Um projeto que busca incentivar a leitura dentro do sistema prisional e, com isto, reduzir penas, já beneficiou 27 presos do Ceresp de Juiz de Fora. Na iniciativa, que acontece há pouco mais de um mês na cidade, o preso escolhe um livro e, depois de ler, faz uma apresentação que é avaliada por professores. A cada exemplar, o detento obtém redução de quatro dias na pena. De acordo com informações da Secretaria de Estado e de Defesa Social (Seds), os avaliados do Ceresp conseguiram 60% de aproveitamento nas provas escritas sobre os primeiros dois livros lidos, que foram “A última pedra”, de Rogério Formigoni, e “Kairós”, do Padre Marcelo Rossi.
Segundo nota da assessoria de comunicação da Seds, a pedagoga da unidade prisional, Daniela Lopes Ferreira, acredita que graças ao incentivo da remição de pena está sendo possível formar novos leitores. “Todos têm levado a sério a leitura, e já podemos notar o desejo por novos livros”, destaca. O juiz da Vara de Execuções Criminais da comarca, Daniel Réche da Motta, ficou tão otimista com o programa que fez uma campanha entre os servidores do Fórum para a compra de mais exemplares dos livros para que vários presos pudessem lê-los simultaneamente. A remissão de pena através da leitura ou dos estudos é autorizada pela recomendação 44 do Conselho Nacional de Justiça desde 2013.
A remição pela leitura no Ceresp serviu para trazer de volta um antigo apaixonado por livros, afastado do mundo das letras justamente pela dependência química. E., 43 anos, diz que esse passado o tornou uma exceção no meio carcerário, dominado por pessoas de baixa escolaridade. “Já fui um devorador de livros, mas a dependência do crack e da cocaína destruiu minha capacidade de concentração. Machado de Assis, Platão e Shakespeare já fizeram parte da minha vida”, conta. Por ironia, ele foi reencontrar o prazer de ler no personagem principal de “A última pedra”, um jovem dominado pelo vício.