A Justiça determinou que o policial rodoviário federal suspeito de matar a tiros o colega de trabalho Cristiano Scapin Teixeira seja transferido de forma imediata para a Superintendência da Polícia Rodoviária Federal do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada à Tribuna pela 4ª Vara Federal Cível e Criminal. Desde o dia 24 de novembro, quando ocorreu o crime, por se tratar de policial, o suspeito estava no 2º Batalhão da Polícia Militar, em Santa Terezinha, Zona Nordeste, onde permanecia acautelado à disposição da Justiça Federal.
Assinada pelo juiz Rafael Franklim Bussolari em 9 de dezembro, a decisão “atende ao disposto na referida lei, bem como à conveniência da instrução criminal, considerando a impossibilidade de sua transferência para o Ceresp de Juiz de Fora em razão de sua segurança pessoal, na qualidade de Policial Rodoviário Federal, e a inviabilidade apontada pela Corregedoria Geral da Polícia Militar de Minas Gerais para sua permanência no 2º Batalhão da Polícia Militar em Juiz de Fora”.
Outra solução, segundo a decisão, seria a transferência do preso para a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (MG), município localizado a 280 km de Juiz de Fora, conforme requerido, alternativamente, pelo Ministério Público Federal. No entanto, segundo a avaliação do juiz, a alternativa não é considerada a mais adequada. O suspeito deverá ficar recolhido em sala especial da repartição, “sob a responsabilidade do seu dirigente, sendo-lhe defeso exercer qualquer atividade funcional, ou sair da repartição sem expressa autorização do Juízo”.
Apesar da decisão judicial, a defesa do acusado argumentou que a manutenção do custodiado em Juiz de Fora favorece as investigações, “pois, desde que esteve na Polícia Federal (24.11.2019), coopera”, e “também deve ser mantida em virtude da sua família residir aqui e para ter acesso, com maior rapidez, aos seus advogados”, diz o texto. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do policial para obter mais informações.
Discussão que terminou em tragédia
Conforme o boletim de ocorrência, registrado na data do crime, Cristiano Scapin Teixeira estava de plantão junto com outros dois policiais, incluindo uma mulher. O suspeito de atirar relatou ter ido até o posto para aguardar outro colega, que viajava de Contagem para o Rio de Janeiro. Eles seguiriam juntos para o encontro de chefes de delegacia, previsto para acontecer no segunda-feira seguinte na capital fluminense. Ao chegar na unidade operacional, o suspeito viu as luzes internas apagadas e disse ter achado não haver ninguém. Mesmo assim, bateu à porta e foi atendido por Scapin, que teria lhe perguntado em tom agressivo: “Que você está fazendo aqui?”.
Após ser informado que iria encontrar-se com um inspetor vindo de BH, Scapin teria permanecido parado obstruindo a entrada, inclusive após pedido de licença, mas acabou permitindo que o policial entrasse. Ainda conforme as declarações do homem preso em flagrante, ele pediu para usar o computador a fim de fechar sua parte do plantão do dia anterior, e o colega teria respondido de forma ríspida. Os ânimos teriam ficado exaltados após o policial rodoviário, que estava fora de seu horário de serviço, dizer que iria acender a luz interna. Segundo ele, a vítima teria gritado para ele não acender por se tratar de posto de polícia, alegando que os usuários não poderiam ver lá dentro.
Antes de atirar, o profissional teria pedido calma a Scapin, que teria falado mais uma frase hostil e levado bruscamente a mão à cintura, “num movimento típico de saque de arma”. O policial preso afirmou ter agido “em reflexo de legítima defesa”, sacando sua pistola e efetuando dois disparos contra o colega. Ninguém teria presenciado a discussão. O suspeito recebeu os colegas e solicitou que acionassem o serviço médico. Em seguida, o autor dos disparos entregou sua arma e disse que se apresentaria espontaneamente na Polícia Federal. As quatro pistolas Glock calibre 9mm, pertencentes ao suspeito, à vítima e aos dois policiais de plantão no dia foram apreendidas pela PF.