A Polícia Militar (PM) irá reforçar a segurança no Calçadão da Rua Halfeld, no Centro, a partir do próximo sábado (15). O local é o principal espaço utilizado por candidatos às eleições para a realização de campanha política. A decisão de redobrar os cuidados foi dada em virtude do episódio de agressão contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) ocorrido na última quinta-feira (6). O anúncio foi feito pelo comandante da 4ª Região da PM, coronel Alexandre Nocelli, durante a participação no programa Debate da Rádio CBN Juiz de Fora .
Na ocasião, Nocelli também adiantou os detalhes do esquema de segurança que será realizado no dia 7 de outubro, primeiro turno das eleições. “Já estamos tratando deste trabalho há cinco meses, nos reunindo com juízes eleitorais e chefes de cartório. Teremos toda uma dinâmica para o dia. Estas eleições preocupam não só pelo episódio (agressão ao Bolsonaro), mas pelo cenário que está se desenhando. É importante apelar para que as pessoas sejam mais comedidas e sensatas. A violência não leva à nada.”
Ele explica que o planejamento ainda será apresentado formalmente à Justiça Eleitoral. A princípio, todos os locais de votação contarão com a presença de, pelo menos, um policial militar. “As urnas estão no 2º Batalhão e serão distribuídas no dia anterior (6) e na madrugada do dia (7). Já temos rotas pré-definidas.” A PM será responsável por fazer a entrega dos equipamentos para os mesários. “A dinâmica de segurança irá envolver policiamento motorizado e a equipe de recobrimento. Teremos policiamento das 5h às 17h.” O trabalho também incluirá apoio aos 86 municípios da região. “O policiamento especializado estará de prontidão e disponível para deslocamento, até mesmo de aeronave, caso haja necessidade em cidades vizinhas ou em Juiz de Fora. Estaremos todos nas ruas para garantir que o pleito seja tranquilo.”
Monitoramento de redes sociais
Durante o programa, Nocelli relembrou como foi a atuação da PM no dia em que Bolsonaro foi esfaqueado. “Foi um fato lamentável e inusitado. É bom frisar que nós temos um procedimento sobre como atuar numa situação dessas. Num primeiro momento, a nossa preocupação era a polarização de grupos em torno da política e um possível enfrentamento entre eles. A gente vinha monitorando, através do sistema de inteligência, as redes sociais. No dia, estávamos com aproximadamente 30 agentes de inteligência e dois pelotões de choque. Nosso mote de atuação era evitar este confronto, relembrando que a segurança da autoridade era da Polícia Federal.”
Segundo ele, embora existisse um planejamento e a Polícia Federal tenha feito tudo o que podia, em um dado momento, a atuação policial ficou impossibilitada. “Nós estamos num momento de franca campanha política, e o candidato estava nos braços dos correligionários, então, ele assumiu o risco. Não é o primeiro e nem o último candidato que faz isto. Teoricamente, teríamos que ter cordões em volta da autoridade, mas isso não combina com campanha política”, diz. “Quando tudo ocorreu, a resposta foi imediata. Nós conseguimos socorrê-lo, retiramos o infrator da multidão e o levamos à delegacia da Polícia Federal.”
Para o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, Renato Loures, a agilidade da PM foi fundamental para o socorro médico de Bolsonaro. “Foi isso que nos permitiu atender rapidamente ao candidato, que com um atraso maior correria risco letal e, consequentemente, iria trazer repercussões muito negativas para a nossa cidade.” Ele lembra que o deputado chegou ao hospital em choque pela perda de sangue, que foi estabilizada com uso de medicação. “Bolsonaro foi atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e apesar do tumulto inicial com a chegada dele à emergência, o atendimento não foi prejudicado”, afirmou Loures.
Repercussão política
Também participando do debate, o cientista político e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Diogo Tourino avaliou a repercussão política da agressão a Bolsonaro. “O incidente serviu para fortalecer entre o eleitorado e as pessoas simpáticas à candidatura dele o posicionamento que já tinham, mas não é capaz de reverter o índice de rejeição, que não é muito volátil”, analisa. “É mais fácil convencer brancos, nulos e indecisos do que mudar o índice de rejeição.”
Para ele, o episódio corroborou o discurso adotado pelo candidato. “É um incidente lamentável, deplorável e que deve ser condenado sob vários aspectos: político, social e humanitário. É um episódio perverso, que não foi bom em nada. Mas um dos efeitos é corroborar o discurso de Bolsonaro, que se mostra como candidato que é antissistema, que está incomodando, o que permite que parte dos indecisos se assuma neste discurso.” Outro efeito é o fato de o presidenciável se afastar das sabatinas. “Ele tem grande facilidade de produzir pautas contra ele mesmo. Falar e aparecer menos nos debates facilita a situação (para Bolsonaro).”
Sobre as possibilidades de segundo turno, Diogo acredita que o cenário ainda é muito pulverizado. “Ainda teremos três semanas até as eleições. Temos visto Ciro Gomes em uma boa campanha, inclusive, conseguindo herdar a maior parte do legado que era de Lula. Mas a estratégia do PT ainda não avançou com toda a força, o que deve acontecer a partir desta terça (11) com o anúncio oficial de Haddad como nome do partido, e não podemos desprezar o fato de que ele subiu cinco pontos percentuais nas pesquisas.”