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Abandonados há vários anos, prédios históricos não têm destinação certa

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Prédio da TV Industrial, no Morro do Imperador, tem inestimável valor histórico e é objeto de estudo da Prefeitura para um projeto de revitalização do ponto turístico (Foto: Felipe Couri) como um todo

As memórias de uma cidade conhecida em seus tempos áureos pelo título de Manchester Mineira ainda perduram no imaginário de diversos juiz-foranos dos mais variados bairros e regiões. Seja por meio da beleza dos painéis de Portinari, no Edifício Clube Juiz de Fora, ou do emblemático Cine-Theatro Central, no Calçadão da Rua Halfeld, as histórias arquitetônicas, culturais e sociais de tempos passados ainda esbarram no cotidiano de muitos moradores do município. Entretanto, as mesmas lembranças dos tempos passados também se tornam melancólicas em algumas situações, diante do péssimo estado de conservação de muitos edifícios que, mesmo com altíssimo valor histórico e sendo tombados pelo patrimônio histórico, seguem abandonados, à mercê do mesmo tempo que os fez únicos.

O caso mais emblemático, mas que talvez não esteja sob a mira dos olhos da maioria dos cidadãos, é o do prédio que abrigou a sede da antiga TV Industrial. Fechado há mais de 40 anos, o edifício, que em seu lançamento foi considerado um dos mais expressivos ícones da arquitetura moderna do país, de acordo com o historiador Roberto Dilly, não tem nenhum uso desde que as operações da geradora foram extintas, no final da década de 1970. “Ele foi construído no alto do Morro do Cristo justamente pela necessidade de que a emissora estivesse próxima ao local onde as antenas de transmissão estavam instaladas. Além disso, o local foi pioneiro por contar com a primeira torre helicoidal do país. Depois da desativação da emissora, a torre, que funcionava como uma excelente antena, foi demolida, sob a justificativa de que a mesma ameaçaria a segurança da estrutura do imóvel. Da mesma forma, assim como sua própria construção, que foi considerada revolucionária na época, a TV Industrial foi de extrema importância para a cidade justamente por ter todo seu conteúdo gerado em estúdios dentro daquele imóvel”, analisa.

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A construção do edifício, que, acima do abandono visível, ainda chama atenção dos turistas que passam pelo local, aconteceu em 1964, em um terreno cedido pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para a então “Organização Sérgio Mendes”, proprietária da TV que se consagrou por ser a primeira emissora televisiva do interior do país. Após 40 anos de sua extinção, o prédio, que impressiona pelas diversas janelas jateadas em azul claro, foi tombado em 2019 pelo patrimônio histórico municipal. A medida, que teoricamente salvaguarda o imóvel de possíveis demolições ou alterações intempestivas, não chega a ser suficiente para preservar toda a história por trás das vigas de concreto e aço que ainda perduram no local.

‘Museu da Imprensa’

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Diversos projetos já foram oferecidos ao Executivo municipal em gestões passadas para a ocupação do local. Entretanto, de acordo com Dilly, nunca houve interesse por parte da PJF em restaurar o edifício em questão. “Nós já propomos a criação de um Museu da Imprensa, ou até mesmo de um museu da própria TV Industrial no local. Ao lado do incrível jornalista Wilson Cid, que por si só já é uma grande figura na história do jornalismo juiz-forano, já realizamos até o projeto museológico para o edifício, assim como também dispomos de um pequeno, mas valioso acervo que poderia ser exposto no local. Por exemplo, muitos não sabem, mas a câmera e antena de transmissão feitas no final dos anos de 1940 pelo Olavo Bastos Freire, que foi responsável pela primeira transmissão de imagens em movimento em circuito aberto no Brasil, integram o acervo da Funalfa, mas não estão em exibição pública. Ter esse museu, além de ser muito significativo para o ramo, valorizaria e muito o próprio turismo no Morro do Cristo”, avalia o historiador.

Questionada pela reportagem, a PJF confirmou a propriedade do edíficio que sediou anteriormente a TV Industrial e alegou que, tendo em vista a grande importância histórica e cultural do local, a Prefeitura criou um grupo de trabalho com diversas secretarias para construir uma solução para revitalização plena do Morro do Cristo, e que um escritório técnico já está sendo contratado para o desenvolvimento de projetos executivos de arquitetura, urbanismo e engenharia para a revitalização do local. O Executivo municipal ainda informou que a licitação para a realização deste projeto está na fase final de composição.

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Prédio que sediava o PAM-Andradas está vazio há quatro anos

Prédio onde funcionava o PAM-Andradas pertence ao Governo federal, e ainda não se sabe qual destino será dado ao imóvel (Foto: Felipe Couri)

Anteriormente ocupado pelo PAM-Andradas, o edifício histórico localizado na Avenida dos Andradas impressiona aos transeuntes que passam pelo local por sua fachada imponente e por sua arquitetura única. Entretanto, desde a desativação da unidade de saúde, em 2018, o prédio em questão encontra-se desocupado. A atual situação do imóvel, que é vizinho de diversos estabelecimentos comerciais, ainda é considerada razoável por alguns moradores da redondeza, diante do estado de extremo abandono que o mesmo se encontrava logo após a desocupação. Proprietário de um hortifruti na loja vizinha ao imóvel abandonado, Belarmino da Silva relatou à reportagem que, desde que chegou ao imóvel, em dezembro de 2021, sempre tomou todos os cuidados possíveis para manter o local minimamente limpo e em segurança.

“A situação do prédio agora está bem melhor do que antes. Quando eu cheguei aqui, tinha muita sujeita e algumas pessoas em situação de rua estavam vivendo dentro do imóvel. Chegou a um ponto que, em abril do ano passado, vários comerciantes da região, que estavam sendo afetados diretamente por essa questão, se juntaram em um mutirão comunitário para realizar a limpeza do local”, relata o comerciante, que também revelou que a questão da segurança nas redondezas, devido ao abandono do edifício, ainda é um tópico que preocupa bastante. “Dois meses depois de eu chegar aqui, houve vários furtos em estabelecimentos próximos. Eu mesmo tive que comprar câmeras de segurança para colocar aqui na loja, diante desta situação”, disse Silva. No final de 2021, a Tribuna mostrou que cerca de 150 crianças ficaram sem atendimento após criminosos invadirem um centro educacional localizado ao lado do prédio abandonado.

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O imóvel, que é de propriedade da União, esteve cedido à PJF por mais de 30 anos para ser utilizado como um estabelecimento de saúde primária. Em relato à reportagem, o comerciante apontou que presenciou, há alguns meses, a visita de funcionários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e de militares do Exército Brasileiro no local. “Aparentemente, eles fizeram uma visita técnica para avaliar a ocupação do imóvel, mas desde o final do ano passado não percebemos mais nenhum movimento neste sentido”, afirmou. Questionada pela Tribuna, a UFJF confirmou que, assim como outras instituições federais da cidade, foi consultada sobre o possível interesse na ocupação do imóvel. Da mesma maneira, a Universidade também apontou que ainda existem análises no sentido de determinar se a instituição irá assumir ou não a administração do edifício.

O Exército também foi demandado sobre uma possível ocupação do edifício abandonado. Entretanto, até o fechamento desta matéria, não houve retorno por parte do órgão. Questionada sobre qual seria a atual situação do prédio, a Prefeitura alegou que a zeladoria do espaço é do Governo federal e que, tão logo que a nova gestão finalize a organização da pasta que administra os bens federais, poderá ser analisada alguma alternativa para o local.

Prédio que abrigava SRE vira abrigo para pessoas em situação de rua

Prédio que sediou a Superintendência Regional de Ensino em Juiz de Fora foi parcialmente destruído por um incêndio em dezembro de 2022 (Foto: Felipe Couri)

Desocupado desde 2009, o prédio que um dia já foi sede da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, na Rua Mariano Procópio, bairro homônimo, vem preocupando os moradores da região. Pessoas em situação de rua costumam se abrigar rotineiramente no local. O edifício, que é tombado e de propriedade do Governo estadual, sofreu um incêndio em alguns de seus cômodos em dezembro do ano passado.

Há alguns anos, antes do fechamento definitivo da Escola Estadual Estêvão de Oliveira, que ficou anos sem sede própria e teve suas atividades encerradas em 2021, a Tribuna mostrou que existiam diversas tratativas para que a mesma pudesse ocupar o prédio histórico. Desde então, de acordo com a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), estão sendo realizadas tratativas para a destinação e restauração do prédio. O órgão estadual também informou à reportagem que acompanha de perto a situação do imóvel, e que diante do incêndio ocorrido recentemente, a SEE acionou a Defesa Civil municipal para a avaliar a estrutura do edifício, que é considerada estável até o presente momento.

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