A Polícia Civil prendeu na manhã desta terça-feira (12) o comerciante de 41 anos suspeito de matar com um tiro no rosto uma jovem, 21, dentro de sua própria mercearia, no dia 4 de agosto, no Bairro Santo Antônio, na Zona Sudeste. O crime é tratado como feminicídio, já que o homem teria tido uma relação extraconjugal com a vítima, Cíntia Scaldini Aleixo Alves. Segundo as investigações, ele estaria se sentindo ameaçado pela possível divulgação de um vídeo seu em ações pornográficas e pela probabilidade de a filha da vítima, de 3 meses, ser dele, colocando em xeque seu casamento.
O suspeito foi capturado pela equipe da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Lima Duarte, a cerca de 50 quilômetros de Juiz de Fora. Segundo a delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, logo após o crime ele teria fechado o estabelecimento comercial e se mudado para o Centro do pequeno município com a esposa e a filha do casal, de 10 anos. O comerciante sustenta a versão de que o disparo fatal contra a vítima foi um acidente. “Ele fala que queria só dar um susto nela”, contou a delegada, acrescentando que o homem alega ter sido chantageado pela jovem devido ao vídeo pornográfico enviado por ele.
Mesmo com a prisão preventiva do suspeito e um inquérito com quase 200 páginas, as investigações continuam no intuito de obter mais provas e também comprovar a suposta participação da esposa dele, 40. A polícia chegou a solicitar o mandado de prisão da mulher, mas a Justiça indeferiu o pedido. Ione adiantou que pretende fazer acareações entre o casal, devido a depoimentos contraditórios. Outro fato que pode alavancar a elucidação do caso foi a apreensão, nesta manhã em Lima Duarte, do equipamento de gravação do sistema de segurança da mercearia. O material já foi encaminhado à perícia, que pode conseguir recuperar as imagens do estabelecimento comercial no dia do assassinato.
“Com a prisão, esperamos prosseguir de forma mais eficaz e com mais tranquilidade as investigações. Embora ele tenha se apresentado quatro dias após o crime, agora vamos ter mais acesso ao investigado e poder fazer uma acareação entre ele e a esposa”, justificou a delegada. “A nossa representação pela preventiva dele é pelo fato de os indícios apontarem que houve dolo e não um mero acidente. Ele utilizou um revólver 32, e a possibilidade de acontecer um disparo acidental com esse tipo de arma é remota.” Ione também pretende ouvir outras testemunhas, as quais poderiam ser coagidas pelo comerciante caso ele estivesse em liberdade. “Ele poderia dificultar declarações claras e coerentes.” O Ministério Público também solicitou outras diligências.
A delegada acredita que Cíntia foi atraída até a mercearia em uma espécie de emboscada. “No dia, de alguma forma, ele a surpreendeu. Havia mandado várias mensagens, e a jovem foi ao encontro dele para ter uma relação sexual. Ela também iria discutir a questão do vídeo de cunho pornográfico, que seria uma ameaça à reputação dele ali na comunidade. O comerciante disse que a chamou para dar um susto, mas, na verdade, os indícios são todos de que ele queria ceifar a vida dela. Também há indícios do envolvimento da esposa dele nesse sentido”, explicou Ione, acrescentando que a suposta filha da vítima com o suspeito ainda poderia representar uma ameaça ao matrimônio dele.
Marcas de arrastamento
O crime teria acontecido no interior do estabelecimento comercial do investigado. Marcas de sangue indicavam que o corpo teria sido arrastado por cerca de três metros até o lado de fora, na Rua dos Vencedores. Para a polícia, o arrastamento pode ter sido uma tentativa fracassada de retirar o cadáver do local. Mas a Polícia Militar acabou sendo acionada pela própria esposa do comerciante, que estava no interior de sua residência, situada em frente ao estabelecimento. No dia da ação violenta, ela relatou ter ouvido um estampido e sido surpreendida pela entrada do marido em casa, dizendo que havia atirado na vítima e que sua vida havia acabado naquele momento, por isso iria fugir.
De fato, o suspeito escapou do flagrante, mas quatro dias depois se apresentou na delegacia junto com a mulher e na presença de advogados. Na ocasião, ele assumiu que tinha um relacionamento extraconjugal com Cíntia, morta com um tiro próximo ao nariz, e deu a versão de disparo acidental. Ele ainda alegou ter comprado a arma em uma feira para se proteger devido ao seu negócio. O homem foi encaminhado ao Ceresp, onde permanece à disposição da Justiça.
A Lei 13.104/2015 alterou o artigo 121 do Código Penal e transformou em crime hediondo o assassinato de mulheres no contexto da violência doméstica e familiar ou quando há menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Enquanto o homicídio simples prevê pena de seis a 12 anos de reclusão, o feminicídio tem pena que varia de 12 a 30 anos.