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Adolescente que ficou órfão na pandemia recebe doações após mobilização

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O adolescente B.D. de 17 anos, morador de Ponta Porã (MS), mostrou que solidariedade não tem fronteiras, principalmente na era da internet. Ao conhecer o jovem juiz-forano F.E., 16, que ficou órfão em meio à pandemia, ele se sensibilizou e mobilizou uma vaquinha on-line para ajudá-lo, mesmo estando a cerca de 1.600 quilômetros de distância. “Nos conhecemos no domingo (16) pelo chat Omegle. Ele me contou que havia perdido pai e mãe e que passava por dificuldades, quase não tinha comida em casa. Tinha que se virar e ganhava R$ 0,50 por cada picolé que vendia. Ontem (quarta), quando conversamos, ele disse que estava com dor de cabeça e que não conseguia dormir porque estava com fome. Eu estava comendo na hora e fiquei muito mal com aquilo. Então pensei em ajudar”, contou o morador do Mato Grosso do Sul. Ainda segundo ele, o adolescente usa um celular simples doado pela comunidade, e a internet é emprestada por um vizinho.

Menino vivia em condições precárias, sem energia elétrica e sem comida

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A campanha, iniciada pelo Twitter na madrugada desta quinta-feira (20), logo viralizou e, em poucas horas, arrecadou mais de R$ 4 mil, sendo encerrada com 163 apoiadores.

Os comentários e compartilhamentos também chegaram até a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) que, ainda nesta quinta, encaminhou uma equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) para uma visita domiciliar ao adolescente, morador da Zona Leste da cidade. As fotos do local, enviadas ao amigo distante, revelaram a precariedade de quem vivia sem energia elétrica há seis meses, sem água quente e praticamente sem alimentos, precisando usar uma cortina como cobertor para se proteger do frio e sem creme dental para escovar os dentes. “Ele só tinha um achocolatado e um pouco de arroz no armário”, contou B.D. “Em momento algum me pediu ajuda ou se vitimizou, eu que ofereci.”

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F.E. também conversou com a Tribuna e demonstrou muito otimismo diante da vida, apesar das dificuldades. Com pelo menos uma dezena de irmãos, ele disse que, após a visita da Prefeitura, vai tentar morar com uma irmã, 20, e duas sobrinhas, de 1 e 3 anos.

“Tem muita gente me ajudando, com doações e bons conselhos. Estão tentando fazer meu cadastro no banco para eu receber o dinheiro da vaquinha. Nunca achava que eu iria conseguir isso, mas Deus ajudou bastante e estou conseguindo aos poucos. Para mim, é só o começo.”

Um dos sonhos do jovem é voltar a ter uma bicicleta para poder trabalhar com entregas, já que a dele foi roubada.

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Pai foi assassinado sob suspeita de roubo, mas polícia concluiu que ele era inocente

O pai de F.E. foi assassinado com um tiro no rosto, em outubro do ano passado, na frente dele e da irmã, na Zona Leste de Juiz de Fora. O homem morreu aos 42 anos acusado de roubo, mas era inocente, conforme revelou a própria investigação da Polícia Civil. O suspeito, 20, teria confessado em depoimento o homicídio, praticado após ele perder um celular enquanto trafegava de moto pela região. Ao refazer o trajeto, o rapaz teria encontrado a capa do telefone na calçada da casa da vítima e passou a questioná-la. No entanto, o criminoso não teria ficado convencido diante da negativa do morador em ter encontrado o telefone e voltou cerca de dez minutos depois armado, como havia prometido. “Ele exigiu o celular, e a vítima até ofereceu entregar o telefone dela mesma. Mesmo assim, não satisfeito, ele efetuou um disparo à queima-roupa no rosto. O pai foi executado de forma banal na frente dos filhos”, informou o delegado Rodrigo Rolli, ao concluir o inquérito no ano passado.

Esse é um dos motivos que faz F.E. querer mudar de endereço. “Eu e minha irmã estamos fazendo um acordo para podermos morar juntos e sair do bairro.” A mãe, segundo ele, faleceu em 2019 após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e ter pneumonia bacteriana no hospital. “Desde quando meu pai morreu, estou tendo dificuldades. Ele me ajudava muito, porque a gente andava sempre junto, pegava comida nos restaurantes e ia na Sopa dos Pobres.” A casa onde o jovem ainda vive havia sido herdada da avó paterna.

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PJF e Conselho Tutelar vão acompanhar família

De acordo com a assessoria de comunicação da PJF, após a visita ao adolescente nesta quinta-feira, a equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos sugeriu os seguintes encaminhamentos: atendimento emergencial em relação à segurança alimentar (doação de cesta básica emergencial) via Mesa da Cidadania; inclusão no Programa de Auxílio Moradia (caso ocorra interesse da família em se mudar); atendimento no Cras Leste (Vitorino Braga) para inclusão da Família no Cadúnico, para avaliação sócioeconômica e possível inclusão nos programas Bolsa Família e de Segurança Alimentar; atendimento para orientação de trabalho e renda para a irmã através da Secretaria de Assistência Social (Seu emprego JF); acompanhamento e atendimentos na Unidade Básica de Saúde; inserção das crianças em creche e do adolescente em escola.

Ainda conforme a PJF, a equipe do Conselho Tutelar também planejou visita à casa da família nesta quinta para orientações relacionadas aos direitos da criança e do adolescente e também para oferecer suporte ao adolescente, à irmã e às crianças, nos encaminhamentos para a rede socioassistencial.

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