Juiz de Fora parou contra a reforma da Previdência nesta quarta-feira (15). Cerca de 15 mil pessoas participaram da manifestação contra a proposta do Governo Michel Temer que estabelece idade mínima de 65 anos para aposentadoria de homens e mulheres, e tempo de contribuição de 49 anos ininterruptos. A mobilização integrou o Dia Nacional de Paralisação, realizado por diferentes categorias trabalhistas em todo o país. Na cidade, bancos, Correios, escolas da rede pública e privada, creches, técnico-administrativos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), metalúrgicos da Mercedes-Benz, trabalhadores da construção civil e Cemig, servidores da Emater e Embrapa interromperam as atividades nesta quarta-feira. A estimativa de participantes foi feita pelos organizadores. A Polícia Militar informou que não iria estimar o público presente.
A concentração dos manifestantes teve início às 9h na Praça da Estação, no Centro. Exibindo cartazes e faixas com declarações que diziam “Todos contra os ajustes de Temer” e “Nenhum direito a menos!”, estudantes e trabalhadores de diferentes categorias entoaram cantos e gritos convocando a população para o movimento. O protesto teve início dando voz aos representantes das entidades presentes. De acordo com a assessoria do Sindicato dos Professores (Sinpro-JF), um total de 40 sindicatos marcaram presença no ato.
Na avaliação da coordenadora-geral do Sinpro-JF, Aparecida de Oliveira, a mobilização, que reuniu pessoas de Juiz de Fora e da região, é o caminho para evitar que a reforma seja concretizada. “O trabalhador entendeu o recado e vai lutar contra este ataque aos nossos direitos. Estamos todos em luta! É essa luta que vai fazer a diferença. Acreditamos que a mobilização em todo país será capaz de barrar esse desmonte da Previdência.” O presidente da Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos Municipais de Minas Gerais (Feserp Minas), Cosme Nogueira, destacou que a mobilização era apartidária. “Nosso movimento é pelo direito do trabalhador de se aposentar.”
Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Juiz de Fora também estiveram presentes na manifestação. Em nota, a assessoria da entidade informou que mantém o mesmo posicionamento dado pela OAB Federal e a OAB Minas Gerais: “contra a reforma da Previdência nos moldes apresentados dia 06 de dezembro de 2016 na proposta governamental de Emenda Constitucional (PEC 287/2016)”.
Passeata pelo Centro
Após a concentração, por volta das 11h, os manifestantes seguiram em passeata pela Avenida Francisco Bernardino, no Centro. Durante o percurso, o trânsito na Rua Marechal Deodoro foi paralisado, sendo controlado por agentes de trânsito. Enquanto caminhavam, trabalhadores e estudantes convidavam o público que estava nos pontos de ônibus, nas janelas de prédio e no interior das lojas a participar da mobilização. Respondendo com acenos, gritos e tirando fotos, o público de fora do protesto se mostrava favorável à causa.
Na chegada à Avenida Rio Branco, próximo ao Mergulhão, a mobilização fechou as pistas de carros e ônibus nos sentidos Manoel Honório- Centro e Centro-Manoel Honório. Filas de ônibus se formaram, e o trânsito ficou completamente paralisado. Durante todo o percurso, foram feitos discursos contra a reforma da Previdência. Discursando em nome dos jovens, o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Arthur Avelar, questionou a coerência do projeto. “Não faz sentido num país com histórico de desigualdade se retirar os direitos conquistados pelos trabalhadores.”
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João César da Silva, defendeu a continuidade da mobilização “Hoje é um dia histórico porque é o primeiro da nossa luta pelos direitos trabalhistas. Luta que deve ser mantida para além do dia de hoje, para não permitir que a reforma da Previdência e outros projetos contra o trabalhador sejam aprovados.” Ele ressaltou que 800 trabalhadores da Mercedes-Benz interromperam as atividades em adesão ao movimento.
Já o diretor da regional do Sindicato dos Engenheiros, Fernando José, afirmou que é preciso cobrar representatividade das autoridades políticas. “Nós temos que cobrar dos deputados da nossa região que representem os eleitores. Nós somos contra a reforma da Previdência, e eles também devem ser.” Em discurso durante a passeata, o diretor de comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos (Sinserpu), Joaquim Tavares, convocou a população para a mobilização. “Aqui é a união da classe trabalhadora pelo direito de se aposentar, por isso, chamamos toda a cidade. Nós todos seremos atingidos pela reforma. Se você já se aposentou, lute por seus filhos, seus netos.”
Novo encontro marcado para segunda
Após quase quatro horas desde o início do movimento, os manifestantes chegaram ao Parque Halfeld onde encerraram os discursos. O sol forte e o cansaço não desanimaram os presentes, que mantiveram as pistas da Avenida Rio Branco fechadas para o tráfego de veículos. Em seguida, desceram o Calçadão, já em número menor de pessoas. Os participantes fizeram paradas em frente ao Cine-Theatro Central, na Praça João Pessoa, e depois seguiram para a Avenida Getúlio Vargas, onde fecharam o tráfego da via, por volta das 13h50. Eles continuaram pedindo a adesão de pedestres e trabalhadores do comércio enquanto passavam.
O grupo se concentrou na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Barbosa Lima, onde realizou uma assembleia, que votou pela continuidade do movimento na próxima segunda-feira (20), em frente à Câmara, às 15h30. Por volta das 14h15, a manifestação se dispersou, liberando o tráfego de veículos. “Foi um ato vitorioso. Isso mostra que os ataques aos nossos direitos não vão passar sem luta. Por isso, a nossa avaliação é a melhor possível”, disse Leonardo Iung, representante da organização Juventude Revolução.
A Polícia Militar (PM) acompanhou todo o deslocamento até a dispersão e destacou que nenhuma ocorrência foi registrada. “Foi um movimento tranquilo, ordeiro, composto por pessoas educadas e compromissadas com o nosso país. Tudo o que foi combinado foi cumprido, o que mostra a importância do planejamento desse tipo de ação”, pontuou o comandante da 4ª Região de Polícia Militar, coronel Alexandre Nocelli.