A Polícia Civil desvendou o homicídio do coronel reformado do Exército e médico Sebastião Mauro Venturi de Pina, 58 anos, encontrado morto na direção de um carro, com dois tiros do lado direito da cabeça e do pescoço, na manhã do último dia 6, no km 773 da BR-040, no trevo de acesso à AMG-3085, na altura da Barreira do Triunfo, Zona Norte de Juiz de Fora. A esposa da vítima, 42, é apontada como possível mandante e coautora do assassinato do militar, com quem era casada há 15 anos e tinha dois filhos menores de 10 anos. O casal morava na Avenida dos Andradas, no Morro da Glória, região central. Já o executor, segundo as investigações, é o ex-sogro da mulher, um caminhoneiro aposentado, 71, pai do primeiro marido dela e morador da cidade de Santos Dumont. Os dois suspeitos foram presos na terça-feira (17), mediante mandados de prisão solicitados pela Delegacia Especializada de Homicídios e expedidos pela Justiça.
Conforme o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Rolli, o idoso chegou a confessar o crime, alegando legítima defesa. Entretanto, a justificativa seria incompatível com o laudo de necropsia e as informações obtidas pelos investigadores. Já a mulher, não confirmou sua participação no homicídio do próprio companheiro ao prestar declarações à polícia. A elucidação do crime também contou com auxílio das câmeras de segurança do Terminal Rodoviário Miguel Mansur, onde a vítima teria se encontrado com o executor no início da noite do dia 5, após a suspeita ter supostamente pedido ao marido para levar o ex-sogro até a casa dele, em Santos Dumont.
A motivação do homicídio estaria ligada a vantagens financeiras que a esposa teria com a morte do coronel Sebastião, como seguro de vida de mais de R$ 450 mil, pensão militar e imóveis, além de suposto interesse dela em se relacionar com outra pessoa. Já o aposentado seria beneficiado com alguma quantia e teria aceitado participar porque estaria passando por dificuldades após cair em golpe este ano. “Os depoimentos foram completamente contraditórios. A viúva, que é coautora do crime, foi inquirida por duas vezes e deu informações completamente opostas. Ao esmiuçarmos, ela acabou caindo em várias contradições. Com relação ao segundo autor, que efetuou os disparos contra a vítima, não há dúvida alguma, a partir das imagens que nós temos, tanto da rodoviária, quanto as buscadas pela equipe no entorno, que mostram de forma clara que ele passa em direção ao local do encontro, onde a vítima foi vista pela última vez com vida”, informou Rolli.
A versão de legítima defesa apresentada pelo executor inclui uma discussão motivada por ciúmes diante de hipotética desconfiança do militar sobre um possível envolvimento do idoso com a ex-nora. “Ele alega que a arma pertenceria à vítima, que teria puxado um revólver e, nesse momento, ele consegue desarmá-la e efetuar dois disparos, não de forma proposital, mas no decorrer da luta existente dentro do veículo. Isso não condiz”, pontuou o delegado, acrescentando que o coronel reformado não possuía arma de fogo, como ficou comprovado dentro do inquérito policial através de depoimento da família e pela ausência de registro. Além disso, o suspeito disse ter dispensado o revólver no assoalho do carro onde Sebastião foi morto, mas nenhuma arma foi localizada pela polícia na cena do crime. “A necropsia constatou dois disparos, um na têmpora direita e um no pescoço, o que demonstra de forma clara e inequívoca se tratar de execução.”
A tese de ciúmes atribuída ao militar pelo suspeito também foi derrubada pela polícia. “A própria viúva fala que manteve relacionamento extraconjugal, por cerca de dois anos, com pessoa de outra cidade, e que a vítima, tomando conhecimento, aceitou de forma tranquila, achando que teria sido apenas um desvio momentâneo dela. E o executor alega que a vítima teria tentado matá-lo dentro do veículo por ciúmes”, lembrou Rolli.
Os mandados expedidos pela Justiça contra os investigados são de prisões temporárias válidas por 15 dias e prorrogáveis por mais 15. O idoso foi encaminhado ao Ceresp, e a mulher para a ala feminina de presos provisórios na Penitenciária José Edson Cavalieri (Pjec).
Polícia pede quebra de sigilos telefônicos e bancários
“A investigação começou do zero. E isso é um marco aqui em Juiz de Fora, pelo serviço de inteligência utilizado”, disparou o delegado titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli, sobre o caso da morte do coronel reformado. As filmagens das câmeras de segurança do Terminal Rodoviário Miguel Mansur foram solicitadas pela polícia porque o ticket do estacionamento foi achado dentro do carro onde o militar da reserva foi morto. “A equipe de investigadores trabalhou diuturnamente. As imagens foram o pontapé inicial. Mas só revelaram que o autor entrou no veículo com autorização da vítima, porque foi ela mesma quem abriu a porta. Ou seja, não se trataria de crime de roubo e nem de questão não premeditada. Havia um encontro naquele local. Vítima e autor se conheciam, não eram pessoas desconhecidas.”
A Polícia Civil solicitou a quebra dos sigilos telefônicos e bancários da viúva do militar e do ex-sogro dela, presos pelo assassinato, e também do coronel Sebastião. “Esse conjunto vai ser investigado. É um trabalho ainda árduo e profundo de exames de documentos, para que possamos alinhavar a questão da motivação desse crime”, destacou o delegado. Pela análise do celular do militar reformado, apreendido no carro onde ele foi morto, já foi possível identificar que ele teria falado pela última vez com a esposa, enquanto estaria aguardando a chegada do ex-sogro dela na rodoviária. “Fato mentido pela viúva no primeiro momento, quando fala que nem sabia que o marido estava na rodoviária, só que teria saído para comprar medicamentos. Já no segundo depoimento, fala que sabia que ele estava na rodoviária para pegar o ex-sogro, que estaria esperando para ser levado até Santos Dumont.” Para Rolli, chamou a atenção o comportamento da viúva. “Ela não esboça qualquer tipo de reação. Se mantém de forma fria e tranquila.”
O homem investigado como executor disse à polícia ter vindo para Juiz de Fora naquele dia para comprar peças para seu carro. Como a arma utilizada no assassinato não foi apreendida, um projétil que ficou alojado no militar da reserva foi encaminhado para a perícia determinar o calibre.
O chefe do 4º Departamento de Polícia Civil em Juiz de Fora, delegado geral Gustavo Adélio Lara Ferreira, parabenizou a Delegacia Especializada de Homicídios “que não mediu esforços para esclarecer os fatos, trabalhando diuturnamente, procurando provas de forma técnica e profissional”. O delegado regional, Armando Avolio Neto, reforçou que a equipe trabalhou incessantemente. “Estamos conseguindo dar a resposta que Juiz de Fora merece, com mais de 90% de apuração dos crimes pela Delegacia de Homicídios.”