Um homem de 35 anos foi preso na manhã desta segunda-feira (20) por suspeita de ter abusado sexualmente de forma contínua de uma sobrinha, 10, filha da irmã da companheira dele. Ele foi capturado em casa, na Zona Leste de Juiz de Fora, por policiais civis da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, que cumpriram mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça.
De acordo com a delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, o crime foi desvendado graças ao irmão da vítima, um adolescente de 15 anos. Após a família não ter acreditado na denúncia dele, o jovem fingiu ter ido para a escola e se escondeu dentro de um móvel para gravar um vídeo do suspeito molestando a irmã. A filmagem chegou a ser apagada por parentes, mas teve partes recuperadas pela perícia e pelo próprio rapaz, que levou o caso à polícia, junto com a mãe.
Conforme a delegada, a criança começou a ser abusada em janeiro, quando tinha apenas 9 anos. Ela está recebendo apoio psicológico, já que vinha sendo molestada há seis meses, desde que mudou-se com a família para um bairro próximo ao do suspeito. “O que chamou a atenção foi a coragem do irmão, que nos ajudou imensamente nesta apuração. Ele começou a achar a situação estranha, porque a irmã estava triste e ficava pelos cantos. Ela se abriu e falou com ele o que estava acontecendo. O adolescente contou para a família, porém, por se tratar de um homem casado com a tia, não acreditaram e pediram uma prova. Diante disso, ele combinou com a irmã, que já estava apavorada, e fingiu ter ido à escola no dia em que haveria outra visita do tio. O jovem se trancou em uma cômoda e, pela frestinha, filmou tudo.”
No dia 17 de junho, a mãe e o irmão da vítima estiveram na delegacia e denunciaram o fato. Segundo as apurações, o investigado costumava dar R$ 10 para a criança e também para o irmão dela. Mas sempre dizia que a menina precisava buscar o dinheiro na casa dele. Em outras ocasiões, ele esperava a vítima ficar sozinha na residência para levar a quantia prometida. O homem se aproveitava do fato de a mãe, separada, trabalhar fora, e o irmão estar na escola.
De acordo com Ione, a coragem do adolescente não foi suficiente para que os parentes acreditassem na história, aparentemente absurda para eles. “Não bastasse ele ter filmado, uma pessoa da família excluiu o vídeo do celular dele. Nós orientamos o rapaz, e conseguimos recuperar uma pequena parte das filmagens. Posteriormente, ele conseguiu reaver outra parte. Submetemos o material à perícia, que foi fundamental para nossa investigação”, explicou a delegada. Segundo ela, as imagens mostram, de forma evidente, o abuso, inclusive o sexo oral que ele obrigava a vítima a praticar. “Além disso, o irmão conseguiu pegar o papel higiênico enrolado com o esperma que o investigado havia dispensado no banheiro.”
O suspeito chegou à delegacia e, acompanhado de advogado, prestou depoimento. “Pedimos que ele disponibilizasse material (genético) para comparação em exame de DNA. Mas já temos provas mais que suficientes no inquérito, tanto é que representamos pela prisão preventiva, decretada pelo Judiciário, e conseguimos prendê-lo.” O homem foi encaminhado ao Ceresp, onde ficou à disposição da Justiça.
Ione informou que a conduta da pessoa que apagou o vídeo, cujo grau de parentesco não foi revelado, também será investigada. As partes da filmagem recuperadas estão em segredo de Justiça.
A delegada enfatizou que não houve conjunção carnal, mas qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos é enquadrado no estupro de vulnerável. O crime, previsto no artigo 217-A da Lei de Crimes Sexuais, prevê reclusão de oito a 15 anos. Ione acrescentou que o delito deverá ser agravado por ter ocorrido de forma contínua. “O adolescente é o grande herói desta história, pois ele praticamente salvou sua irmã, molestada desde os 9 anos.”
Denúncias
Para a delegada de Mulheres Ione Barbosa, a pedofilia “é uma questão social e tem que ser tratada com maior importância, porque é muito recorrente, principalmente na família”. “Como autoridade policial, quero deixar um alerta para a sociedade: o abuso acontece dentro da casa da vítima. A mãe também deve olhar as redes sociais, saber o que está acontecendo, porque a fragilidade é muito grande. Os pedófilos costumam ter um perfil falso, mostram serem pessoas calmas e tranquilas, são cativantes e conseguem conquistar a confiança.”
Segundo ela, em dois meses, esse é o quarto caso envolvendo abuso de crianças apurado pela delegacia. Em todos eles, não houve conjunção, por isso todos devem ficar atentos. “Se perceber que uma criança está ficando muito sozinha com determinado adulto dentro de casa, denuncie!” Ligações podem ser feitas para o número 181, do Disque-Denúncia Unificado (DDU), ou na própria delegacia.
“Com esse caso pegamos a ponta do iceberg. Conseguimos apurar, e em tempo recorde, pois em praticamente um mês estamos quase concluindo o inquérito. Mas precisamos de denúncia para sabermos deste tipo de situação, que deixa a criança traumatizada”, reforçou Ione.
A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher fica na Casa da Mulher – Centro de Referência, na Rua Uruguaiana, 94, no Bairro Jardim Glória. Informações podem ser obtidas pelo telefone 3690-5559.