A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher segue investigando o caso do dentista de 34 anos, suspeito de se masturbar durante atendimento em seu consultório, na Zona Norte de Juiz de Fora. Segundo a delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, a Polícia Civil já chegou a dez possíveis vítimas do crime de importunação sexual, e sete delas já foram ouvidas. A maioria era menor de idade na época do delito e uma delas tinha apenas 10 anos. O suspeito foi preso em flagrante pela Polícia Militar na última segunda-feira (12), após ser flagrado por uma paciente adolescente, 17, com o órgão genital exposto. No entanto, conforme a delegada, ele recebeu alvará de soltura poucas horas depois de dar entrada no sistema prisional e responde em liberdade. “Ele foi ouvido no plantão da delegacia e, no primeiro momento, nega. Mas depois admite e fala que vai procurar ajuda médica”, revelou Ione.
Desde a repercussão do caso, no começo desta semana, várias outras possíveis vítimas tomaram coragem e prestaram seus depoimentos em relação ao especialista em ortodontia. Na última quarta, outra adolescente, 16, procurou a PM e registrou um boletim de ocorrência denunciando o dentista por importunação sexual. Segundo o registro policial, a jovem contou ter visto uma postagem em rede social no dia anterior sobre a investigação que apura supostos atos criminais cometidos pelo dentista, que estaria importunando sexualmente pacientes mulheres menores de idade. Após ver uma reportagem na TV, a adolescente decidiu contar à sua mãe que o fato também havia acontecido com ela em data anterior. Diante da situação, registraram a ocorrência.
A adolescente relatou aos militares que, em julho do ano passado, durante uma consulta a portas fechadas com o suspeito, percebeu que ele olhava bastante o seu corpo e demonstrava preocupação com uma janela. Ela acrescentou que o profissional usava apenas uma das mãos no procedimento, enquanto a outra ficava mais abaixo, fazendo movimentos “como se estivesse coçando”. Quando ele voltou a usar a outra mão, ela chegou a sentir cheiro de órgão genital. A jovem acrescentou ter ouvido barulhos repetitivos durante o uso de apenas uma mão para seu atendimento e percebeu que o jaleco do dentista se movimentava. A mesma situação aconteceu mais duas vezes, segundo as declarações da paciente. Na época, a adolescente chegou a comentar com amigas e com uma irmã sobre o ocorrido, mas como havia ficado muito assustada, não soube como proceder e não chegou a comunicar o fato a uma autoridade policial. Um ano depois, no entanto, ao constatar que não havia sido a única vítima, ela resolveu denunciá-lo.
De acordo com a delegada, a vítima deverá ser ouvida nesta sexta. Ione disse que a maioria dos depoimentos descreve situações semelhantes a essa. Apesar de nem todas as jovens terem visto o órgão genital do dentista exposto, todas desconfiaram da ação sexual durante o atendimento. “Algumas viram, outras ouviram barulho enquanto ele se masturbava com a luva. Também percebiam que ele usava só a mão direita no atendimento e ficava trêmulo.” Ainda conforme a policial, algumas pacientes relataram que precisaram voltar ao consultório porque acharam que o aparelho fixo não havia sido bem ajustado.
Isso foi o que aconteceu com a primeira adolescente a denunciar o dentista. Ao retornar ao consultório um mês depois para reajustar o aparelho, na última segunda, ela observou que o dentista estaria utilizando apenas uma das mãos para fazer o procedimento. Em seguida, ouviu um barulho e, ao olhar para o lado, percebeu que o profissional estaria se masturbando com a outra mão. O dentista teria se assustado e coberto o órgão genital com o jaleco. A jovem acrescentou que deixou o consultório correndo e contou à sua mãe, 55, que acionou a PM, ocorrendo a prisão em flagrante.
“Ele está nesse consultório há quase dez anos, mas muitas pacientes ficavam com receio de não ser isso mesmo ou tinham medo de denunciar, porque é um homem educado e um profissional conhecido naquela região”, pontuou a delegada. “Algumas ouviram falar, mas não acreditavam, apesar de haver muitas desconfianças. Mas o modus operandi era o mesmo: usava a mão direita para o procedimento, e dificilmente as pacientes viam a outra mão, mas ouviam o barulho (de fricção) da luva. Algumas também disseram que, antes de liberá-las, ele arrumava o jaleco.” Conforme Ione, a secretária do consultório já foi ouvida. “Ela disse que trabalha com ele há muitos anos e que ele jamais faria isso.”
O suspeito deverá responder por importunação sexual, que ocorre quando alguém pratica contra outra pessoa e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lasciva ou a de terceiro. A tipificação foi incluída como crime em 2018, no artigo 215-A do Código Penal, e prevê reclusão de um a cinco anos para cada caso.