda, de tomar outro local, fazer os acertos e praticar homicídios por conta de dívida.”