De acordo com a sabedoria popular, “a palavra é prata, e o silêncio é ouro”. E em Juiz de Fora, os frequentadores da Biblioteca Municipal Murilo Mendes conseguem aplicar o provérbio na prática. Isso porque o local, que completou 125 anos e, atualmente, é sediado no complexo do Mercado Municipal, bem no Centro da cidade, é procurado por leitores que buscam conhecimento e silêncio para adquiri-lo.
Antes da chegada e da popularização da internet, as bibliotecas eram consideradas a principal fonte de informação para auxiliar em pesquisas. Atualmente, entretanto, a biblioteca passou a ser um local mais procurado para estudos, por ser silencioso e favorável para a concentração, pois muitas pessoas não possuem condição de ter o mesmo em casa. Além disso, na biblioteca é possível ter acesso a documentos históricos, edições de jornais e livros não digitalizados, por exemplo.
Segundo a supervisora da Biblioteca Municipal, Maria de Fátima Araújo, os frequentadores mais assíduos buscam na biblioteca um local para estudar para concursos e provas, chegando a ficar horas a fio, até o fechamento, durante anos. “Ter um espaço silencioso é de suma importância para diminuir as distrações e o estresse. Muitos de nossos usuários usam a biblioteca por não terem um espaço adequado em casa”, explica a supervisora.
Além dos concurseiros, pessoas em situação de rua e leitores que preferem folhear as páginas dos livros físicos são outros grupos que frequentam a biblioteca de Juiz de Fora não só para adquirir conhecimento, mas também acessar uma nova realidade, desenvolver pensamento crítico e buscar liberdade e melhoria nas condições de vida. Maria de Fátima acompanhou a trajetória de vários deles durante anos, e afirma que “é uma felicidade enorme quando eles contam que passaram nas provas.” “Tinha um grupo de estudantes que até das festas de final de ano participaram, devido ao carinho que os funcionários tinham por eles”, conta.
‘Lição de vida’
Amauri de Paula é uma das pessoas que busca, na biblioteca, a fonte para melhorar sua condição de vida. Ele frequenta a Biblioteca Municipal desde 2010, com o objetivo de aperfeiçoar os estudos, como o de língua inglesa, para buscar melhores oportunidades de profissão. À Tribuna, ele disse que “o livro é uma lição de vida.”
A estudante e concurseira Laíse Bisaggio de Souza, revela que frequenta a biblioteca desde a época em que estava no colégio, pois gostava de realizar trabalhos no local por conta da disponibilidade dos livros. Anos depois, Laíse ainda frequenta a Biblioteca Municipal para estudar para vestibulares e concursos, passando em média cinco horas por dia no local. “Eu me sinto em um lugar tranquilo, e, ao mesmo tempo, me incentiva a estudar. É muito satisfatório ter um lugar calmo e silencioso na hora dos estudos, influencia muito no rendimento”, explica a estudante.
Já o estudante de Física da UFJF, Leandro Ávila, prefere frequentar a Biblioteca da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde, desde 2018, quando ainda era calouro, encontra materiais. Agora, finalizando a sua graduação, ele ainda visita o espaço de duas a três vezes por mês durante o período letivo, pois acredita que é um ambiente ideal para o estudo, tanto sozinho, quanto em grupo. Apesar de ter diminuído a frequência das idas ao espaço, a tranquilidade proporcionada pelo silêncio ainda o cativa, sendo fundamental para ele conseguir se concentrar com facilidade.
Acervo tem mais de 500 anos de história
A Biblioteca Municipal Murilo Mendes, pertencente à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage, possui um acervo diversificado, com mais de 75 mil livros, incluindo obras antigas, históricas e importantes para a construção da memória nacional. O livro mais antigo da coleção é “Eusebius Evangélica”, datado de 1501, além de uma edição histórica da Bíblia, de 1716. No setor de memória, há exemplares dos mais importantes jornais que circularam na cidade, dos séculos XIX ao XXI. O acervo da Biblioteca Municipal reúne coleções do Jornal do Commercio, Correio de Minas, Diário Mercantil, Tribuna de Minas, entre outros, sendo o jornal mais antigo “O Pharol”, de 10 de fevereiro de 1876.
Entre as publicações do século XIX, é possível encontrar, por exemplo, anúncios de escravos fugidos, mostrando o drama do comércio e da exploração humana em Juiz de Fora, além de elementos que fazem parte da história. “A memória é um elemento essencial para a cidade e para o Brasil, é o alicerce que dá sentido à vida. A identidade da cidade e da cultura está nas memórias. Preservar a memória é manter a história viva do povo”, afirma a supervisora da biblioteca, Fátima.
De acordo com Fátima, por mês, entre os anos de 2005 até 2020, antes da pandemia, o setor de referência, empréstimo e periódico da Biblioteca Municipal possuía uma média de mais de mil usuários mensais cada. No setor de Infanto Juvenil, eram 500 usuários, e no de Memória, 83. Atualmente, os números diminuíram drasticamente: a média mensal é de 17 usuários mensais para periódicos, 166 para o Infanto Juvenil, 556 para empréstimo, 133 para referência e cinco para memória, considerando os dois primeiros meses do ano, de acordo com dados da coordenação da biblioteca.
Dia do Bibliotecário é comemorado neste domingo
Zelar pela biblioteca, sua organização, trabalhar com o conhecimento do acervo e gerenciar as fontes da informação são apenas algumas das funções de um bibliotecário. É o que explica o bibliotecário documentalista Sérgio Crisóstomo dos Reis. Ele iniciou seu trabalho em 2010, na UFJF, e atualmente é coordenador das bibliotecas da Universidade.
O bibliotecário conta que existe muito trabalho na organização do acervo físico e digital, que é feita sempre pensando no que pode facilitar o acesso dos alunos ao material. O acervo híbrido conta com trabalhos de conclusão de curso, revistas e livros, existindo, aproximadamente, 382 mil exemplares cadastrados no sistema. A biblioteca da UFJF é composta por um acervo de obras da literatura brasileira e internacional, abrangendo temas desde a história do Brasil até a história mundial. Além disso, possui muitas obras raras, como uma Bíblia em latim datada de 1540, sendo provável que exista apenas este exemplar no Brasil.
“O nosso propósito é formar pessoas, através da excelência no atendimento. O trabalho é dinâmico, e a cada dia temos diversas demandas a serem executadas, nunca há rotina”, reflete Sérgio. Ele conta que trabalhar em uma biblioteca é um privilégio, por estar no “templo do saber”, já que, na Idade Média, a figura do bibliotecário chegava até a acorrentar livros para que não fossem roubados, levando a alcunha de “guardião do saber”. “Com o advento das tecnologias da informação e comunicação, o profissional bibliotecário mudou. Hoje ele deixou de ser guardião para ser o cientista da informação, o divulgador do conhecimento, desmistificando e facilitando o acesso ao conhecimento em todos seus formatos”.
O bibliotecário Sérgio conta que além dos 20 mil alunos, as bibliotecas universitárias da UFJF são públicas e estão abertas para toda a comunidade, sendo permitido o acesso aos livros e a algumas bases de dados para estudos no local. “Muitas pessoas gostam de vir estudar, pois é um ambiente acolhedor e propício para os estudos, temos muitos frequentadores concurseiros”, diz o documentalista.
I Encontro dos Bibliotecários de Juiz de Fora promove integração
No dia 23 de março acontecerá o I Encontro dos Bibliotecários de Juiz de Fora, com o objetivo de fortalecer a profissão e promover a integração entre os bibliotecários do município. A UFJF, por meio do Centro de Difusão do Conhecimento (CDC), vai promover o evento das 13h30 às 18h, no auditório da Reitoria da UFJF. A entrada é gratuita, e o evento também será transmitido ao vivo pelo canal da Biblioteca no Youtube.
Dentre os palestrantes convidados, destacam-se Álamo Chaves de Oliveira Pinheiro, presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia, o professor doutor Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda, coordenador do PPGB da UNIRIO, e a professora doutora Viviane Santos de Oliveira Veiga, coordenadora da Rede de Bibliotecas da Fiocruz. Para mais informações sobre o evento, os interessados podem entrar em contato com a secretaria do CDC através do telefone (32) 2102-3761 ou pelo e-mail secretaria.cdc@ufjf.br. Os participantes receberão certificado pela presença.