O homem de 35 anos suspeito de pedofilia, preso em flagrante em encontro armado pela Polícia Civil, no início da noite desta quarta-feira (12), após ser denunciado pelo próprio pai de uma menina, 9, alvo do suposto abusador pelo Facebook, está no Ceresp de Juiz de Fora à disposição da Justiça. De acordo com a delegada da Especializada de Atendimento à Mulher, Ione Barbosa, ele vai responder por tentativa de estupro de vulnerável, por abandono de incapaz, já que teria deixado o filho autista de 5 anos sozinho em casa para se encontrar com a garota, e também por transmitir fotos e vídeos com cena de sexo explícito ou pornográfica, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Segundo a Polícia Civil, a prisão aconteceu graças ao empenho do pai da vítima. O empresário, 33, tinha o costume de monitorar as redes sociais da filha e, há cerca de um mês e meio, desconfiou das conversas que a menina mantinha com o suspeito. Ele usava um perfil “fake” no Facebook, com nome falso e imagem do personagem Batman.
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“Ontem (quarta-feira), o pai ligou para a gente, passou a senha do Facebook da filha, e o orientamos até chegarmos ao ponto de marcarmos o encontro”, contou Ione. O local combinado foi uma padaria na Zona Nordeste, perto da casa da vítima. “Ele já tinha enviado para a menina via e-mail várias postagens de vídeos e fotos com cunho explícito de sexo de adulto com criança, e também tivemos acesso a esse material antes do encontro. Com as características dele, que obtivemos por meio de fotos, chegamos ao local. A menina entrou na padaria, e os investigadores confirmaram que o homem, que estava dentro de um carro, tinha a mesma fisionomia do suspeito, e ele foi abordado.”
De acordo com Ione, o homem não admitiu que pretendia abusar sexualmente da criança. “Em um primeiro momento, ele negou tudo. Mas quando falamos das evidências que tínhamos, acabou confessando ter falado aquelas coisas e marcado o encontro. Confirmou que havia passado os vídeos e fotos de cunho de sexo explícito com criança, mas falou que não ia chegar aos atos executórios com ela.”
Abandono de filho autista
Quando a Polícia Civil chegou à residência do suspeito, na Zona Leste, para apreender o computador dele e encaminhar à perícia, a equipe teve uma nova surpresa: “Estava tudo escuro e, quando acendemos a luz, tinha uma criança, de apenas 5 anos. Descobrimos que era o filho dele, autista. Ele o havia deixado sozinho em casa, para poder encontrar com essa menina de 9 anos”, disse Ione. Segundo ela, toda a família ficou surpresa com a prisão. “A esposa dele ficou paralisada. Quando chegamos à casa, chamamos primeiro a sogra do suspeito, que ligou para a filha. Ela saiu do trabalho e ficou muito assustada. Não desconfiavam.” A policial acrescentou que o casal havia combinado de ela trabalhar, enquanto ele cuidava do filho.
O homem foi levado para a 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, em Santa Terezinha, e preso em flagrante pelos três crimes. “Ele foi autuado por tentativa de estupro de vulnerável, porque só não chegou ao ato por circunstância alheia à sua vontade, já que foi abordado antes pela polícia”, explicou a delegada. “Quanto ao abandono de incapaz, nós realmente constatamos que o filho dele estava sozinho naquele momento.” Além disso, a polícia obteve a comprovação da transmissão de material pornográfico feita por e-mail, para evitar a censura do Facebook.
A delegada acrescentou que vai pedir à Justiça a conversão da prisão em flagrante para preventiva. “O perfil dele se encaixa no de um pedófilo, e parece que ele realmente tinha contato com outras crianças. Vamos iniciar as investigações. Com ele preso, temos dez dias para concluir o inquérito e enviar à Justiça, procedendo os indiciamentos, se for o caso.”
Amigo de criança no perfil ‘fake’
O empresário de 33 anos que descobriu o fato de sua filha estar sendo assediada por um suposto pedófilo na rede social Facebook contou que teve conversas sexualmente pesadas com o suspeito, o qual pensava estar em contato com uma menina de 9 anos. “Quando eu entrava no Facebook dela, ia direto para a caixa de mensagens. Percebi que ele elogiava muito o corpo dela, e vi que só tinha a foto do Batman. Os amigos dele também eram todos da faixa etária da minha filha, e 90% eram meninas. Então concluí que se tratava de um perfil fake.”
A partir daí, o empresário mudou a senha da rede social e contou para a filha o que estava acontecendo. “Expliquei que existem pessoas más que fazem isso.” O pai assumiu o lugar da criança para ver até onde o possível abusador iria. “Comecei a conversar como se fosse ela, durante umas três semanas. Mas só na primeira vez o peguei on-line. Ele falava que estava apaixonado e queria me conhecer pessoalmente. Eu respondia com carinhas e linguagem infantil para não chamar a atenção.”
Na quarta, o empresário voltou a fisgar o suspeito on-line e decidiu acionar a polícia. “Ele estava mais atirado, falando abertamente o que queria fazer com ela, coisas pesadas, sexuais. Então coloquei cara de assustada. Ele também quis saber a rotina dos pais, falando que queria encontrar.” Para conseguir as características do suspeito, o pai pediu uma foto dele, que foi enviada por e-mail. O suposto pedófilo já havia utilizado o endereço eletrônico para mandar fotos e vídeos de adultos com crianças. “Eu havia perguntado o que eram aquelas coisas obscenas que ele queria fazer comigo”, contou o empresário.
Ele disse que fez a filha pensar que o encontro se tratava apenas de um ensaio. “Faço teatro com ela e não queria que ficasse nervosa.” O suspeito foi abordado pela polícia quando estava dentro de seu próprio carro, em frente à padaria.
Monitoramento
O empresário revelou que havia relutado em criar um perfil na rede social para a filha, mas sempre monitorou as amizades e conversas, e orienta a outros pais a fazer o mesmo. “Ela pedia para eu fazer um Facebook, mas achava que não era o momento. Em janeiro, resolvi fazer, mas entrava uma vez por semana. Também pedia para ela me falar sempre que adicionava alguém. Nesse caso (do suspeito), o nome fake era parecido com o de um parente, e pensei que era gente conhecida, até eu ver a conversa.”
Quinta prisão por abuso
Em menos de três meses, já são cinco suspeitos presos na cidade por possíveis abusos de crianças. “Na verdade, sempre teve esse tipo de crime, mas como está sendo mais divulgado, os pais estão mais alertas e denunciando, assim como as crianças”, avaliou a delegada Ione Barbosa. Segundo ela, em relação às ocorrências de estupro de vulnerável existe sub-registro ou cifra negra, que é um tipo de crime recorrente, que não chega à polícia. “O que chega para a gente é muito pouco perto do que realmente acontece.”
Em julho, veio à tona o caso de uma menina de 10 anos, que teria sido abusada pelo próprio tio, 35, durante cerca de seis meses. No decorrer das investigações, a polícia também descobriu que ela teria sido molestada por um idoso, 70, do convívio familiar dela. Já neste mês, um homem, 48, foi preso por suspeita de abusar sexualmente de um menino, 10, que ele teria mantido em cárcere privado por dois dias em uma casa.
Para a delegada, o caso do pai que ajudou a desmascarar um suposto pedófilo foi “emblemático”. “Que sirva para toda a sociedade ficar alerta. A menina é uma criança de apenas 9 anos, que nem tem corpo de mulher, e ele estava querendo se envolver com ela.” Ione disse que o empresário agiu corretamente. “O responsável deve investigar o que as crianças estão fazendo nas redes sociais, e a polícia deve ser acionada em caso de suspeita. Nosso papel é investigar e apurar de forma intensificada dentro dos limites da lei.”
A policial lembrou que as redes sociais são a forma mais fácil de aproximação. “Esse suspeito, em um dos momentos, falou que tinha 22 anos e usava perfil falso. O fato de ele ter enviado fotos e vídeos pornográficos demonstra a persuasão que tem. Parece que estava preparando a criança para o que realmente queria, que seriam os atos sexuais. O pedófilo é dócil, educado, tem carisma e poder de sedução muito grande.”