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Casos de dengue caem em JF, mas período chuvoso reacende alerta

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Apesar da redução do número de casos de dengue em Juiz de Fora em 2020, em comparação a 2019, a volta do período de chuvas reacende a preocupação com a proliferação do mosquito Aedes aegypti. No ano passado, de acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora, a cidade registrou 144 casos de dengue, sendo que 66 pessoas precisaram ser internadas em decorrência da doença. Os números são muito mais baixos que os registrados no ano anterior, quando o estado passou por uma epidemia de dengue: em 2019 foram 7.170 casos e 681 internações em Juiz de Fora. Neste ano, de 1º de janeiro a 9 de fevereiro, a Secretaria de Saúde recebeu 46 notificações de dengue, sendo que apenas três delas foram confirmadas. Entretanto, diversos fatores, como a pandemia de Covid-19, podem ter impactado na notificação dos casos, e especialistas alertam para a necessidade de continuar adotando medidas para que a doença não volte a causar mortes e casos graves.

Segundo o infectologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, um dos fatores pode ter relação com os ciclos que os surtos de doenças como a dengue podem apresentar. De acordo com ele, após um ano epidêmico, em que muitas pessoas se contaminam pela dengue, como ocorreu na epidemia da doença em 2019, quando Minas Gerais registrou 474 mil notificações de casos prováveis e 188 de óbitos por dengue, é “natural” que poucas pessoas manifestem a doença. Em 2020, por exemplo, o Estado contabilizou cerca de 84 mil notificações. “Nós temos uma redução normal no número de casos após anos com muitos casos. Um grande número de pessoas pega ao mesmo tempo, e elas ficam imunizadas para aquele sorotipo (da dengue)”, explica. “Nós só voltamos a ter um surto com o número de casos alto, em geral, depois da introdução de um novo sorotipo.”

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Além do próprio ciclo da doença, a maior atenção da população quanto aos cuidados necessários também pode ser um fator de diminuição do número de casos, visto que, apesar de a dengue ser transmitida por um mosquito, sua incidência está diretamente relacionada ao comportamento das pessoas, de acordo com a subsecretária de Vigilância em Saúde da PJF, Cecília Kosmann. “No momento em que você tem uma epidemia, todo mundo vai ficar mais vigilante e vai tentar cuidar daquilo de alguma maneira e fazer a sua parte. Em 2019, nós tivemos um grande número de casos (de dengue) aqui na cidade, então começamos a ver um cuidado maior com aquela doença”, explica. “Essa vigilância vai se perdendo ao longo do tempo, e quando diminui muito, quando baixamos a guarda, a dengue aumenta.”

Covid-19 pode ter contribuído para subnotificação

A pandemia da Covid-19 também pode ter influenciado na notificação de novos casos de dengue. Isto porque a principal orientação das autoridades de saúde era para que as pessoas só procurassem atendimento médico se sentissem falta de ar. Além disso, febre e dor no corpo podem ser sintomas de dengue, Covid-19 ou mesmo outro quadro gripal. “São vários fatores que podem ter contribuído para a redução do número de casos de um ano para outro, e o coronavírus pode se aplicar nisso”, explica o infectologista Rodrigo Daniel. “Outro motivo é que muitos atendimentos pararam de ser feitos. Vários serviços tiveram dificuldade de consulta, o acesso à saúde foi menor e algumas pessoas também ficaram com medo de procurar atendimento e pegar coronavírus no pronto-socorro. Mesmo que estivessem sentindo mais sintomas, muitos tentaram ficar em casa, e acaba que esse caso não foi notificado, mas pode ter acontecido. São muitas variáveis.”

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Entretanto, conforme Rodrigo Daniel, apesar de as atenções estarem voltadas especialmente para a Covid-19, é importante identificar os casos de dengue para administrar o tratamento correto, especialmente em casos graves, e também para intensificar o cuidado ao redor da residência dos pacientes quanto aos focos do Aedes aegypti. “Para os casos leves, o tratamento é, basicamente, hidratação, e acaba que isso é feito sendo dengue ou qualquer outro quadro febril. Para os casos graves, às vezes pode se confundir com outros casos graves de outras doenças, fazendo com que alguns tratamentos necessários sejam substituídos”, explica.

De acordo com a subsecretária de Vigilância em Saúde da PJF, Cecília Kosmann, a subnotificação de casos leves de dengue é comum, visto que nem sempre as pessoas procuram atendimento médico nestes caso. Sendo assim, o estabelecimento de saúde não tem este conhecimento. Por outro lado, os casos graves necessitam de hospitalização e, desta forma, a Secretaria de Saúde recebe a notificação. “Pela gravidade do quadro e pelo sintomas, mesmo não sendo sintomas respiratórios, a pessoa terá que procurar o serviço de saúde. Nós vemos que a subnotificação do caso leve é mais comum e mais provável do que um caso grave, porque no caso grave, a pessoa vai precisar procurar assistência hospitalar e, então, essa notificação chega para nós”.

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PJF monta armadilhas para monitoramento

Por conta da pandemia da Covid-19, o monitoramento da infestação do mosquito da dengue foi dificultado em Juiz de Fora. O último Levantamento Rápido de Índices para Aedes Aegypti (LIRAa) foi realizado na cidade em janeiro de 2020, quando revelou índice de infestação de 3,6, considerado situação de alerta. A Prefeitura iria retomar o LIRAa em janeiro deste ano, entretanto, na ocasião, a cidade havia entrado na onda vermelha do Minas Consciente, com restrições mais severas quanto ao enfrentamento da Covid-19, o que impediu os agentes de irem até as casas. Apesar de ter saído do programa estadual, ainda não há nova data para realização do levantamento.

Conforme a subsecretária de Vigilância em Saúde da PJF, Cecília Kosmann, já há uma taxa de recusa nos acessos às residências. Entretanto, o índice já tinha aumentado no ano passado, mas é algo “de fácil compreensão”, dada a pandemia da Covid-19. Apesar deste ponto, o município conta com outras estratégias de monitoramento da infestação do mosquito, como armadilhas. “As armadilhas até nos ajudam no sentido de recusa, porque ficam em locais pré-estabelecidos. As pessoas já sabem que é um agente da Prefeitura que está indo ali trocar uma armadilha por outra, e nos dá uma resposta muito boa, porque é uma armadilha de captura de ovos, e onde tem ovos, nós sabemos que tem fêmeas, e são elas as transmissoras das arboviroses.”

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A Prefeitura instalou 361 armadilhas por toda a cidade, sendo 72 na região Oeste, 54 na Nordeste, 75 no Norte, 46 na Sul, 42 na Sudeste, 45 na Leste e 27 no Centro. Tratam-se de ovitrampas, recipientes no formato de vaso de planta que simulam o ambiente ideal para procriação do mosquito da dengue. A armadilha permanece no local por até sete dias. Após este período, os agentes a recolhem e verificam a presença de larvas. Se houver, uma amostra é levada para análise laboratorial, a fim de identificar se é ou não do Aedes.

Clima está propício ao desenvolvimento do Aedes

As chuvas, somadas a altas temperauras, tornam o clima propício para a proliferação do Aedes aegypti, que também é vetor da zika e da chikungunya. Este tipo de clima é característico do verão e, apesar de o calor ter diminuído recentemente em Juiz de Fora, o ambiente continua propício para o mosquito. Quanto mais altas as temperaturas, mais acelerado é o ciclo de desenvolvimento do mosquito, de acordo com o biólogo e professor do Departamento de Zoologia da UFJF, Fábio Prezoto.

“O mosquito precisa da combinação da temperatura com a pluviosidade. A pluviosidade é importante porque vai preencher os possíveis criadouros e vai acumular água parada. Se ela for constante, isso vai manter esses reservatórios cheios”, explica. “Quando temos temperaturas na casa dos 30 graus, esse ciclo fica bastante acelerado. O mosquito consegue completar o desenvolvimento de ovo até o adulto por volta de sete dias.”

Desta forma, o clima atual em Juiz de Fora pode ser motivo de atenção para possível proliferação do mosquito da dengue, segundo o especialista. “Apesar dessa tranquilidade aparente, nós estamos avançando para um momento bastante crítico para a incidência do Aedes. Sem dúvida alguma, o mosquito vai aparecer em um dado momento, talvez um pouco mais tarde, mas vai aparecer, e aí a importância de sempre estarmos monitorando atentamente a nossa residência para evitar que, uma vez que ele esteja ali, ele possa se proliferar.”

As chuvas no início de janeiro também levaram ao aparecimento de muitos mosquitos nas residências, mas estes, de acordo com Prezoto, são os pernilongos comuns, do gênero Culex quinquefasciatus. “É aquele que vai à noite e faz um zumbido próximo do ouvido, que perturba. Até o meio do ano passado, nós tivemos uma incidência muito forte desse pernilongo aqui na cidade. Depois, mais para o final do ano, ele quase desapareceu, porque houve poucos dias de chuvas. Agora, com essa maior regularidade das chuvas, a tendência é que ele volte. O mesmo vai acontecer com o Aedes aegypti”, diz o professor.

Conforme o especialista, o hábito é o maior diferencial entre os mosquitos. Enquanto o Culex aparece durante a noite, o Aedes costuma atuar nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde.

‘Papel da população é essencial’

O papel da população no combate à dengue continua sendo essencial, de acordo com a subsecretária Cecília Kosmann. Com a pandemia, as pessoas passaram mais tempo em casa, o que pode ter contribuído para um maior controle da infestação do Aedes em 2020. O hábito de verificar se há focos do mosquito nas residências, entretanto, deve ser mantido.

“Sabemos que, desde 1901, no Brasil, o que funciona é a remoção do criadouro. A partir desse momento que os criadouros estão dentro das residências, a população precisa ter esse papel de ser um agente do combate à dengue”, diz. “A orientação é que os agentes de combate à endemia façam as vistorias apenas no quintal das residências. No interior das casas também tem locais de foco, como filtros, bandeja da geladeira e vasos de plantas. Lá, o Ministério da Saúde não recomenda que o agente entre, pelo risco tanto para o nosso servidor quanto para o munícipe, então a população tem que ser ainda mais participativa”.

O biólogo Fábio Prezoto também acredita que o isolamento social contribuiu para evitar o maior aparecimento de focos. “Algo que temos especulado um pouco é que talvez essa menor incidência (de casos) tem, de certa forma, alguma coisa a ver com o fato de que durante a pandemia as pessoas estão mais em casa e acabam tendo condições de olhar melhor a sua residência. Essa atenção tem resultado no maior controle”, acrescenta.

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