Não é difícil notar como a Rua São Mateus, principal via do bairro homônimo, na Zona Sul, está a cada dia mais colorida. Entretanto, as manifestações não são iniciativas autorizadas, tampouco aprovadas por quem mora ou tem comércio no local. Conforme levantamento feito pela Tribuna na última semana, a cada 20 metros há uma pichação estampada em algum muro, parede ou portão de imóveis da rua. Ao longo de seu 1,4 quilômetro de extensão, são mais de 76 edificações. A realidade, não exclusiva da rua, conforme vem sendo apontado pela Tribuna, demonstra uma Juiz de Fora cada vez mais suja e refém dos grupos de pichadores, que pouca investigação policial recebem.
Entre os imóveis afetados na São Mateus estão a Escola Estadual Fernando Lobo, o Colégio São Mateus, o Centro Cultural Pró-Música, a Fundação Espírita João de Freitas, um prédio da Settra, além de inúmeras residências, prédios, lojas, orelhão, banca de jornal, entre outros. A Galeria Dirceu de Andrade está com a sua entrada totalmente pichada, e a esquina com a Rua Pedro Scapim também está completamente tomada pelos rabiscos. O orelhão que não foi poupado fica, inclusive, ao lado do posto da Polícia Militar.
O titular da delegacia da Zona Sul, Eurico da Cunha, diz que as investigações acontecem constantemente mas, por se tratar de um crime que ocorre de madrugada, a dependência da ação preventiva da PM é maior. “Quando a demanda chega até nós, encaminhamos à Justiça. Atuamos em todos aqueles casos que tomamos conhecimento.” Entretanto, segundo o delegado, não há nenhum crime desta natureza sendo investigado atualmente. A PM não respondeu à Tribuna até o fechamento desta edição.
Autoafirmação
Para o professor em psicologia social da UFJF Lélio Lourenço, as pichações denotam uma busca por reconhecimento e autoafirmação. “Existem aqueles que se fantasiam, colocam máscaras e são integrantes de uma gangue que promove a pichação. Eles demonstram uma linguagem que não é acessível ao cidadão comum, mas que representa algo para eles. Há também os que tendem ao artístico, e tornam-se até grafiteiros no futuro.”
Conforme Lélio, a onda de pichação está mais constante na cidade atualmente. “Este tipo de atitude precisa ser monitorada. São jovens que não tem muito claro o limite entre pichar e se arriscar, já que muitos sobem em prédios altos e colocam a vida em risco. São adolescentes que danificam a cidade, sujam. Talvez seja o caso de criar um festival e unir pessoas ligadas à cultura para levá-los a realizarem as pichações em paredes de locais velhos, feios e onde seja permitido. Incentivando o talento artístico, diferencia-se o pichador do grafiteiro, que poderá ser útil para a cidade”, sugere.
Prédio é pintado três vezes em uma semana
[Relaciondas_post] No início do mês, a Tribuna mostrou a situação da Rua Santo Antônio, Centro, também tomada por pichações que atingiram, inclusive, a Catedral Metropolitana. Nessa via, um prédio, na esquina com a Rua Fernando Lobo, entrou em “guerra” com os pichadores nos últimos dias. O imóvel estava tomado pelos rabiscos há meses e, na quarta-feira passada, foi pintado. Entretanto, na madrugada do dia seguinte, as paredes foram novamente pichadas. O síndico, aproveitando a tinta que ainda havia, pediu que o prédio fosse pintado de novo, na sexta. Contudo, dois dias depois, mais uma vez o imóvel amanheceu vandalizado. Nessa segunda, o condomínio, pela terceira vez em menos de uma semana, pintou aquela mesma parede.
O síndico e morador do prédio, Jomar Noronha, classificou o episódio como de extrema humilhação. “Me senti impotente, agredido e assaltado, como se tivessem me tirado o pé de apoio. Nós não pedimos dinheiro dos moradores para fazer o trabalho. Economizamos para poder oferecer um aspecto melhor para o prédio nesta virada de ano, e fomos desrespeitados desta forma”, disse, revoltado. “São pessoas de baixo espírito que precisam urgentemente de educação. Precisamos de leis e atitudes das autoridades públicas que façam alguma coisa por nós. É um problema social gravíssimo”, conclui.