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Projeto juiz-forano estimula autoestima de crianças na escola pública

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Estudantes de várias idades participaram do projeto, que foi realizado durante dois meses na escola do Bairro São Judas Tadeu. Desfile finalizando a iniciativa aconteceu no Centro Cultural de Benfica (Foto: Marcelo Ribeiro)

Os alunos da Escola Municipal Álvaro Lins se posicionavam em fila no palco do Centro Cultural de Benfica na tarde da última sexta-feira (9). De um pequeno som, vinha a melodia de músicas pop que servia como trilha sonora para as passadas. Era o momento do ensaio geral para a estreia dos 75 estudantes para o primeiro desfile de passarela de suas vidas, onde o grupo aplicaria os conhecimentos adquiridos no Projeto Beleza Interior, um curso gratuito, com duração de dois meses, oferecido pela Diamond Models. Nesse curso, as crianças e os adolescentes aprenderam sobre expressão corporal, postura, marketing pessoal, higiene, entre outros cuidados.

“Sempre vi uma necessidade muito grande de um trabalho social nessa comunidade. Ela tem suas carências e precisa desse olhar. Então, resolvemos levar para lá essa ideia, o diretor da escola deu um apoio muito grande e conseguimos desenvolver esse curso com duas turmas. Uma pela manhã e outra à tarde”, detalhou o coordenador da ação, Thony Jefferson Martins.

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Para Thony, essa é uma oportunidade de retribuir em bem-estar social, algo que também recebeu dentro daqueles muros da escola, localizada no Bairro São Judas Tadeu, na Zona Norte.

“Sempre fui um sonhador. Nessa escola, ao invés de encontrar professores que me chamassem de louco e me dissessem que esse caminho não me daria futuro, encontrei professores que me incentivaram, me aconselhavam a correr atrás dos meus sonhos. Ainda tenho um contato grande com a escola e volto para me tornar o professor que vai dizer a essas crianças que é possível correr atrás dos sonhos delas.”

Embora já tenha feito outras ações, como um projeto de vídeo na Escola Álvaro Lins, essa foi a primeira vez que o coordenador teve contato mais direto com as crianças. “Agora estou lidando com os filhos das pessoas que estudaram comigo.”

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Durante o curso, os alunos também tiveram contato com a Miss e o Mister Juiz de Fora e conheceram o significado dos concursos. “Em uma das ações que desenvolvemos, eles vieram e foram brincar com as crianças. Eles vieram fantasiados, com essa proposta de humanizar, de estarem mais próximos. Antes, as crianças confundiam o conceito. Mas agora eles sabem que misses e misteres precisam se envolver com o social, lutar por um mundo melhor. Essa ação para desenvolver o lado humano deles também contou com uma visita ao Abrigo Santa Helena”, detalhou Thony. “No dia em que levamos o mister teen na escola, nós paramos tudo. Eles me perguntavam o que tem que fazer para se tornar um mister teen. Tiraram fotos, conversaram. Foi muito legal.”

Sonhos

Maria Clara Souza, 11 anos, estudante do 5º ano, não tinha interesse muito grande pelo curso no início, mas foi se encontrando ao longo das aulas. “Comecei a conhecer as meninas, depois ele me ensinou a desfilar, e todos nos divertimos muito juntos. Sempre gostei de ver as modelos na televisão. Quero ser modelo de passarela. O que eu aprendi de mais importante é que não importa a roupa que a gente veste, importa o que a gente é. Não precisamos ligar para o que as pessoas falam ou pensam da gente”, disse. A menina também comentou que a estreia a deixou nervosa. “Fico muito nervosa na frente de muitas pessoas, mas minha mãe fala para eu fingir que não tem ninguém na minha frente e está funcionando.”

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Foto: Marcelo Ribeiro

A passarela também se tornou uma possibilidade de caminho para Gabriel Werneck, 13 anos, aluno do nono ano. A prima dele é embaixadora da paz por Juiz de Fora e avisou a ele que haveria o curso. Como a moda estava entre os assuntos que ele mais gosta, o curso foi um lugar para obter mais conhecimentos sobre esse universo. “Foi exatamente como eu havia pensado. É algo que eu gosto, que inspira as pessoas. Eu não me valorizava, quando as pessoas me elogiavam, eu não acreditava, porque eu não acreditava em mim mesmo. Isso já mudou muita coisa na minha vida”, garante o estudante. Além da postura, da autoestima e da possibilidade de carreira, o que Gabriel almeja é seguir, sabendo que seu talento e sua vontade são maiores que as dificuldades. “Os modelos podem sair de lugares que ninguém imagina, como uma comunidade. Essa possibilidade é muito legal.”

Contribuição

Se o principal objetivo era conseguir mobilizar a criação de sonhos, outras intenções também foram contempladas. Os conhecimentos levados por cada uma das 75 crianças podem, de fato, ajudá-las a ingressar no mercado de modelos. Thony relata que, diante de uma boa resposta e do bom desempenho de alguns dos participantes, a agência está tentando contato com parceiros que possam patrocinar os estudos, o material fotográfico, para que eles possam se desenvolver ainda mais e começar a atuar no mercado. “Quanto mais cedo ingressarem nesse setor, maior é a chance de ter uma carreira de sucesso”. Mas mesmo os que não forem continuar nesse caminho, levam na bagagem outros conhecimentos. “Eles aprenderam a se relacionar com as pessoas com outra postura. Muitas crianças andavam curvadas, com a postura incorreta, e esse também é um aprendizado. Algumas tinham muita dificuldade de se expressar, uma das meninas tremia muito de vergonha. Agora elas já lidam muito melhor com essas situações.”

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Foto: Marcelo Ribeiro

Da plateia, Valéria Duque Delgado, mãe de uma estudante de 9 anos, apreciava o andar da filha no ensaio. “Ela é uma criança muito independente, agitada e ansiosa. Minha filha gosta de participar de tudo. Ela ficou sabendo do curso e, imediatamente, resolveu participar. Ela é vaidosa, isso é dela. Penso que talvez ela não se torne uma modelo, porque é muito baixinha. Mas se ela se interessou e for a vontade de Deus, eu a acompanho e dou o meu apoio.” Esse tipo de atividade dentro das escolas, segundo a mãe, deve ser ampliado. “É muito importante ter essas opções na escola, porque incentiva as crianças a buscar outros aprendizados. Fico feliz, porque o diretor da escola sempre dá apoio para esse tipo de oportunidade”, acrescenta a mãe.

‘Precisamos de mais projetos como esse’

Em um primeiro momento, a adesão ao projeto Beleza Interior assustou, como disse o diretor da Escola Álvaro Lins, Alisson Duarte Jordão. “Desde o início, achei muito interessante, por conta desse trabalho com a autoestima. O Thony é morador do bairro, ex -aluno, e a ideia partiu dele. Levando em conta que estamos em um bairro de periferia, uma comunidade muito carente de oportunidades como essa e de lazer, cedi o espaço e os horários do contraturno. Essa abertura para outras atividades é considerada fundamental pelo diretor, assim como os exemplos que retornam para a escola, para falar sobre suas experiências. Como também aconteceu durante a visita da atriz Andréia Horta à instituição, local onde ela também estudou.

“Todos queriam tocá-la, pedir autógrafos. Ela falou sobre o início da carreira, como ninguém dava valor quando ela dizia que seria atriz. Mas eles conseguiram ver que tudo é possível. Não que vá sair outro grande ator daqui, mas é totalmente possível. Eles viram que morar no São Judas Tadeu não os impede de sonhar e o projeto do desfile mostra bem isso. Ao mesmo tempo, que aprendem que podem sonhar, também entendem que, se quiserem chegar lá, vão precisar batalhar por isso. Precisamos de mais projetos como esse”, conclui o professor.

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