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Primeiro dia de Enem: questões sociais e tema surpreendente na redação

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No último domingo (21), 2,3 milhões de estudantes compareceram aos locais de realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o Brasil. A disputa pela sonhada vaga no ensino superior teve o pontapé inicial com as provas de redação, linguagens e ciências humanas e terá o desfecho no próximo domingo (28), com testes de matemática e ciências da natureza. O primeiro dia de provas, após semanas de turbulência nos bastidores do Ministério da Educação, foi marcado pelas questões com abordagens sociais e tema surpreendente na redação.

A aplicação do Enem acontece ainda durante o rescaldo da saída de 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que pediram exoneração das funções no último dia 9. O órgão é responsável, entre outras funções, pela organização e aplicação do Exame, o que gerou preocupação com possíveis problemas de logística nas vésperas das provas. Além disso, surgiram denúncias sobre suposta interferência do Governo federal no conteúdo da prova, com censura a determinadas questões do banco utilizado para elaborar os testes.

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 “Isso foi algo que nos deixou inseguros, pelas próprias denúncias apresentadas antes e pelos depoimentos de alguns funcionários (do Inep)”, relatou à Tribuna o coordenador de cursos pré-vestibulares do Colégio Apogeu, Tiago Bernardes. “Ficamos na apreensão do que poderia vir de prova, uma vez que o presidente havia afirmado que ela teria ‘a cara do Governo’. Mas a prova veio sem censura. Trabalhou temáticas de grupos indígenas, racismo, invisibilidade social”, enumera ele.

Na visão do coordenador do Apogeu, as provas variaram com questões de níveis fácil e médio, o que pode ser sinal de compreensão dos examinadores quanto às deficiências do ensino durante o período pandêmico. “A prova passou pelo nível fácil e, quando houve nível mediano, não era pela questão em si, mas pela linguagem rebuscada, que poderia gerar dúvida. Mas não foram questões difíceis. Acho que a banca entendeu a desigualdade no acesso à educação no Brasil e percebeu que não dava para trazer questões tão difíceis”, analisa Bernardes.

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“O primeiro dia de provas não trouxe surpresas. A equipe de professores do Colégio dos Jesuítas observou que os temas cobrados estavam em sintonia com o que, historicamente, o Enem aborda”, afirma o professor Ivan Bilheiro, coordenador pedagógico do Colégio dos Jesuítas. Ele destacou a presença de autores brasileiros na prova de linguagens e a interdisciplinaridade no caderno de ciências humanas, características já comuns no Enem.

Professor de Geografia do Colégio dos Jesuítas, Carlos Augusto Faria Pedro também apontou a presença de vocabulário rebuscado no caderno da disciplina, mas sem que isso fosse prejudicial aos candidatos. “(Os alunos) talvez sentissem alguma estranheza pela falta de alguns temas mais tradicionais e um vocabulário mais rebuscado em várias questões, mas nada que impedia a realização da prova. No geral, a prova deixou a segunda metade do século XX e o início do século XXI para trás. Na (prova de) história, isso ficou muito visível pelos temas”, complementa.

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Tema surpreendente na redação

Na edição de 2021, o tema da redação do Enem foi: “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. De acordo com o professor e coordenador de redação do Apogeu, Wesley Pontes, o assunto trouxe surpresa por estar fora dos temas tradicionalmente trabalhados pelos docentes ao longo da preparação. Entretanto, foi uma temática dentro do que se espera do exame. “É um tema do eixo temático cidadania, que trabalha vulnerabilidades, principalmente de minorias sociais. É um tema completamente dentro do edital e é o tipo de assunto que o Enem propõe trazer”, opina.

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O professor considera que o principal risco dos alunos na redação é o tangenciamento do tema, quando o candidato aborda, em alguma parte do texto, determinado item da frase-tema, mas não trata da questão em toda a sua amplitude. “Houve um recorte muito específico e, no caso, tivemos uma frase-tema com mais de uma palavra chave. O aluno pode identificar alguma dificuldade quando ele trabalhar, no texto, a associação da invisibilidade com o registro civil e relacionar os dois aspectos à garantia de acesso à cidadania. Essa frase-tema ampla gerou um pouco de medo, porque aumenta a complexidade de como o aluno tem que falar sobre o texto”, analisa Pontes.

Aula à distância foi um desafio, afirma estudante

Para a estudante do Colégio dos Jesuítas Mariana Vianello, a preparação para o Enem foi facilitada pelo retorno das aulas presenciais nos meses finais. Antes, porém, as aulas on-line foram um desafio. “Com mais de um ano e meio de pandemia, a preparação para o Enem foi difícil. Ainda que o colégio no qual estudo tenha se desdobrado para atender nossas demandas, o sistema EAD (ensino a distância)  foi um desafio. Assim, o retorno presencial auxiliou na retomada do ritmo de aprendizado e na revisão do conteúdo, possibilitando uma realidade próxima da normalidade”, afirma.

A estudante avalia que a principal dificuldade da prova foi o tradicional cunho interpretativo das questões. Segundo ela, no Instituto Federal (IF), onde realizou prova, a aplicação ocorreu sem grandes problemas. “Observei que a logística na entrada e na saída não foi um problema, embora tenha visto muita aglomeração na área externa. Dentro do IF fomos bem instruídos no ambiente, além da organização na área interna ter sido notória. Contudo, reparei carência no número de fiscais que, visivelmente, foi inferior ao do ano passado”, diz.

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