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Ocorrência de óbitos por Covid-19 não coloca em xeque eficácia das vacinas

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À medida que a vacinação contra a Covid-19 avança no país é notório o impacto da imunização nos indicadores epidemiológicos da doença, principalmente em relação à queda no número de internações e óbitos. Apesar disso, sozinha, a vacina não impede a circulação e a contaminação pelo vírus – daí a importância, ressaltada por especialistas e autoridades em saúde, em se manter os cuidados preventivos ao coronavírus. Dessa forma, a pessoa, mesmo aquela com a imunização completa, ainda pode se infectar com o vírus, adoecer e, eventualmente, ir a óbito. Foi o que ocorreu com o ator Tarcísio Meira, 85 anos. Na última quinta-feira (12), ele faleceu vítima da Covid-19, mesmo tendo tomado duas doses da vacina Coronavac, em abril. A morte do ator gerou debate acerca da eficácia das vacinas. A ocorrência eventual de óbitos pela doença, entretanto, não coloca em xeque a eficácia já comprovada dos imunizantes aprovados para serem utilizados no Brasil, como destaca o o infectologista e chefe do setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rodrigo Daniel de Souza.

Infectologista Rodrigo Daniel destaca que os imunizantes têm eficácia elevada para evitar hospitalizações e mortes; a recomendação é tomar as duas doses e manter os cuidados (Foto: Leonardo Costa)

“As vacinas têm uma eficácia muito grande para evitar formas graves da doença e evitar mortes. A ocorrência de óbitos pontuais em pessoas vacinadas não tira a eficácia da vacina. Todas as vacinas aprovadas para uso no Brasil são altamente eficazes. As pessoas, às vezes, questionam uma ou outra. Principalmente agora, estão questionando a Coronavac, mas esta vacina teve um grande estudo no Chile, publicado em uma grande revista médica, que mostrou que ela é altamente eficaz”, afirma o infectologista, que destaca a importância da imunização completa.

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“Apesar de apenas uma dose, de qualquer vacina, já gerar um pouco de anticorpos, a sua quantidade e a duração aumentam muito com a segunda dose. Então as pessoas vão ficar mais protegidas e por mais tempo quando tomam a segunda dose”.

No caso da vacina Janssen, também utilizada no país, a dose é única.

Em vídeo publicado em suas redes sociais na última sexta-feira (13), o pneumologista e professor da UFJF, Júlio Abreu, também tratou sobre o assunto. O médico destacou a eficácia das vacinas utilizadas no Brasil. “A proteção com relação à doença grave e óbito é muito semelhante entre as diferentes vacinas. A queda de mortalidade em idosos brasileiros como um todo, considerando que a principal vacina utilizada nesse grupo foi a Coronavac, comprova essa observação.”

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Porque ainda ocorrem óbitos

O médico explica que a eficácia das vacinas varia. Segundo ele, ela é menor, por exemplo, para se evitar casos leves da doença, mas aumenta significativamente para proteger formas graves e, ainda mais, contra óbitos. No entanto, essa proteção não é de 100%, e indivíduos vacinados podem adoecer e morrer, embora a frequência seja bem menor do que em não vacinados. “Em geral, nenhuma vacina, mesmo contra outras doenças, oferece 100% de proteção”, destaca. No caso de idosos, ainda há o complicador idade.

“Em idosos é esperado que a eficácia das vacinas seja um pouco inferior, porque o sistema imune dessa pessoa já está envelhecido também, existe uma imunodeficiência relacionada à própria idade e, à medida que a gente vai ficando mais velho, a nossa defesa vai ficando pior.”

O infectologista também explica que o imunizante não fornece anticorpos prontos ao organismo. Leva um tempo, após a imunização completa, para que o corpo “aprenda a produzir” sua defesa. “A vacina injeta no nosso organismo parte do vírus ou um vírus inteiro inativo ou, ainda, uma forma do nosso corpo fabricar partes do vírus. Isso vai fazer com que a gente seja exposto a antígenos, e as células do nosso organismo, reconhecendo esses antígenos, vão produzir anticorpos para tentar destruí-lo. Quando somos expostos ao vírus de verdade, as células reconhecem aquele antígeno. A velocidade da produção de anticorpos é muito maior, às vezes até existem anticorpos prontos circulando. Então, esses anticorpos prontos vão neutralizar a ameaça ou nossas células vão começar a produzir anticorpos em uma velocidade muito mais rápida.”

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Nos casos em que a pessoa ainda não está imunizada e nunca teve contato com o vírus anteriormente, a produção de anticorpos pelo organismo é lenta. Conforme Rodrigo Daniel, esse processo pode levar entre nove e 16 dias. E, em pessoas idosas, conforme o médico, normalmente a capacidade das células reconhecerem antígenos e produzirem anticorpos está reduzida, mesmo com a imunização completa. Dessa forma, o especialista salienta a necessidade de demais medidas preventivas.

“Para evitar que pessoas idosas adoeçam, é preciso que as outras pessoas que tenham contato com elas estejam vacinadas. Temos que ter em mente que o fato de pessoas idosas estarem vacinadas e reclusas em casa não é um passaporte para visitas sem cuidados. Quem vai visitar uma pessoa idosa tem que ter a consciência disso.”

Novas variantes também podem ser uma agravante quando escapam à proteção da vacina e ao nosso sistema imune. “Até o momento, as variantes do coronavírus são, em grande parte, evitadas pelas vacinas, que têm uma eficácia menor contra a variante Delta, que já ocorre em diversos locais do país. A eficácia cai muito quando só tem uma dose. Daí a importância e a preocupação para que todo mundo que tomou uma dose, tome a segunda”, ressalta.

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Condição de saúde individual

O pneumologista e professor da UFJF, Júlio Abreu, também destacou que um dos principais fatores que influencia a ocorrência de casos graves e óbitos em pessoas com a imunização completa é a condição de risco individual. “Os mesmos indivíduos que tinham alto risco de doença grave e óbito antes da vacinação, continuam sendo os de risco pós vacinação. Para citar os principais grupos, os idosos acima de 70 anos e particularmente acima de 80 anos, os indivíduos com alguma condição de imunossupressão, os obesos e os diabéticos. Em alguns casos, vários desses fatores se associam aumentando esse risco potencial.”

Avanço da vacinação reduziu ocupação de leitos

O número de óbitos também vem caindo significativamente na cidade. Dados registrados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) até a última sexta mostram que as mortes caíram de 131 em junho, para 85 em julho. Neste mês, até então, 16 falecimentos por Covid-19 foram confirmados pela Prefeitura. Para o levantamento, a Tribuna considerou os óbitos por data de ocorrência, não de confirmação.

Além disso, em quase quatro meses, conforme dados divulgados pela Secretária de Saúde, o índice de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exclusivamente destinados a pacientes com a Covid-19 em Juiz de Fora, caiu de 80,95% em 30 de abril – com o início da vacinação nas faixas etárias acima de 60 anos -, para 37,16%, taxa registrada na última sexta-feira. Os dados também indicam diminuição no percentual de ocupação dos leitos de enfermaria Covid. A taxa caiu de 65,16% para 36,55% no mesmo período.

A queda no número de internações de pessoas com idades acima de 60 anos, como já destacou a Secretaria de Saúde anteriormente, também passou a ser evidenciada de forma expressiva, principalmente do mês de maio para cá. Em entrevista coletiva sobre o balanço de seis meses de vacinação na cidade, a secretária de Saúde, Ana Pimentel, destacou a redução e a atribuiu, assim como a queda nas taxas de ocupação, ao avanço da imunização no município.

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