Uma mulher de 49 anos procurou o setor de urgência e emergência em oftalmologia da Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes), em Juiz de Fora, nesta segunda-feira (13), depois de ter reação a uma pomada fixadora para tranças. O caso ocorreu três dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibir a comercialização de todas as pomadas para trançar ou modelar os cabelos.
De acordo com o médico Marcelo Espindola, que atendeu a paciente, ela chegou ao local se queixando de dor e vista embaçada. Após ser examinada, foram constatados pontos de inflamação da córnea. O caso, embora mais leve do que os de cegueira já documentados no país pelo uso dos produtos, chama atenção para os efeitos adversos nas pessoas. A mulher recebeu colírios de antibiótico, anti-inflamatórios e colírios lubrificantes. Segundo o oftalmologista que prestou o atendimento, a paciente vai ficar bem.
Esse é o terceiro caso que a Acispes atende em dois meses. Os anteriores haviam sido em dezembro do ano passado, quando duas meninas de São João del-Rei receberam tratamento na Agência, referência no estado em tratamento de urgência e emergência oftalmológica.
A medida preventiva da Anvisa acontece depois de uma série de casos de efeitos nocivos desses produtos em consumidores, e a proibição se estende até que sejam concluídas as investigações. Algumas dessas mercadorias já tinham sido objeto de medidas restritivas. Com a continuidade da investigação, porém, além dos processos de regularização de pomadas terem sido cancelados pela agência, foi determinada a proibição da comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso.
Em janeiro deste ano, a Anvisa já havia mandado suspender a venda de um desses produtos, a pomada modeladora para tranças antifrizz Be Black. Agora, outros se somam à lista que teve início em março do ano passado, quando foi proibido o uso da pomada para tranças Ômega Fix, fabricada por Cape Indústria de Cosméticos, que, além de não estar registrada na Anvisa, tinha sido acusada de causar problemas oculares.
Como medida protetiva, todas as pomadas devem ter o uso suspenso, sob risco de sintomas como cegueira temporária, forte ardência nos olhos, lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão, inchaço ocular e dor de cabeça, esclarece a Anvisa.
Especialista tranquiliza crespas e cacheadas
Para tranquilizar as mulheres crespas, cacheadas e trançadas, a Tribuna conversou com a cabeleireira Gleisi Souza, que garantiu que não são todos os produtos para cabelos com curvatura que vão gerar danos para a saúde. “Com esse boom de produtos que trazem graves malefícios, as meninas podem ficar amedrontadas, mas existem, sim, cremes que têm um teor de qualidade bom e são seguros”, esclarece.
Atualmente existe uma gama de opções para os fios, como cremes, fixadores em spray e gelatinas. Todos, segundo a profissional, oferecem durabilidade e proporcionam um efeito semelhante aos produtos que foram proibidos, mas que entregam como diferencial a segurança.
Caroline Faria, cabeleireira no salão de Gleisi, possui tranças há algum tempo e conta que ficou assustada quando soube da proibição dos produtos. “São mercadorias que usamos no dia a dia e, às vezes, vamos lá e compramos para uso próprio sem saber que pode causar mal”, conta. Ela destaca, também, a importância de fazer procedimentos com profissionais responsáveis e que estão atentos à recomendação da Anvisa. “No meu caso, eu dou prioridade às gelatinas, que também oferecem consistência para as tranças”, acrescenta Caroline.
Gleisi explica que a longa conservação, procurada pelas consumidoras de pomadas, em primeiro momento pode parecer um grande atrativo. Porém, não pode ser um desejo isolado da própria saúde. Logo, é importante conferir no site da Anvisa se aquele produto é seguro.
Também existem técnicas que permitem a maior longevidade dos penteados ou da finalização, como saber qual é o tipo do próprio cabelo, importante passo rumo a direcionar os fios ao produto ideal. “Crespas usam produtos mais pesados; cacheadas, intermediários; e onduladas, leve. Para durabilidade, o indicado é a gelatina que, atualmente, possuiu uma variedade sem petrolato e parabeno”, diz Gleisi.
Os produtos proibidos, além de causarem reações a quem usa, sendo banidos para todos os clientes de salões de beleza pelo país, podem também trazer riscos aos aplicadores que manuseiam essas substâncias. Por isso, a determinação é que eles sejam separados e não expostos nos estabelecimentos.
Para evitar possíveis reações e contato com produtos tóxicos, o consumidor deve considerar a compra de mercadorias que sinalizem a palavra “liberado” na embalagem e que também sejam hipoalergênicas. Ou, ainda, verificar a regularidade dos produtos junto à Anvisa, através do portal consultas.anvisa.gov.br.
Consumidor, fique atento
Conforme as recomendações da Anvisa, a indicação é que seja suspenso imediatamente o uso das pomadas para tranças. Mas, caso o produto esteja no cabelo, ele deve ser lavado com a cabeça inclinada para trás, a fim de evitar contato com os olhos. O médico oftalmologista Marcelo Espindola alerta para o procedimento que deve ser tomado se essas pomadas acabarem entrando nos olhos. “Como primeira abordagem, lavar com soro fisiológico; em seguida, passar em consulta com oftalmologista”, esclarece o especialista.
Depois de ir a um serviço de saúde, o consumidor deve notificar a Anvisa através deste site.
A Vigilância Sanitária de Juiz de Fora informou à Tribuna que não identificou o produto em nenhum estabelecimento da cidade. O alerta, todavia, como assegura o órgão, já foi encaminhado para as farmácias, drogarias e distribuidoras cadastradas tão logo foi feita a emissão pela Anvisa.