Uma das tentativas de assassinato mais brutais já registradas em Juiz de Fora será julgada no Tribunal do Júri no próximo mês. O homem de 31 anos acusado de decepar as duas mãos de um adolescente, 13, no fim de março, na Vila Olavo Costa, Zona Sudeste, vai a júri popular, conforme decisão do juiz Paulo Tristão, proferida após audiência preliminar sobre o caso na última sexta-feira (13). Apesar de um irmão do suspeito, 23, também ter sido indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público por supostamente ter levado o facão para o outro desferir os golpes, o magistrado considerou não haver indícios suficientes de que o jovem foi quem entregou a arma branca ao executor, já que nem mesmo a vítima teria sido capaz de dizer isso. O julgamento está marcado para acontecer no dia 23 de agosto, às 12h30.
O ato violento com requintes de crueldade aconteceu no dia 27 de março na Rua Hortogamini dos Reis. O juiz acatou a denúncia do MP em relação ao acusado de arrancar as mãos do garoto e o pronunciou por tentativa de homicídio triplamente qualificada. Conforme a Promotoria, o crime foi praticado por motivo torpe, já que o homem agiu por vingança, acreditando que a vítima tinha envolvimento na morte do primo dele, Elder Luiz Diógenes Justino, 26, executado com nove tiros no interior de um bar, também na Rua Hortogamini dos Reis, três dias antes. Para o MP, o acusado impossibilitou a defesa da vítima, porque surpreendeu o garoto com o ataque quando ele estava com a perna fraturada e usando muleta. Além disso, empregou meio cruel, porque cortou os punhos do jovem, decepando as suas mãos.
O réu permanece preso no Ceresp desde o dia 3 de abril, quando foi capturado pela Polícia Civil em virtude de mandado de prisão decretada pela Justiça. A informação foi confirmada pela assessoria da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). Já em relação ao irmão, impronunciado em juízo, o Tribunal do Júri esclarece não haver impedimentos para que ele seja julgado, caso surjam novas provas com indícios suficientes da sua participação no delito.
Vítima fingiu estar morta para sobreviver
O caso foi investigado pelo delegado Rodrigo Rolli, que indiciou os dois irmãos por homicídio tentado qualificado por meio cruel. Um corte profundo sofrido pela vítima na nuca levou a crer que o criminoso pretendia também decapitá-la. Na época, o policial disse que o irmão mais novo havia negado ter levado a faca ao outro, mas testemunhas teriam confirmado a situação. Segundo as apurações, os suspeitos acreditavam que o garoto ferido teria apontado a localização de Elder, principal alvo do duplo assassinato ocorrido no dia 24 de março deste ano na Olavo Costa. O crime também tirou a vida de Washington dos Reis, 38. A sequência de delitos reforçou a existência de um ciclo de mortes em uma das regiões mais violentas da cidade.
Em entrevista à Tribuna após receber alta do hospital na época, o adolescente que perdeu as mãos lamentou as dificuldades que passou a enfrentar para atividades do dia a dia, como se alimentar e tomar banho. Ainda com faixas enroladas nas extremidades dos braços, ele revelou ter fingido estar morto no chão para sobreviver. O rapaz também apresentava cicatrizes espalhadas pela face, pescoço, braços e costas, em decorrência da ação criminosa.
A mãe da vítima, uma catadora de recicláveis, 39, lamentou profundamente o ocorrido com seu filho e contou já ter perdido para o crime os dois mais velhos, de 18 e 19 anos, assassinados no ano passado. Ela espera um futuro diferente para o caçula, 2. A tragédia familiar evidenciou a vulnerabilidade da Olavo Costa, mostrada na série de reportagens “Vidas perdidas – um raio X dos homicídios em JF”, publicada em janeiro.