Cerca de 70 veículos partiram, pouco antes do meio-dia deste sábado (16), da Avenida Rio Branco, próximo ao Carrefour e seguiram até o Bairro Cascatinha, buzinando em defesa de um planejamento efetivo para o retorno das atividades presenciais na rede privada de Juiz de Fora. O movimento, que se replicou em diferentes cidades do país, contou com o apoio de entidades representativas das escolas particulares, proprietários de estabelecimentos de ensino e trabalhadores do transporte escolar.
“Precisamos de diálogo. Todos os setores foram ouvidos, mas o educacional até hoje não foi. Outros setores foram flexibilizados, e as escolas, não. Nosso setor gera emprego e está muito abalado. Muitas escolas particulares já fecharam. Será difícil manter se continuarmos desse jeito. Neste momento, nos manifestamos porque está comprovado que as escolas não são as vilãs da pandemia. Por que não pensarmos no retorno consciente e seguro? Não é só uma questão financeira. Realmente, somos empresas como as outras, mas o que pedimos é a qualidade de vida para os alunos. O impacto na educação é muito grande”, defende Mônica Fernandes, representante do grupo Escolas em Movimento em Juiz de Fora.
Para Andreza Giacomini, representante da Câmara da Educação Infantil do Sindicato das Escolas Particulares da Região Sudeste de Minas Gerais (Sinepe-Sudeste), o fechamento das escolas privadas para atividades presenciais gerou uma crise de múltiplas instâncias no setor.
“Há um impacto muito grande socioemocional nos estudantes, com as crianças sem possibilidade de se relacionarem com outras, aprenderem e serem estimuladas. As escolas vêm trabalhando desde março no ensino remoto, mas sabemos que para a educação infantil, isso é mais delicado. As crianças precisam do convívio, do contato, do estímulo presencial. As escolas de educação infantil foram muito prejudicadas. Os pais voltaram para o mercado de trabalho e não têm onde deixar os filhos. Defendemos uma parcela da população que precisa enviar os filhos para as escolas”, explica, afirmando que só em Juiz de Fora o sindicato contabiliza 19 estabelecimentos que encerraram as atividades, maioria deles creches situadas em bairros.
O modelo híbrido, com ensino remoto e presencial, é uma possível saída para o setor, indica Mônica. “Nosso interesse com esse movimento é que seja feito um planejamento para um retorno futuro. Desde abril pensamos em como retornar com segurança. Nosso movimento pede para que sejam analisadas as possibilidades de retorno, respeitando o poder de decisão dos pais”, diz.
“Precisamos conversar com a Prefeitura, que tem se mostrado aberta à negociação, mas ações mais concretas são urgentes. Temos a proposta de nos sentarmos com as secretarias de Saúde e de Educação, para alinharmos ações e, quando possível, retornarmos em segurança.”
Questionada sobre a problemática que envolve a dissonância entre rede pública e rede privada, já que na cidade há a indicação de que as escolas municipais só retornem após vacinação, Mônica assegura defender todo o ensino. “Nossa reivindicação é pelo retorno da educação como um todo, tanto a rede pública quanto a rede particular. No que a rede privada puder auxiliar a rede pública, isso será feito.”
Escola como aliada na conscientização
Motorista de transporte escolar há 20 anos, Murilo Giotti não recebe desde julho. Aposentado, ele consegue manter a família, mas o prejuízo financeiro se avoluma à medida que os meses passam e a van continua parada.
“Desde julho, o impacto é de 100%. Até julho ainda havia uma parte pagando. Quando a crise se consolidou, diminuiu o número de pais pagantes. Virou o ano, era época de os pais renovarem contrato, mas nosso setor está à deriva”, lamenta ele, presidente do Sindicato dos Transportadores Escolares de Juiz de Fora e Região (Sintejur/JF), fazendo um cálculo rápido do impacto da paralisação da atividade na cidade. “Em Juiz de Fora somos 280 motoristas, nesses meses parados, pegando uma média de arrecadação de R$ 6 mil, chega-se quase à R$ 3 milhões de prejuízo só aqui.”
Andreza Giacomini alerta para o efeito cascata que a ausência de atividades presencias nas escolas privadas gera, impactando outros setores. “Estamos debatendo muito e nos preparando”, assevera. Em seu cotidiano, Giotti tem conhecimento de colegas de ofício em diferentes situações, todos muito abalados pela impossibilidade de trabalhar.
“Teve gente que se propôs a ser motorista do Uber. Muitos pararam. Alguns tiveram os carros apreendidos por não terem como pagar prestações de financiamento. Os governos federal, estadual e municipal precisam de alguma política para a educação”, clama. “Sabemos das dificuldades da rede pública, mas já são mais de dez meses parados. Precisamos ao menos chamar atenção para o que está acontecendo. As escolas são essenciais para que nossa sociedade volte a tomar um rumo”, assegura Andreza, defendendo que as instituições de ensino podem, inclusive, ser aliadas no enfrentamento à pandemia.
Giotti concorda: “Sabemos que a doença é séria, não podemos negligenciar, mas é preciso juntar o setor para estudar formas seguras e evitar o acirramento da crise. Falta muita informação no país. As escolas podem ser o espaço para ajudar na conscientização”.