O estudante da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), André de Oliveira Fonseca, que cursa Ciências Biológicas, ajudou na descoberta de uma nova espécie de réptil pré-histórico. Em abril, ele iniciou o estágio na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, após entrar em contato com o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA), um dos maiores centros de paleontologia do país, local onde sempre sonhou estagiar.
No estágio, além da parte teórica, muitas atividades práticas como ir a campo e a sítios fossilíferos para escavações eram realizadas. Em um 31 de maio, aparentemente comum, aconteceu o achado do fóssil. Segundo André, sua equipe tinha ido deixar um colega na cidade de Agudo (RS), para ministrar um curso de comunicação científica, quando tudo ocorreu. “Enquanto esperávamos, visitamos um sítio fossilífero próximo. Ao explorar o local, meu orientador acabou achando o osso da coxa saindo do barranco”, conta sobre a descoberta. A confirmação de que era uma nova espécie veio quando eles limpavam o material, sendo notada uma série de características que o diferenciava de todos os demais proterochampsídeos.
Assim, o Stenoscelida aurantiacus havia sido descoberto. O estudante ajudou a retirar o material do solo, limpar e levar para o laboratório. O nome Stenoscelida vem do grego e significa perna delgada. Já aurantiacus, do latim, significa laranja por causa da coloração alaranjada do solo de onde o fóssil foi escavado. Segundo a pesquisa, o réptil tinha focinho alongado como o de jacarés e crocodilos. Um artigo foi publicado no “Journal of Systematic Palaeontology”, tendo um alto impacto na comunidade científica.
O estudante André foi um dos autores e conta que está muito feliz de ter participado da descoberta, sendo uma forma de confirmação vocacional para ele, que gostaria de seguir na área da paleontologia. “A descoberta de uma nova espécie implica em um maior conhecimento da biodiversidade de um ambiente, seja ela viva ou extinta. O Stenoscelida, além disso, tem uma anatomia peculiar que levantou perguntas sobre a locomoção de outros grupos, como os dinossauros”, ressalta o estudante sobre a importância da busca por fósseis.
Como os jacarés
De acordo com os pesquisadores, é estimado que o réptil tivesse, aproximadamente, 1,40m de comprimento, era carnívoro e andava sobre quatro patas, como os jacarés. Eles ainda concluíram que essa linhagem de répteis foi extinta durante o início da Era Mesozóica, não deixando descendentes. Um ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato dessa espécie ter algumas características que não estavam presentes em outros membros desse grupo, como a forma de inserção e fixação de alguns músculos no fêmur, indicando que esses animais poderiam ter uma postura um pouco mais avançada para o estado evolutivo deles. O estudante André retornou à Juiz de Fora para terminar a graduação, mas pretende voltar para Santa Maria para realizar a pós-graduação.