Com as chuvas das últimas semanas e as altas temperaturas, condições propícias para a proliferação do Aedes aegypti, Juiz de Fora já tem registrado ocorrência da dengue em 2023. Até a última terça-feira (14), foram 58 diagnósticos confirmados e 101 suspeitas de dengue no município, além de quatro casos prováveis de chikungunya, de acordo com a Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
O primeiro Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) de 2023, divulgado em fevereiro pela PJF, apontou taxa 7 de infestação na cidade, classificada como de “alto risco” pelo Ministério da Saúde. Isso significa que, a cada cem residências visitadas durante a sondagem, sete tinham focos do Aedes aegypti, de acordo com a Gerente do Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental, Louise Cândido. Todas as regiões de Juiz de Fora apresentaram riscos para infecção pelo mosquito.
“O resultado do LIRAa sinaliza um índice alto de infecção. Quando temos um número grande de mosquitos circulando no município, então provavelmente podemos observar um aumento de casos. Mas o que temos visto é que, diante do resultado do LIRAa, esse aumento de casos não tem sido proporcional”, explica Louise. “Não estamos observando um aumento de casos expressivo ou fora da normalidade desse período, que já tem, por si só, um aumento por conta das altas temperaturas e das chuvas, que facilitam a proliferação do mosquito.”
Apesar da taxa alta de infestação dos mosquitos, a cidade continua sendo a que possui o menor número de casos entre as maiores de Minas Gerais, como Uberlândia e Uberaba, por exemplo, que já ultrapassam 2 mil casos de dengue de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Conforme a Secretaria de Saúde da PJF, o número de casos registrados esse ano no município é considerado baixo, levando em conta o período chuvoso e as médias históricas anteriores. Em 2019, por exemplo, quando Minas Gerais passou por uma epidemia de dengue, houve 7.170 casos da doença e 681 internações em Juiz de Fora ao longo do ano.
Resultado do LIRAa ainda acende alerta
Considerando os fatores climáticos, com chuvas regulares que abastecem possíveis criadouros, somadas às altas temperaturas que aceleram o período de desenvolvimento do mosquito – em uma semana, ele consegue completar seu ciclo -, o resultado do LIRAa já era esperado, de acordo com o biólogo e professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto. Para o especialista, o levantamento já chama a atenção quando a taxa de infestação está acima de 3. Desta forma, o índice 7 observado no município causa uma maior preocupação.
“Esse LIRAa de 7 já acende uma luz amarela, falando para a Prefeitura e para os agentes que é necessário ter atenção porque os mosquitos estão se proliferando, com condições ideais de reprodução. Então, se nada for feito, o que vamos ver é um crescimento muito rápido dessa população de mosquito que vai acabar afetando Juiz de Fora de uma maneira geral. Portanto, medidas de controle precisam ser tomadas.”
De acordo com o professor da UFJF, o número baixo de casos, apesar do alto índice de infestação, é um fator positivo, que demonstra que os mosquitos em Juiz de Fora não têm transmitido doenças. Porém, o alerta ainda deve se manter. “Se essas medidas de controle efetivas não forem tomadas, a tendência é que o número desses casos aumente muito.”
Maioria dos focos estão em residências
Ainda conforme o biólogo e professor da UFJF Fábio Prezoto, cerca de 80% dos criadouros do mosquito da dengue ficam no interior das residências, o que dificulta o trabalho dos agentes de endemia em controlar a proliferação. Por outro lado, isto ressalta a importância da colaboração da população.
“A principal estratégia de controle é evitar o acúmulo de água parada, evitar que ela emposse em possíveis criadouros como garrafas, latas, plásticos ou o próprio lixo, que às vezes fica a céu aberto e acaba acumulando água”, explica o especialista. “Isso ajuda a diminuir focos de possíveis criadouros e, dessa forma, diminuir a população do mosquito e evitar, em última instância, o aumento no número de casos de pessoas contaminadas por dengue, por chikungunya ou por zika.”
Caso a pessoa encontre um foco, é importante eliminar a água parada de forma correta. A orientação de Prezoto é que essa água não seja descartada diretamente no ralo, mas na terra, por exemplo, porque se houver larvas, elas vão morrer pela exposição ao ar e perder a possibilidade de completar o ciclo. Além disso, fechar as janelas no início e final do dia pode evitar que o Aedes aegypti entre nas residências.
Mutirões de limpeza
Por meio do Programa Boniteza, a PJF tem realizado mutirões de limpeza com recolhimento de materiais que acumulam água e vistorias domiciliares para eliminar focos do mosquito Aedes aegypti. Os agentes de combate às endemias também buscam mobilizar e educar a população sobre o vetor.
“[É preciso] que a população auxilie o poder público, porque não adianta vistoriarmos a residência, orientar, e o morador não eliminar aquele foco ou colocar um novo que pode acumular água”, explica a gerente do Departamento de Vigilância Epidemiológica, Louise Cândido. “Precisamos que a população cuide das suas residências, dos seus quintais, para que não deixe objetos como caixa d’água destampada, tonéis de água, pneus, todos esses outros que podem acumular água e se tornar um criadouro do mosquito.”
De acordo com Louise, muitas vezes, os agentes de endemia enfrentam resistência de moradores para vistoriar os domicílios. Sendo assim, a gerente do Departamento de Vigilância Epidemiológica orienta que, em caso de dúvidas se, de fato, o agente está a serviço do município, a pessoa pode confirmar a informação por meio dos canais da Prefeitura – os mesmos utilizados para denúncias anônimas sobre focos do Aedes Aegypti em Juiz de Fora e região.
O contato pode ser feito pelo WhatsApp, pelo número (32) 98432-4608, por ligação telefônica através do 3212-3070 ou pelo e-mail dengue@pjf.mg.gov.br. Além disso, registros de denúncias podem ser feitos por meio do sistema MonitorAr, que tem como finalidade mapear as informações das doenças causadas pelo mosquito.
LIRAa
O LIRAa é um método simplificado para obtenção de indicadores entomológicos, o que permite conhecer a distribuição do vetor Aedes aegypti dentro da região. Por meio do nível de infestação, a Subsecretaria de Vigilância em Saúde traça estratégias de combate, o que inclui ações de mobilização social, mutirão de limpeza, vistorias e ações em conjunto de fiscalização, ações educacionais e campanhas de conscientização.
O levantamento é realizado ao menos quatro vezes ao ano. De acordo com Louise, a previsão é que a próxima sondagem seja realizada no município em abril.