Uma mão espalmada, com uma aliança no dedo anelar. A imagem que representa o movimento “Eu escolhi esperar” é mais do que um símbolo. É um estilo de vida que vem sendo seguido por vários jovens do Brasil. Neste sábado, um dia depois do Dia dos Namorados, data em que o sexo faz parte da comemoração de boa parte dos casais, Juiz de Fora recebe um evento voltado para aqueles que decidiram iniciar a vida sexual somente após o casamento. Cerca de mil participantes – a maioria evangélicos – são esperados na Primeira Igreja Batista de Juiz de Fora, no Bairro Mariano Procópio. Serão uma manhã e uma tarde dedicadas a palestras, tira-dúvidas, músicas e muita conversa sobre… sexo!
O tema não é tabu entre quem prefere se guardar. E eles não escondem que existe, sim, a tentação. “Não namorávamos no escuro, não ficávamos em casa quando nossos pais não estavam”, diz a bancária Danielle Campos Lima, 26 anos. Casada há sete meses, ela garante que desde criança decidiu se guardar para o marido. E o pretendente apareceu em fevereiro de 2011, na mesma igreja que ela frequenta.
O marido, o técnico em eletrotécnica e estudante de engenharia Samuel de Lima Silva, 25, também havia decidido esperar o casamento para ter sua primeira relação sexual. “Sempre pedi a Deus uma pessoa certa para poder casar, ter filhos. É um ponto fora da curva achar homens que querem casar e ter uma família hoje em dia.” Apesar da tentação natural, ele garante que vale a pena esperar. “Quando a gente sabe por quem a gente faz e por que a gente faz, tudo fica mais fácil.”
Samuel não nega que a escolha acaba fazendo com que os casais subam mais cedo ao altar. “Mas o movimento estimula os relacionamentos a terem um propósito, não serem vazios e passageiros. Talvez (o casamento mais cedo) seja uma consequência natural, mas é muito fruto dessa busca de viver com uma pessoa pelo resto da vida”, explica.
‘O impulso é do ser humano, mas a escolha tem que ser racional’
A pedagoga Priscilla de Andrade Batista da Silva tinha 15 anos quando conheceu o jovem de 18 com quem viria a se casar cinco anos depois. Desde o início, eles decidiram que aguardariam pelo casamento para ter a primeira relação sexual. Hoje com 28 anos, Priscilla garante que a decisão de esperar não é uma alienação imposta pela igreja. “O impulso é do ser humano, mas a escolha tem que ser racional. Eu vi o que era científico, vi o que era de valor. E essa foi a minha escolha. E minha escolha está pautada em outras questões também.”
Da mesma forma pensa seu atual marido, o perito de sinistro de autos Clayton Ferreira da Silva, 30, que, desde a juventude, também escolheu se guardar. “Queria alguém que ficasse comigo a vida inteira, tivesse a mesma visão de Cristo, ou seja, uma vida pautada no Cristianismo. Eu me guardar para minha esposa era fundamental. Queria alguém que me completasse não só na vida sexual, mas na convivência, nas conversas, alguém com quem eu pudesse desfrutar da vida por completo.”
O casamento já dura sete anos. E Priscilla garante que o fato de descobrir o corpo e o desempenho sexual do marido só após o casamento não é problema. “Normalmente dizem que você precisa conhecer várias pessoas para saber se tem química. Mas, depois que você se casa, a igreja também te dá a estrutura para lidar com esse casamento e a vida sexual a dois. Aqui na igreja, por exemplo, acontecem o encontro e o retiro de casais, quando vêm médicos e ginecologistas para dar orientações, tanto para quem já fez (sexo), quanto para quem ainda não fez.”
‘Tempo de desafios’
O pastor Aloizio Penido Bertho, líder da Primeira Igreja Batista de Juiz de Fora, defende que a recomendação de se guardar não é um ensinamento retrógrado, mas também não é libertino. “Vivemos num tempo de desafios, com famílias alternativas e a sexualidade praticamente liberada. Mas há um povo que teme a Deus e que vive completamente fora do contexto desse mundo libertino. Essa coisa de ter que experimentar primeiro é de uma sociedade sem Deus.”
Quase 3 milhões de seguidores
Mais de 200 mil pessoas já participaram dos seminários do “Eu escolhi esperar” em todo o país. A página da campanha no Facebook reúne mais de 2,7 milhões de seguidores. Os eventos são abertos a cristãos de qualquer denominação religiosa, mas o movimento nasceu e hoje vem sendo divulgado principalmente pelas denominações protestantes.
A campanha começou oficialmente em março de 2011. Foi idealizada por Nelson Neto Junior, um jovem que escolheu esperar quando ainda era um adolescente de 11 anos. Desde 1998, Nelson que é formado em teologia, é pastor e membro da Associação de Pastores Evangélicos de Vila Velha (ES). Hoje o movimento virou um negócio e conta com uma loja virtual onde são vendidas camisas, chaveiros, pulseiras e outros produtos com a marca “Eu escolhi esperar”.