Aparentemente inofensiva, a erva-de-passarinho, como popularmente é conhecida, tem chamado atenção daqueles que circulam pelas ruas de Juiz de Fora com olhar mais atento às árvores. A praga tem tomado conta delas e, se não for retirada, pode comprometer as espécies. No mês em que se comemora o dia da Árvore, a situação preocupa, principalmente por representar o risco de diminuir a arborização no município nos casos mais graves. Em 2012, a Tribuna já havia alertado para o problema e mostrou que Juiz de Fora é uma das cidades que concentra menos espaços verdes de Minas Gerais.
Na cidade, o índice de domicílios em áreas arborizadas (55,5%) é inferior à média nacional (68%), conforme o último levantamento, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juiz de Fora ocupa a posição 522, dos 853 municípios mineiros recenseados em 2010, no ranking de cidades por índice de arborização.
Nos últimos dias, o fotógrafo Felipe Couri fez flagrantes de árvores que estão afetadas com a erva-de-passarinho em diferentes pontos da cidade, como na esquina da Avenida Rio Branco com Rua Espírito Santo, no Centro, Avenida Presidente Costa e Silva, próximo à Rua Professor José Ribeiro, no Bairro São Pedro; Avenida Olegário Maciel em frente à Rua Silva Jardim e Rua Tiradentes, no Bairro Santa Helena, além das margens da linha férrea, na passagem de nível da Rua Pinto de Moura, no Poço Rico.
“O passarinho se alimenta da planta e defeca as sementes que caem em cima das árvores. Essas, por sua vez, germinam, penetram em algum tecido do arbusto. Depois de instalado, o parasita retira nutrientes e água e, se não for retirado, pode até causar a morte da planta hospedeira, ao longo dos anos”, alerta o professor do Departamento de Botânica da UFJF, Luiz Menini, para um problema que, segundo ele, não há como evitar, apenas tratar.
A disseminação da erva acontece por meio dos pássaros, daí o nome erva-de-passarinho. Sabe-se, no entanto, que é um tipo de parasita que não escolhe hospedeiro. De acordo com Menini, eles comem os frutos da parasita e, depois, transmitem a praga a outras árvores. “Em vez de buscar seu próprio alimento, ela suga a seiva pronta ocasionando o enfraquecimento progressivo da árvore e sua morte e, em casos mais severos, a queda”, conta o professor de botânica, acrescentando que, para o desenvolvimento da praga, é necessária luz, fato que independe do período do ano. “Nas florestas, o parasita costuma aparecer nas árvores localizadas nas bordas. Já no ambiente urbano, nota-se que elas sombream a copa do vegetal, ficando na parte mais alta. É uma planta clorofilada, ou seja, capaz de realizar fotossíntese e, por isso, está em busca de luz.”
Para descobrir se a árvore está contaminada, basta olhar os galhos, perceber raízes que se agrupam no tronco e acúmulos de sementes escuras que se destacam principalmente no inverno, com a perda das folhas da hospedeira, e indicam a presença da erva. A engenheira florestal da Secretaria de Meio Ambiente, Ana Maria Brandão Mendes, explicou que o tempo de vida de uma árvore afetada pela praga depende de sua resistência. “A presença da erva indica que a árvore tem alguma deficiência, normalmente relacionada à raiz. Aquelas que apresentam um bom estado fitossanitário são mais resistentes.”
Poda é a única forma de controle
O problema pode ser encontrado também em espécies cultivadas em propriedades particulares. É importante que cada morador verifique a presença desse parasita e faça a poda, “única forma de controle”, como afirmou Luiz Menini. Ele lembra que o problema pode ser agravado devido ao desconhecimento da população, já que as pessoas não percebem a proliferação e, para o leigo, o parasita é apenas mais uma parte da planta.
Em nota, a Empresa Municipal de Pavimentação e Urbanização (Empav), que cuida da vegetação na área urbana, informou que a praga não surge por falta de manutenção e que o serviço de poda é realizado de segunda a sexta-feira. “Por semana, podamos cerca de 30 árvores com erva-de-passarinho, fora as outras árvores que não têm erva, mas precisam de poda. O trabalho é feito sempre que necessário, conforme programação. Mas, em alguns pontos da cidade, o trabalho é mais dificultoso, devido ao trânsito intenso, caso da Avenida Rio Branco, pois o caminhão fica na via pública para realizar o trabalho”, diz o texto da nota. De acordo com a Empav, as podas das árvores citadas na reportagem já estão agendadas.