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Ônibus urbanos operarão em horário de sábado em Juiz de Fora

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Ônibus já estão circulando com menos pessoas em Juiz de Fora nesta quarta (Foto: Carolina Leonel)

A frota e os horários dos veículos do transporte coletivo urbano sofrerão, a partir desta quinta-feira (19), redução de 20% nas ruas de Juiz de Fora. Os ônibus circularão em regime de quadro de horários igual ao já implementado aos sábados. Em razão da pandemia de coronavírus (Covid-19), a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) e as concessionárias Manchester e Via JF registram, ao menos desde sábado (14), queda diária de usuários. De acordo com estudo técnico da Settra, somente na segunda, o número de passageiros sofreu decréscimo de 14%. Já nesta terça-feira, de 34%. Entretanto, conforme o chefe do setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, a redução de carros pode ser prejudicial ao distanciamento social recomendado pelas autoridades em saúde.

Em entrevista à Tribuna, o secretário de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio, garante que a pasta realizará avaliações diárias sobre o quadro de ocupação do transporte coletivo urbano, isto é, medidas como novas reduções ou até a suspensão da circulação não estão descartadas posteriormente. “Em um primeiro momento, estamos propondo, a partir desta quinta, uma operação dos horários e da frota como se todos os dias fossem sábados. A forma como a frota roda no sábado vai circular a partir desta quinta-feira. Se vai ser só nesta quinta ou se, de repente, a partir de sexta ou sábado, diminuiremos mais ainda, não sabemos. Vamos medir a cada dia o que está acontecendo. (…) Podemos chegar ao nível (de suspensão) sim, mas, no momento, a situação não indica isso. Claro, se tivermos que tomar essa providência, não vai ter mais transporte. Mas não é momento disso.” A partir desta quinta, além disso, a utilização de passe livre por estudantes será bloqueada.

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Em ofício encaminhado às concessionárias nesta quarta, a Settra recomenda ainda a adoção de medidas de prevenção específicas ao Covid-19 para a higienização dos carros, recomendadas pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Saúde, conforme Facio. “A higienização dos ônibus é feita diariamente pela empresa, mas nos padrões normais de serviço. Agora, não. Há toda uma orientação diferenciada. A indicação é que façam três vezes ao dia.” A orientação é intensificar a higienização das superfície de objetos, paredes e lixeiras por meio de pulverização, limpeza ou imersão com desinfetante de cloro ou desinfetante de dióxido de carbono por 30 minutos e, depois, com água limpa.

A Associação Profissional das Empresas de Transporte de Passageiros de Juiz de Fora (Astransp), responsável por representar o Consórcio Manchester (Tusmil e GIL) e a Viação São Francisco Ltda. – uma das integrantes do Consórcio Via JF -, e a Ansal, representante das empresas restantes do Via JF, confirmaram à Tribuna a limitação de veículos e horários a partir desta quinta. Em nota, a Astransp admite que a queda já é sensível. “As empresas continuam intensificando a desinfecção dos ônibus e orientando os funcionários conforme parâmetros de precaução visando reduzir a curva de contaminação. Ainda não há recomendação no sentido de uso de equipamentos de proteção individual, exceto para equipes de limpeza.” Conforme a Ansal, além de postagens em redes sociais, foram afixados nos veículos e nas dependências das empresas materiais informativos para orientar funcionários e usuários. “A empresa está disponibilizando álcool em gel para todos os funcionários nos pontos de apoio e nas garagens da empresa de forma a proporcionar correta assepsia e higienização. Para a higienização dos coletivos, todos os dias está sendo realizado uma limpeza diferenciada, com material adequado de assepsia, e segurança aos funcionários.”

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‘A redução de veículos é um problema’

Apesar de considerar a queda do número de passageiros como útil à prevenção à Covid-19, o infectologista do Hospital Universitário Rodrigo Daniel de Souza questiona a redução do número de veículos nas ruas, uma vez que garante apenas a diminuição do custo das empresas. “Implica em um efeito colateral, pois a diminuição da locação de cada ônibus vai se perder. O esvaziamento foi a grande vantagem dos últimos dias. Sei que existe um prejuízo econômico, mas, infelizmente, foi um risco que a empresa assumiu quando assinou o contrato de concessão. Se as empresas começassem a ter uma locação muito grande, duvido que realinhariam com a Prefeitura o número de carros.” Rodrigo, inclusive, propõe a limitação de usuários por ônibus. “Seria extremamente útil, porque não adianta haver uma redução do transporte público se a empresa reduz o número de carros. Infelizmente, vai haver um prejuízo de vários segmentos. Quem tem mais possibilidades, principalmente empresas mais consolidadas, ainda têm como perder um pouco agora.”

Settra recomenda às empresas a adoção de medidas de prevenção específicas para a higienização dos carros três vezes ao dia (Foto: Fernando Priamo)

Questionado pela Tribuna se a redução da frota nas ruas não implicaria em maior aglomeração dentro dos veículos, o secretário de Transporte e Trânsito, Eduardo Facio, desconsidera a possibilidade. “Hoje, estamos andando com os ônibus praticamente vazios ou com dois, três passageiros. O que vamos fazer é que, em vez de os ônibus andarem com três passageiros, os veículos passem a andar com quinze pessoas, o que não chega a ser uma aglomeração tão grande. Temos, inclusive, ônibus andando completamente vazios. O que sabemos que não vai acontecer é os ônibus lotados, porque, desde segunda-feira, eles não estão lotados. Estamos medindo para que, justamente, as aglomerações não aconteçam.”

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De acordo com Rodrigo, qualquer redução do número de passageiros nos ônibus já será útil para evitar a propagação da Covid-19. “Além de ser menos pessoas dentro do transporte, serão menos pessoas nas ruas circulando e fazendo aglomerações em outros pontos. Mas, mesmo assim, acho que há ainda alguns deslocamentos sendo feitos desnecessariamente. Alguns entregadores vão ter que avaliar a possibilidade do trabalho remoto. Alguns já aderiram a isso. Pessoas que trabalham só com computador na sede da empresa talvez possam fazer isso na própria casa e ainda manter o controle de produção da empresa em casa (…) e, com isso, reduzir a mobilidade para no final conseguirmos o distanciamento social tão indicado nesta época.”

Empresas podem ser obrigados a disponibilizar álcool em gel

Embora tenha recomendado às concessionárias a adoção de álcool em gel nos veículos para utilização dos passageiros, Facio diz ser inviável às empresas em razão da quantidade a ser disponibilizada. “Temos 600 carros na frota. Disponibilizar uma dispensa de álcool em gel na entrada e outra na saída, seriam 1.200 dispensas, utilizadas diariamente, o que é uma quantidade muito grande e inacessível para qualquer um. Não é possível adquirir tanto álcool em gel assim. O que exigimos das empresas é a higienização desses ônibus pelo menos três vezes ao dia. E isso as empresas já vêm fazendo, estamos fiscalizando e temos comprovação de que a higienização está sendo feita com produtos específicos que foram indicados pela Secretaria de Saúde. Nós passamos, inclusive, um ofício indicando qual é o produto, a diluição correta e a forma de utilização para todos os dois consórcios.”

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Em tramitação na Câmara desde a última terça-feira (17), um projeto de lei, de autoria do vereador Cido Reis (PSB), visa a fazer com que as empresas concessionárias instalem “dispensadores de álcool em gel, abastecidos, no interior dos veículos”. Caso se torne legislação municipal, a proposta de Cido prevê que, nas situações em que houver desrespeito à determinação em algum dos veículos, as empresas estariam sujeitas a advertência; multa de R$ 5 mil na primeira reincidência; R$ 10 mil na segunda; e R$ 15 mil a partir da terceira reincidência. Cido defende ainda que as despesas decorrentes da aplicação das multas serão de responsabilidade das empresas concessionárias, “excluídas as possibilidades de reembolso por parte do Executivo ou de repasse dos valores aos usuários desse serviço”.

Como agir no ônibus

Conforme o infectologista do HU-UFJF, sempre após tocar em alguma superfície dos ônibus, os passageiros têm que fazer a higienização com álcool em gel. “Ao entrar no ônibus, o usuário vai tocar alguma superfície, como corrimãos ou balaústres, e depois vai ter que fazer a higienização. Temos que contar que as superfícies podem estar contaminadas. Não podemos contar que elas tenham sido recentemente higienizadas. Com certeza, fazer uma limpeza dessas superfícies com o produto que foi indicado por três vezes ao dia vai ajudar no controle, mas não vai garantir que ela esteja limpa.”

Para Rodrigo, as atitudes de higienização dos passageiros dependem diretamente de ônibus vazios e atitudes das próprias empresas. “Se a empresa limitar a lotação de cada coletivo, permitindo que haja uma distância de dois metros entre cada passageiro, a disponibilização de álcool em gel dentro do transporte e a desinfecção já ajuda bastante.”

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