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A praça é nossa

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“Com esse calor, não dá pra ficar em casa”. Quem sai de casa à procura de “uma fresca” depois que o sol baixa e as temperaturas ficam um pouco mais amenas certamente já ouviu ou repetiu a máxima. Como muitas cidades do país, Juiz de Fora tem batido recorde de temperatura para janeiro, chegando a 33,7°C, marco alcançado no dia 21 de janeiro, que bateu os 33°C registrados em janeiro de 1987. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média das máximas está 5,1 graus acima do normal, que é de que são 25,9°C. Para fugir do calor ou do refresco artificial providenciado por ventiladores e ares-condicionados, o juiz-forano tem recorrido com frequência às praças da cidade e ao bom e velho bate-papo na calçada, ocupando espaços públicos tradicionais e dando novas funções a outros.

Criançada joga peteca em Santa Terezinha

Dentre as novidades estão dois pontos que não negam a máxima mineira de que “se não tem mar, vamos para o bar’: a Praça Professor Benjamin Colucci, em Santa Terezinha; e a Praça Coronel Aprígio Ribeiro, em Paineiras, na Avenida Olegário Maciel. Em ambas, bares que circundam o espaço dispõem suas mesas nas praças, como ocorre no tradicionalíssimo Bar du Leo, que há mais de 50 anos ocupa e preserva a Praça Ministrinho, no Jardim Glória. Para a aposentada Maria José de Souza, moradora de Santa Terezinha, a praça situada bem próximo à paróquia do bairro tornou-se um programa ideal para o fim de tarde. “Meus netos vêm me visitar e tudo se torna passeio, e é uma alternativa ao lazer dos shoppings ou mesmo dos computadores e videogames”, diz ela que, junto das filhas Janaína e Ludmila à sombra de uma árvore, acompanha o jogo de peteca das crianças, Ludmila e Pedro, e vê o movimento do local, que tem amigos brindando no bar, pequenos se divertindo no pula-pula e disputados carrinhos de pipoca.

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‘Happy hour’ no Paineiras

Em Paineiras, o movimento intenso dos carros contrasta com o de quem se senta à praça para fazer um happy hour, opção que moradores da região, como a professora Valéria Gentil, têm comemorado. “É muito melhor a praça estar ocupada, movimentada e preservada do que deserta e abandonada, deu outra vida à região”, opina ela, que divide a mesa com um casal de amigos e seus filhos pré-adolescentes. “É um programa que agrada todo mundo”, diz o pai, o analista de sistemas Alberto Ferreira.

Na pioneira das praças com boteco, no Jardim Glória, o professor José Guilherme Borges, que mora em Juiz de Fora há três meses, encontrou o espaço ideal para a pequena Valentina, 2, brincar no verão. “Morávamos em uma casa no Sul, e ela sentia falta de espaço aberto quando viemos para um apartamento. Aqui ela se acha! Pode correr, brincar, andar descalça e fica louca com os miquinhos”, conta o pai, enquanto degusta -surpreendentemente- um chimarrão quente, mantendo sua tradição.

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A poucos metros dali, um grupo de amigos brinda o aniversário de duas das presentes. “É uma pena que nem todas as praças sejam ocupadas como esta, deveria haver mais atrações e mais parcerias público-privadas que permitissem o aproveitamento dos espaços como acontece aqui. É um programa para qualquer idade”, opina a agropecuarista Ana Elisa Lima.

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Espaço ‘particular’
Atravessando o asfalto na Praça Ministrinho na altura da Rua da Abolição, a Travessa Amaury Cavalcanti Albuquerque parece quase escondida, e uma moradora antiga, Maria Inácia Delgado, de 90 anos, refresca-se à porta de sua casa, um dos imóveis da pequena vila formada ali. “Moro aqui há 25 anos e nunca vi calor como esse. Sempre tive hábito de sentar-me à porta de casa e conversar com a família e os vizinhos, mas ultimamente é quase obrigatório, porque dentro de casa está muito quente”, brinca ela.

Pertinho dali, a Praça Tenente Mauro Miranda Vieira é quase um paraíso particular dos moradores, com sombras de árvores e banquinhos ocupados com frequência pelo casal Antônio (75) e Maria do Carmo Vieira (70) e o vizinho Laurindo Mendes Pereira (73). “Levamos cadeiras, lanchinhos e até uma cervejinha. Perdemos a hora de vista, muitas vezes voltamos para casa depois de meia-noite! E bom mesmo é quando o Laurindo faz um som”, conta Maria do Carmo sobre o amigo, que toca percussão e puxa repertórios que vão do samba de raiz aos boleros, passando por clássicos do rádio. “Agora é que está bom de fazer festa de novo”, anuncia Laurindo.

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Apesar do movimento, falta segurança e infraestrutura

Stela se diverte no pula-pula

Em outro canto da cidade, no Manoel Honório, a Praça Alfredo Lage também é um ponto de encontro depois que os termômetros dão uma trégua. Com bares, sorveterias, açaiterias e carrinhos de pipoca, hambúrguer e churrasquinho, entre outras iguarias clássicas da comida de rua, além do disputadíssimo pula-pula, o local reúne juiz-foranos de todas as idades e perfis. “Nem moro aqui no bairro, mas gosto de vir aqui com ela porque tem um clima bem ‘família’, parece uma praça de interior. Ela faz amiguinhos e eu também acabo conversando com as mães, conhecendo as pessoas e fugindo do calor”, diz a contadora Ana Carla Monteiro, enquanto observa as estripulias de Stela, 2, no pula-pula.

“Pelada” de basquete no São Mateus

No São Mateus, Zona Sul, depois que o sol baixa, a tradicional pelada não é de futebol, mas de basquete. Há seis anos, um grupo de amigos começou a frequentar a quadra, que no verão é disputada por outras modalidades de esporte, por crianças e por quem passeia com animais de estimação. “O ruim é que muitos deixam a quadra suja, e nós é que acabamos limpando”, reclama o advogado Arhtur Melandre, “Tucão”, apresentado pelos colegas de time como o “presidente” da pelada, que tinha quatro times se revezando quando a Tribuna esteve na praça. “Jogamos três vezes por semana religiosamente, mas no verão está bem mais cheio. O ruim é que falta infraestrutura. Não tem banheiro, não tem uma torneira com água, nada”, diz ele, que logo volta ao jogo.

Se a Praça do Bom Pastor (originalmente Praça Presidente Médici) homenageia um dos representantes de chumbo, o clima que predomina nos fins de tarde de verão é a leveza. O local reúne praticantes de várias modalidades de atividade física, crianças e chama atenção por ser o point de quem possui cachorros. Sob supervisão de seus donos, os animais correm e brincam soltos, convivendo harmonicamente com quem, como eles, está na praça para se divertir. “Em outras praças, não há um espaço para que eles fiquem sem a guia, as pessoas pedem para prender. Aqui eles podem correr à vontade, tem menos risco de eles irem para a rua porque a praça é grande, e como já virou referência para trazer cães, as outras pessoas não reclamam”, diz a professora Edliza Oliveira, que fez amizade com a farmacêutica Lívia Hallack quando seus “filhos”, os beagles Locke e Filomena, também se tornaram parceiros de praça.

No time dos cães maiores, o golden retriever Sheldon e o mestiço de labrador Zeus chamam atenção. “Não sei quem se diverte mais, ele ou eu”, diz o programador Jean Braga, dono de Zeus. “É uma paz ter um lugar assim neste calor tão estressante”, opina o policial Dener Fernandes, que trocou o escaldante Rio de Janeiro por Juiz de Fora há sete meses. Com a família inteira, a pedagoga Luciana Lawall tem saído de São Mateus, onde mora, para aproveitar as diversas opções de lazer na praça do Bom Pastor. “É muito melhor que a do São Mateus. Aqui eu passeio com o cachorro, meu filho anda de bicicleta, meu marido caminha,é um ótimo programa de férias de verão.”

José Onofre com as sobrinhas-netas em Benfica

Em outro extremo da cidade, a Praça Jeremias Garcia, em Benfica, Zona Norte, também tem ficado lotada, com crianças se divertindo no parquinho, marmanjos jogando bola na quadra e outros malhando nos aparelhos públicos de musculação. Há gente conversando fiado, pessoas comendo milho, pipoca ou tomando picolé, e amigos tomando uma cerveja gelada nos bares do entorno. E há muitas famílias, como a do militar aposentado José Onofre (67), que tem levado as sobrinhas-netas Yasmin e Emily (que moram em Ipatinga e vieram visitá-lo) quase diariamente para brincar. “O movimento aumentou muito e a praça está muito mais movimentada agora no verão, o que é ótimo para nós, porque normalmente é um ponto muito deserto. Mesmo assim, acho que deveria ter um policiamento mais reforçado, não arrisco ficar aqui até tarde da noite, acho inseguro”, opina ele, morador do Bairro Araújo, também na Zona Norte.

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