Nos últimos sete anos, os juiz-foranos reduziram em 15% o volume de água consumida diariamente no município. De acordo com levantamento da Cesama, no ano de 2010, cada morador da cidade gastava, em média, 156 litros do recurso no intervalo de 24 horas e, este ano, são 132 litros. Várias são as explicações para a queda do gasto, sendo as principais, segundo a companhia, as mudanças de hábitos motivadas pelas crises hídrica e econômica dos últimos anos. A fim de comparação, a média nacional é de 166 litros, enquanto que, grandes centros urbanos da região Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo, têm consumo ainda mais elevados, com 250 e 175 litros, respectivamente. Apesar de os dados locais serem positivos, a companhia afirma que o desperdício é realidade para uma parcela da população, que não se conscientiza sobre a necessidade de fazer o uso racional do líquido. O Dia Internacional da Água, celebrado hoje, é um motivo para repensar os hábitos de consumo.
O gasto de água per capita em Juiz de Fora, embora em redução, é maior que o preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o órgão, uma pessoa consegue sobreviver com 110 litros de água por dia. “O consumo de 132 litros, em um país como o Brasil, não pode ser considerado exagero. Abuso tem nos Estados Unidos, onde o clima é muito diferente do nosso e a média chega a 575 litros por habitante”, disse o diretor técnico-operacional de Cesama, Márcio Augusto Pessoa. Mesmo assim, ele considera que a média local ainda é passível de redução. “Ainda flagramos desperdícios”, confirmou.
Lavação de calçadas e de carros com mangueiras é hábito comum observado nas ruas da cidade. Dentro de casa, também prevalecem atitudes questionáveis, como limpar louças com a torneira aberta, usar a máquina de lavar sem acumular roupas e permanecer no banho por tempo maior que o necessário. Tudo isso, ainda, após a cidade enfrentar, entre 2014 e 2015, 14 meses ininterruptos de rodízio no abastecimento e ser ameaçada com racionamentos ainda mais severos.
‘Resultado surpreendente’
O diretor-presidente do Instituto Akatu, referência em assuntos relacionados a sustentabilidade no Brasil, Helio Mattar, considera os números apresentados pela Cesama como ponto fora da curva na região Sudeste. “Os dados são bastante interessantes. Na verdade, chegam a ser surpreendentes. A média da região Sudeste do país é de 192 litros por dia para cada habitante. Juiz de Fora estaria atrás, somente, da região Nordeste, que tem o menor consumo do Brasil, com 125 litros per capita.”
Mas segundo Helio, não basta reduzir o consumo em razão da recente crise hídrica. Mais difícil que isso é manter os novos hábitos. São Paulo é exemplo disso, pois durante o racionamento passou a economizar 20% de água, mas com a volta das chuvas a média de consumo da população voltou a subir. “As pessoas precisam entender que a crise não é crise, é uma nova condição para o uso da água. O aquecimento global está tornando o clima imprevisível e extremo e, por isso, não estamos livres de outros anos seguidos de estiagem prolongada.”
Perda técnica é desafio
O Instituto Akatu enumerou, recentemente, várias atitudes que resultam em elevado consumo de água sem que a população perceba. Uma delas é a perda técnica, que significa água tratada pelas companhias de abastecimento que não chegam aos consumidores por causa de vazamentos e outras falhas na rede de distribuição. De acordo com o Departamento de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, a média nacional é de 36,4% de desperdício.
Em Juiz de Fora, a Cesama admite perda técnica de 31,5%, e, de acordo com o diretor técnico-operacional da companhia, Márcio Augusto Pessoa, o Plano Municipal de Saneamento prevê redução deste índice para 20% até 2033. Para isso, são necessários investimentos. “Juiz de Fora e Uberlândia são as duas únicas cidades de Minas que possuem um plano de saneamento completo. Para atingir a meta, montamos um programa de substituições das redes antigas e investimentos em infraestrutura, com monitoramento por telemetria e troca de motores das bombas elevatórias por outros mais eficientes.”
Conforme o diretor-presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, reduzir a perda técnica é difícil e demorado, pois são obras que necessitam de volumosos recursos. “Sem contar que estas intervenções não podem ser feitas da noite para o dia. Muitas delas causam enormes transtornos para as cidades, com fechamentos de grandes vias, por exemplo. Além disso, as obras não são rápidas.”
Água invisível
Um dos maiores consumos do cotidiano não é perceptível. São as águas invisíveis, que levam em consideração os recursos necessários para produzir alimentos e outros bens de consumo. Conforme o Instituto Akatu, um smartphone, por exemplo, gasta em sua produção 12.760 litros de água, enquanto uma única calça jeans, mais 10.850 litros. Na alimentação, um quilo de carne bovina mobiliza 15 mil litros de água, levando em consideração o alimento dado para o gado e todo o processo do frigorífico, com limpeza e resfriamento do ambiente. “Precisamos evitar o desperdício. Um terço de toda a comida que compramos, por exemplo, jogamos no lixo. Nossa própria atitude é o que pode resolver estes abusos”, disse Helio.
Eventos de conscientização previstos para hoje na cidade
O Dia Mundial da Água é uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992. Juiz de Fora participa da data, por meio de uma série de eventos promovida pela Prefeitura e entidades parceiras, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Polícia Militar de Meio Ambiente e o Corpo de Bombeiros, desde o último domingo.
Hoje, às 14h, está prevista uma palestra no Centro de Educação Ambiental do Parque Lajinha com o geógrafo Alex Campos, da Secretaria de Meio Ambiente. O evento é aberto ao público e contará com a participação de estudantes e profissionais da área. Este mesmo local foi palco, no último domingo, de uma exposição fotográfica sobre recursos hídricos na cidade e na região.
Mais tarde, às 18h, o coral da Cesama se apresenta em frente ao Cine-Theatro Central, no Calçadão da Rua Halfeld.