Uma batida frontal entre dois ônibus urbanos que fazem a linha UFJF deixou mais de 20 pessoas feridas, incluindo os dois motoristas, um cobrador e vários passageiros, no início da tarde desta quarta-feira (17), na Rua José Lourenço Kelmer, no trecho estreito que corta o Bairro Serro Azul, na Cidade Alta, em Juiz de Fora. Os dois condutores dos coletivos foram os mais atingidos pelo choque, que estilhaçou os para-brisas de ambos os veículos. Eles ficaram presos às ferragens e precisaram ser desencarcerados pelo Corpo de Bombeiros durante um trabalho minucioso, de cerca de meia hora. Um deles foi resgatado com fratura completa do braço direito. Pelo menos 18 passageiros sofreram traumas ou escoriações e foram socorridos por ambulâncias do Samu e do Resgate para atendimento médico. Entre eles estão uma criança de 1 ano, atingida por estilhaços, e um idoso, 71. Outra dezena de usuários do transporte coletivo que não apresentava lesões aparentes continuou aguardando no local por alguma avaliação e registro do boletim de ocorrência, enquanto o trânsito ficou fechado nos dois sentidos por mais de quatro horas, sendo controlado por agentes da Settra.
A quantidade de viaturas de socorro entrelaçadas na via estreita, em meio a macas e feridos, e os danos causados nos ônibus deram uma dimensão do acidente, ocorrido sobre pista molhada e próximo a pequenas pontes. Apesar de ninguém ter se machucado com gravidade, passageiros contaram os momentos de pânico vividos nos segundos iniciais após a batida. Temendo uma explosão, alguns chegaram a quebrar vidro e arrombar a porta traseira para deixar o coletivo. Também houve relatos sobre duas mães com bebês de colo que chegaram a se desesperar com o impacto, embora as crianças não tenham sofrido lesões graves. As causas do acidente ainda não foram esclarecidas, mas a suspeita é de que um dos veículos teria desviado de uma carrocinha de cocadas, conduzida às margens da via, e invadiu parte da mão contrária, mas acabou sendo surpreendido pelo outro coletivo, o qual trafegava na direção oposta.
Um dos ônibus, pertencente ao Consórcio Via JF, fazia a linha 755 (Zona Norte/UFJF) e transitava sentido Centro/São Pedro. O outro coletivo, do Consórcio Manchester, é da linha 525 (Universidade), e seguia em direção ao Centro. Segundo a assessoria do Samu, 13 pessoas foram atendidas pelo serviço. Além do idoso e da criança, que foram conduzidos ao HPS, estão entre as vítimas um jovem de 18 anos, com fratura em dedo médio, e um homem, 44, com fratura fechada no punho e escoriações nos joelhos. Ambos foram encaminhados ao Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ). Já para a UPA de São Pedro foram levados dois jovens de 20 anos, sendo um rapaz com escoriações, e uma mulher com dor na cabeça. Outra jovem, 22, atendida no HPS, apresentava traumatismo craniano leve e dor no joelho, sem sinais aparentes de fratura. Um homem, 33, e uma mulher, 22, foram levados para a UPA Norte, e duas pessoas foram medicadas no local do acidente. Mais duas vítimas não tiveram seus destinos informados.
De acordo com a assessoria do Corpo de Bombeiros, oito vítimas foram conduzidas pelo Resgate ao HPS. Entre elas estão uma mulher com um filho, de idades não informadas. As outras seis pessoas transportadas pelo Resgate também estavam estáveis. Ainda conforme a corporação, o condutor da linha 525, que sofreu fratura completa de membro superior direito, estava consciente e orientado quando foi retirado das ferragens. Já o motorista da linha 755, não apresentava lesões aparentes, apesar de ter ficado encarcerado.
Conforme a assessoria do HMTJ, o motorista e o cobrador da linha 525 (Tusmil) passam bem. O trocador sofreu ferimentos leves, e o condutor, que quebrou o braço, ficou sob avaliação da ortopedia e deve passar por cirurgia.
A perícia da Polícia Civil esteve no local para realizar os levantamentos de praxe e recolheu os tacógrafos dos dois veículos. As câmeras internas dos coletivos também poderão ajudar na confirmação das causas do acidente.
Desespero dentro e fora dos ônibus
O ônibus da linha 755 que seguia em direção à UFJF estava repleto de passageiros, e a maioria deles seguia da Zona Norte para a universidade, seja para assistir aulas ou para trabalhar. Mas o desespero não tomou conta apenas de quem vivenciou o choque repentino e frontal. A moradora do Bairro São Francisco de Paula, Maria das Dores de Oliveira, 53 anos, chegou trêmula ao local, ao lado do marido, após saber que sua filha, a estudante de Direito Bruna de Oliveira Pereira, 20, estava entre as vítimas. “Ela bateu a cabeça e perdeu os óculos. Estava indo para a faculdade e me ligou muito nervosa. Viemos correndo.” Por estar relativamente bem, a jovem foi uma das últimas a ser encaminhada para atendimento médico e, segundo o Samu, foi levada para a UPA de São Pedro com dor na cabeça. “A pista estava molhada, e parece que o ônibus derrapou. Bati com a cabeça no vidro da parte de trás (perto da porta). A moça que estava do meu lado cortou a boca, e algumas pessoas ficaram com falta de ar.”
O aluno Carlos Henrique da Silva, 20, estava indo para a Faculdade de Engenharia. Ele sofreu um arranhão no braço e, mesmo assim, ajudou a socorrer os feridos. “Saí do Nova Era. Pego essa linha há quase três anos, e é muito comum o motorista desviar de alguma coisa nesse trecho. Infelizmente, desta vez veio outro ônibus.” Ele presenciou o susto passado por duas mães com seus bebês. “Elas estavam no banco da frente e ficaram muito nervosas. Mas todos foram socorridos muito rapidamente. Uma ambulância do HU (Hospital Universitário) estava descendo e fez os primeiros atendimentos no local.” Ainda segundo ele, o coletivo estava com a capacidade de usuários sentados completa, e ainda havia de dez a 15 passageiros em pé.
“De início, houve pânico, mas depois as pessoas foram se tranquilizando. Quem estava na frente sofreu mais. Alguns senhores bateram a cabeça e arranharam o rosto. Os que estavam melhores ficaram aguardando para serem socorridos depois.”
A copeira Solimar Cristiane, 33, deixou sua casa, no São Judas Tadeu, para trabalhar na UFJF. Ainda visivelmente abalada mais de uma hora depois do acidente, com dores no peito e na garganta, ela disse que tudo aconteceu em questão de segundos. “Depois da batida ficou fazendo um barulho no veículo. Achamos que iria explodir o ônibus, e o pessoal ficou gritando. Eu e mais dois rapazes quebramos um vidro e saímos pela porta de trás.”
Carroça de cocada
A cobradora da linha 755, Wilma da Costa, 53, descreveu os momentos que antecederam o choque. “Tinha uma carroça com um vendedor de cocada no meio da pista. O motorista desviou, mas, de repente, apareceu outro ônibus. Aí eles bateram. Só isso que eu vi.” Ela também ajudou a socorrer as vítimas. “Fiz o meu possível, mas graças a Deus não houve nada grave. As mães seguraram as crianças, e elas não chegaram a ir ao solo.”
O tenente do Corpo de Bombeiros Marcos Maurício foi um dos primeiros a chegar ao local. “Foi uma colisão entre os dois veículos de frente, e os motoristas ficaram presos nas ferragens. Usamos o desencarcerador para retirá-los. Demoramos, aproximadamente, 30 minutos para resgatar as duas vítimas.” De acordo com ele, cerca de 15 bombeiros foram mobilizados.
O policial militar responsável pela ocorrência, sargento Anderson Januário, disse que o coletivo com destino à UFJF estava mais cheio. “Temos que fazer um rescaldo para saber quem são as vítimas e onde elas foram internadas, e obter os relatos dos dois condutores. Qualificamos também as vítimas que estavam no local com ferimentos leves, mas não foram para hospitais.”
Choque complica trânsito já saturado na Cidade Alta
O choque entre os dois ônibus na Rua José Lourenço Kelmer, no trecho entre a Estrada Engenheiro Gentil Forn e a UFJF, complicou ainda mais o tráfego já saturado nas vias de acesso à universidade. Às vésperas do feriado da Semana Santa, a interrupção no trânsito da via causou congestionamentos desde a subida da Avenida Presidente Itamar Franco, passando pelo Campus da UFJF, causando reflexos ainda mais intensos na Cidade Alta. Quem seguia do São Pedro em direção ao Centro já era orientado por agentes da Settra a desviar na rotatória de acesso ao Bairro Jardim Casablanca para o Borboleta. Os motoristas que tentavam chegar à universidade, por exemplo, vindos da região central, conseguiam mudar a rota por dentro do Bairro Serro Azul, mas as vias estreitas logo ficaram abarrotadas e lentas. Por volta das 16h30, o trânsito foi liberado no sentido Centro/São Pedro, mas na direção oposta continuou sendo feito desvio pelo Serro Azul até as 17h, quando o tráfego voltou a fluir em ambos os sentidos no trecho do acidente.
Em nota, o Consórcio Via JF, responsável pelo ônibus da linha 755 (Ansal), lamentou o ocorrido e esclareceu que a manutenção do veículo está em dia. “As causas do acidente estão sendo investigadas, e o consórcio está prestando toda assistência necessária para os feridos.”
Já o Consórcio Manchester, que responde pela linha 525 (Tusmil), informou que o ônibus da empresa seguia na pista em direção ao Centro, quando foi surpreendido pelo outro coletivo na contramão, não tendo condições de evitar a colisão. “A empresa tomou as atividades de praxe quanto a ajudar a levantar fatos para investigar as causas e no apoio às vítimas.”