Atualizada às 19h04
Capitaneados pelo braço regional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), manifestantes realizaram ato na BR-040 na manhã desta segunda-feira (17). Durante a ação, o grupo tomou a praça de pedágio localizada no quilômetro 816 da rodovia, próximo ao município de Simão Pereira e liberaram uma cancela em cada sentido da via para a passagem de veículos sem a cobrança da tarifa vigente. Segundo organizadores, o protesto marca posição contrária às propostas do Governo federal sobre as reformas trabalhista e da Previdência e a medida provisória (MP) que revê regras para reforma agrária, também apresentada pela gestão do presidente Michel Temer (PMDB).
O ato também integrou agenda nacional do Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, que tenta pressionar o Governo federal a cumprir metas para a desapropriação de terras consideradas improdutivas, além de fazer alusão aos 21 anos do caso que ficou conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Desta forma, atos similares foram registrados em várias cidades e capitais do país, como Teresina, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre. No interior de São Paulo, há registro de nova ocupação em terras reivindicadas pelos sem-terra, próximas ao município de Borebi.
Segundo representantes dos sem-terra, o ato regional teve início por volta das 6h, quando os manifestantes chegaram ao local em ônibus e carros. Mascarados, eles retiraram os funcionários das cabines, cercaram a praça de pedágio e liberaram as cancelas, uma em cada sentido da rodovia. Uma grande faixa com os dizeres “Exigimos o assentamento imediato das mais de 5.000 famílias acampadas em MG” foi colocada em frente a duas cabines.
Conforme a Concer, concessionária responsável pela administração do trecho e pela cobrança da tarifa de pedágio, não houve depredação nem atos de violência. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que a ação foi encerrada às 9h25. Segundo o MST, o ato contou com a adesão de outros movimentos sociais, como o Levante Popular da Juventude e a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos) e até 200 manifestantes teriam participado da mobilização. Já a PRF informou que 80 pessoas integraram a mobilização.”Abrimos o pedágio às 6h, liberamos uma pista para lá e outra para cá. Os carros estão passando de graça. Pedimos para os trabalhadores irem para casa, não danificamos nada. Então é uma atividade bem pacífica de diálogo com a sociedade, para a gente dialogar sobre essas questões do governo golpista e chamar para a greve geral do dia 28 (movimentos sindicais e sociais estão convocando um grande protesto para a data contra as propostas do Governo federal)”, avaliou Tatiana Gomes, membro da coordenação regional do MST na Zona da Mata.
Por outro lado, André Marinho, chefe de equipe da PRF, afirmou que os policiais atuaram como mediadores. “Eles liberaram a passagem dos veículos pela cabine sem pagamento e estavam aguardando a chegada da imprensa, assim como também tamparam as câmeras de filmagem da praça de pedágio. Estamos aqui para mediar isso e liberar a pista o quanto antes”, disse, antes da liberação da via.
Massacre do Eldorado dos Carajás
O 17 de abril não foi escolhido ao acaso para a manifestação. Na mesma data, em 1996, 19 trabalhadores rurais sem terra foram mortos por policiais militares em episódio que ficou mundialmente conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no sudeste do Pará. Na ocasião, integrantes do MST faziam uma caminhada até Belém, capital do Estado, quando foram impedidos de prosseguir.
Os relatos apontam que mais de 150 policiais armados de fuzis e sem identificação nas fardas atuaram de forma repressiva e violenta, resultando na morte dos sem-terra. Pela sua conta no Facebook, a deputada federal Margarida Salomão (PT) destacou que as mobilizações reforçam a disposição de luta dos grupos que estão convocando uma greve geral para o próximo dia 28. “É isto que precisamos fazer para repactuar a sociedade e restabelecer a democracia no país.”