Embora a maioria dos infectados pela Covid-19 em Juiz de Fora sempre tenha sido pessoas mais jovens, na faixa etária de 30 a 39 anos, os pacientes que precisavam de internação hospitalar eram, em sua maior parte, idosos. No atual momento da pandemia, no entanto, o cenário tem mudado. De acordo com dados da Secretaria de Saúde, mais da metade (52,31%) das pessoas internadas, nesta quarta-feira na cidade, em leitos intensivos credenciados ao SUS têm menos de 60 anos. O percentual corresponde a 113 pacientes com idades abaixo de 60. Idosos são 109 pacientes (47,69%).
Além de apontarem mudança no perfil das hospitalizações, os dados da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) também evidenciam uma escalada na internação de pessoas mais jovens este ano. Em janeiro, pessoas abaixo de 60 anos anos somavam 32,75% dos pacientes em leitos UTI Covid do SUS. Em fevereiro, o percentual aumentou para 49,43%.
Para o infectologista e chefe do setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), Rodrigo Daniel de Souza, ainda que não haja evidências científicas sobre o motivo de maior agravamento de pessoas mais jovens com a doença, essa circunstância tem sido observada em diferentes partes do Brasil. “Pode ter relação com a introdução de novas variantes do vírus, mas isso ainda é uma inferência. Como isso tem acontecido no país todo, a gente tende a pensar que a variante pode ser mais agressiva e também acometer mais em jovens, que se expõem muito mais e que podem estar se agravando primeiro”, analisa.
O médico também pontua que é importante considerar outras variáveis. “Apesar de ainda ser recente, a própria vacinação contra a doença em pessoas idosas também pode ter relação com a diminuição de casos graves neste público. Mas é preciso considerar todas as outras variantes também.” O especialista também tem percebido maior ocorrência de formas graves da Covid-19 em pessoas abaixo de 60 anos. “Era ocasional um jovem mais grave, agora está cada vez mais frequente. Em um primeiro momento podemos achar que é pelo maior número de pessoas contaminadas. Mas não é coincidência, é uma realidade nos hospitais da cidade e os dados da Prefeitura evidenciam essa mudança no perfil.”
Ante o atual momento da pandemia e a escassez de oferta de leitos de unidade de terapia intensiva na cidade, na terça, a Prefeitura recebeu prefeitos que integram a Associação dos Municípios Microrregião Vale Paraibuna para discutir a situação. Na ocasião, a secretária de Saúde da PJF, Ana Pimentel, defendeu a unidade regional também para enfrentamento da Covid-19 e citou que, agora, os pacientes hospitalizados têm permanecido mais tempo internados. “Este momento é o mais diferenciado e delicado que já vivemos, e a doença não é mais tão previsível. O aumento do número de casos é acompanhado de uma maior permanência dos adoecidos em leitos.”
15 pacientes com Covid-19 foram transferidos de JF até esta quarta
A taxa de ocupação de leitos intensivos em Juiz de Fora e o alto número de internações pela doença foram determinantes para que o Município regredisse para a faixa roxa (lockdown) do programa Juiz de Fora pela Vida, na última segunda. No domingo, o índice de ocupação de leitos UTI credenciados ao SUS chegou a 100% na cidade. Os dados atualizados nesta quarta mostram que 159 leitos intensivos estava ocupados e 277 estavam internados em equipamentos de enfermaria, totalizando 436 pacientes hospitalizados em decorrência da doença, com 93,97% de ocupação total UTI SUS (Covid). Acima de 85%, de acordo com a PJF, a situação é de alerta.
Nesta quarta, o número de internações simultâneas pela doença bateu recorde pelo segundo dia consecutivo. Na terça, a cidade havia registrado 435 pessoas internadas em leitos destinados ao tratamento da doença nos hospitais da cidade, até então, o maior número desde o início da pandemia em Juiz de Fora.
O momento delicado de Juiz de Fora em meio à pandemia, inclusive, resultou na transferência de 15 pacientes da cidade, internados por conta da Covid-19, para outros municípios da Zona da Mata e do Campos das Vertentes. Os números foram confirmados pela Secretaria Municipal da Saúde, com base em dados relativos ao período que vai de 1º a 10 de março.
A cidade que recebeu mais pacientes oriundos de Juiz de Fora foi Rio Pomba, destino final de quatro das 15 transferências. Santos Dumont recebeu três pacientes. Leopoldina, Muriaé e Ubá receberam dois pacientes cada. A lista de cidades tem ainda Cataguases e São João del Rei, para onde foram encaminhadas duas pessoas hospitalizadas por conta da doença.