Olhos secos, ardência no nariz, pele ressecada e dificuldade para respirar. Esses são alguns dos sintomas causados pela baixa umidade do ar, fenômeno que tem se tornado comum em Juiz de Fora. Com a estiagem prolongada completando 29 dias nesta terça-feira (19), maior período sem chuvas registrado neste ano, a tendência é que os sintomas piorem, principalmente para os juiz-foranos que já têm problemas respiratórios, como rinites, sinusites e asma. Infecções, viroses e alergias também são comuns, principalmente quando a hidratação é deixada de lado.
Nas últimas semanas, a baixa umidade tem deixado a cidade em estado de atenção. A umidade do ar chegou a 27%, índice muito abaixo dos 60% considerados ideais para o ser humano se sentir confortável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Abaixo de 30%, a organização já classifica a baixa umidade como estado de atenção. Nesta terça-feira, a umidade estava na casa dos 39%, considerado estado de observação.
Nessas condições, partículas nocivas ao organismo permanecem suspensas no ambiente por mais tempo, por conta da baixa quantidade de água no ar. Assim, partículas de poeira, poluição e pelos de animais, principais causadores de alergias e infecções, têm acesso facilitado ao organismo humano. Além disso, o muco que protege as mucosas fica mais espesso, favorecendo a aderência de vírus e bactérias ao organismo.
Apesar de os sintomas aparentes do ressecamento serem mais sentidos na pele e nas vias aéreas, de acordo com o alergologista Ricardo Bedinelli, a baixa umidade impacta o organismo de forma geral. “Quase 60% do corpo humano adulto são formados por água, e as secreções dependem de líquido para serem formadas. Quando a umidade fica muito baixa, as mucosas, principalmente nariz e boca, tendem a ressecar, pois se perde muita água para o meio. As secreções têm anticorpos, que protegem contra vírus e bactérias, e, com a perda delas, o corpo fica deficiente destes mecanismos de defesa e propenso a infecções.”
Segundo o médico pneumologista Fernando Ferreira Salles, doenças como rinites, bronquites, asmas e dermatites são mais comuns nesta época do ano, mas é possível evitar quadros agravados por meio da hidratação do corpo e da umidificação do ambiente. “Quanto mais as pessoas se hidratarem, melhor. Tomar dois litros d’água por dia é fundamental para manter as células hidratadas. Além disso, pode-se recorrer também a toalhas molhadas, baldes d’água e umidificadores de ambientes.”
Porém, conforme o especialista, é preciso ter cuidado para o efeito não ser contrário. “Usar esses métodos 24 horas por dia não é aconselhável, pois a umidade muito alta favorece o aparecimento de bolor e fungos, trazendo alergias. No caso do ar-condicionado, o ideal é manter a temperatura do ambiente não muito baixa, além de manter a preocupação com a umidificação. Caso o ar-condicionado seja utilizado, os filtros do equipamento também devem ser limpos com frequência e corretamente”, pontua Salles.
Médico alerta contra banhos quentes e demorados
O alergologista Ricardo Bedinelli também aponta a hidratação como essencial para se proteger do tempo seco, mas acredita que outras ações podem contribuir para diminuir o desconforto causado pelo clima. “É muito importante fazer uso de vestimenta adequada, para não sentir frio ou calor. O momento do banho também exige cuidados: nada de banho muito quente ou demorado, pois a pele pode ficar mais ressecada. Outro hábito importante e que deve ser mantido durante todo ano é a exposição ao sol apenas antes das 11h, e evitar, principalmente, tomar sol por volta das 13h. A umidade varia de acordo com a hora do dia, e, até por volta das 15h, é comum ficar muito baixa.”
Outra dica do médico é passar hidratante corporal e hidratar também o nariz. “Atualmente, existem diversos tipos de lágrimas artificiais, os colírios, além de várias soluções nasais para limpeza e umidificação do nariz. As pessoas podem fazer uso destes produtos, mas é importante não se automedicar e seguir a orientação de um médico.” Evitar contato muito íntimo com animais também é uma orientação importante, segundo Bedinelli.
Um alerta é que crianças e idosos estão mais propensos a sofrer com o tempo seco, já que, nos primeiros meses de vida, o sistema imunológico ainda não está completo e, no caso dos idosos, o organismo pode funcionar mais lentamente. “É preciso ter cuidado com os extremos da vida. O idoso, muito frequentemente, acaba se esquecendo de tomar água, e a criança pequena depende da mãe, que tem que oferecer a água. Crianças com até 6 meses de idade ficam bem hidratadas com o leite materno, porém, molhar a chupeta em um pouco de água também pode ajudar”, finaliza o médico.