Quando Bernardo nasceu, no final de dezembro do ano passado, mal sabia que iria coroar um grande feito na família Souza-Condé. Seus primeiros dias de vida foram cheios de carinho e abraços, sendo que o mais marcante deles foi aquele dado pelo aposentado Semeão de Souza, 86 anos, seu tataravô. A emoção de segurar nos braços aquele pequeno reafirmou a continuidade daquela família. Fazendo um balanço destas quase nove décadas de vida, Semeão sente-se um grande privilegiado, afinal de contas não é para menos, uma vez que, nos dias de hoje, as famílias estão cada vez mais enxutas. Lá atrás, quando casou-se com dona Terezinha, falecida há dois anos, tinha o desejo de construir uma família grande, feliz e unida, mas não esperava tal feito. Semeão é pai de sete mulheres e avô de 19 netos. Na conta ainda entram 13 bisnetos, sendo que dois ainda estão na barriga das mamães, e o tataraneto recém-nascido.
“Sempre quis ter uma família grande, e a minha foi a maior entre meus irmãos. Apesar de ter tido sete filhas, nunca pensei que a família cresceria desse jeito e que ainda seria tataravô! O nascimento do Bernardo foi uma felicidade. É uma emoção muito grande poder segurá-lo no colo”, revela Semeão. A linhagem que, até então, termina em Bernardo, teve início na sua segunda filha, a corretora de móveis Rosângela Souza, 60. Ela tem três filhos homens e duas netas. O mais velho, o representante comercial André Condé, 41, é pai da estudante Caroline Condé, 18, que descobriu-se grávida na sequência em que começaria a cursar Engenharia de Produção na UFJF. “Quando dei a notícia, todo mundo assustou, mas tiveram reações diferentes. Meu pai foi o mais tranquilo, minha avó nem tanto, e o biso ficou alegre, até chorou”, conta Caroline, sorrindo.
Rosângela relembra como o susto se transformou em paixão pelo bisneto, que também só fez crescer a admiração que já sentia pela neta. “Ela encarou os dois primeiros períodos da faculdade até o final. O parto foi normal e o primeiro ao qual eu assisti. Ela e o meu bisnetinho moram comigo, ajudo a cuidar”, ressalta ela, que ainda trabalha, mas consegue conciliar seu tempo para paparicar o bebê. “Quando tenho que atender a um cliente, fico doida para voltar e ficar mais tempo com eles”. O olhar do novo vovô do pedaço, André, brilha ao segurar o netinho. “Sei que não foi planejado, mas temos que apoiar sempre. Família é isso: é amor, respeito e união”, diz.
Planos para o futuro
Depois de casar seus filhos, todo casal deseja ter um neto para se tornar avôs e avós. No caso da família Souza-Condé, a meta é outra: ter tataranetos. “Fiz minhas contas e vi que ainda posso chegar lá”, brinca Rosângela. Já André aposta na genética. “Aqui todo mundo começou cedo”, ri. Para se ter uma ideia, Semeão foi pai de sua primeira filha aos 21 anos, já Rosângela foi mãe de André aos 19 e André foi pai aos 21, como o avô. “Ter meu avô perto de mim até hoje é bom demais. Aprendi muito com ele e com minha avó, já que, quando criança, ficava na casa deles enquanto minha mãe trabalhava. Muita coisa deles passou pra mim, como a educação e o caráter”, conta André. Nos poucos momentos passados ao lado deles, percebe-se que, apesar de cada um pertencer a gerações diferentes e ter recebido criações distintas, há respeito e abertura para falar sobre todos os assuntos. “Todo mundo aqui conversa, sobretudo quando algo está errado e precisa melhorar. O pai até hoje chama a atenção da gente”, diz Rosângela.
“Um sentimento de gratidão”
Quando se aposentou como operador de usina da Companhia Mineira de Eletricidade, em 1984, Semeão deixou a vila de funcionários da empresa, em Matias Barbosa, para morar em outra vila, a Vila Ideal. Mudou-se para uma casa grande que até hoje é o reduto da família aos fins de semana e, principalmente, nas festas de final de ano, a data sagrada em que a tropa familiar vem em peso para comemorar o seu aniversário. “Fico alegre quando todos estão aqui. Tenho uma varanda grande, e cabe todo mundo, ideal para tomar aquela cervejinha. Ainda tenho pique para acompanhar a meninada”, destaca Semeão. Por escolha própria, o aposentado continua morando sozinho na casa, mas recebe todo suporte das filhas. Desde que a esposa morreu, cada dia da semana uma das filhas passa a noite com ele. “Fico satisfeito com o meu trabalho enquanto patriarca da família. Gosto de todos e recebo muito carinho em troca. É bom ter com quem contar.” Caroline, que está começando sua própria família, já leva consigo lições e valores. “Um sentimento de gratidão toma conta de mim quando vejo que tenho uma família tão grande e com tantas gerações. Com muito amor, ela só tem a crescer”, ressalta Caroline.