Os crimes violentos voltaram a cair em Juiz de Fora, totalizando 388 casos no primeiro semestre deste ano, ou 27,3% a menos em comparação ao mesmo período de 2020, quando foram registradas 534 ocorrências de homicídios, roubos, estupros, extorsões, sequestros e cárceres privados. As polícias Civil e Militar acreditam que estratégias e ações policiais implementadas ao longo dos últimos tempos ajudaram nessa redução, que já entra no sexto ano consecutivo. A queda acompanha a tendência das cidades mineiras com mais de 400 mil e menos de um milhão de habitantes: Montes Claros (31,1%), Betim (32,5%), Contagem (38,3%) e Uberlândia (30,6%).
“A diminuição dos crimes violentos em Juiz de Fora vem desde 2016. Fazendo uma comparação histórica, estamos quase chegando à faixa que tínhamos em 2010. Em 2015 houve um pico no estado inteiro, mas de lá para cá tivemos redução em cima de redução. Nossas metas são sempre sobre o resultado do ano anterior, então fica cada vez mais difícil cumpri-las. Mas as unidades estão fazendo o trabalho e conseguindo”, comemora o comandante da 4ª Região da PM, coronel Neir Adriano de Souza.
Segundo ele, as melhorias de logística, aliadas às novas tecnologias, permitiram à PM estar em mais lugares ao mesmo tempo e também a atuar de forma mais precisa e imediata. Com a média atual de dois crimes violentos por dia no município – em meio à população estimada pelo IBGE de 573.285 habitantes -, o comandante da 4ª Região da PM diz que “o grande desafio é traduzir os bons números na sensação de segurança da comunidade, para que as pessoas se sintam seguras em uma cidade que é segura. (…) Crime zero, infelizmente, não vai acontecer.”
Para o delegado regional Armando Avólio Neto, no âmbito da Polícia Civil a redução dos crimes violentos envolve diversos fatores, como a gestão dos recursos humanos e as investigações qualificadas. “Também foi criado o Núcleo de Acervo Cartorário, que assumiu investigações que demandam mais tempo, deixando os novos casos para as demais unidades, resultando em celeridade e evitando a perda de evidências de material probatório”. Além disso, as ações de inteligência auxiliam na resolução de muitos casos, sobretudo os de maior complexidade.
Integração
O delegado regional ressalta que, após incessantes trabalhos investigativos, quase 100% dos crimes de latrocínio e de homicídio ocorridos em 2021 foram apurados na cidade. “A PCMG tem indiciado e representado pela prisão de autores contumazes nos crimes violentos, fornecendo ao Judiciário o necessário para a decretação das prisões e de condenações.”
Para o chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, delegado-geral Gustavo Adélio Lara Ferreira, tal queda no índice de criminalidade violenta “se deve ao árduo trabalho das forças de segurança, às investigações bem executadas e ao combate a organizações criminosas”. “Tudo isso tem como fator preponderante as manifestações positivas do Ministério Público, com referência às requisições de medidas cautelares por parte dos delegados e às decisões favoráveis a esses pedidos pelo Judiciário.”
O delegado regional, Armando Avólio Neto, recorda a importância da integração entres as forças de segurança na cidade. “No primeiro semestre foram desencadeadas mais de 80 operações, contribuindo, de forma significativa, para essa redução de crimes violentos. Muitas dessas ações são realizadas em conjunto com outras instituições, resultando em grandes apreensões e em prisões”, diz, citando a apreensão de quatro toneladas de drogas e de armas em ação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) desencadeada em maio.
Roubos representam quase 80% dos crimes
Os roubos consumados e tentados representam quase 80% dos crimes violentos na cidade. Os assaltos a pedestres compõem a maioria deles, ocorridos principalmente na região central e nos bairros adjacentes. Embora em menor número, os delitos contra o patrimônio praticados em residências e estabelecimentos comerciais também preocupam (ver arte). “Combatemos e prevenimos os roubos com as operações presença, de visibilidade, e com as blitze, quando fazemos abordagens para identificar suspeitos. Às vezes, conseguimos desarmar quem está com arma de fogo ou arma branca, que possivelmente seria utilizada para a prática de algum crime violento”, diz o comandante do 2º Batalhão, tenente-coronel Henrique Aleixo.
O comandante da 4ª Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cia Ind PE), tenente-coronel Wallace Caetano, frisa que a qualidade das respostas imediatas também pode evitar um próximo crime. Os militares que atuam em motocicletas fazem ações de repressão aos ladrões que agem em veículos de duas rodas. “É uma constante hoje, e não podemos deixar de combater esse tipo de roubo, fazendo abordagens dinâmicas, com as motos em movimento, e também em blitze”, alerta o subcomandante do 27º Batalhão, major Jean Michel Amaral.
“A PM tem essa preocupação com o patrimônio do cidadão, então acompanhamos tanto os roubos, quanto os furtos, porque esses também impactam, apesar de não haver violência empregada”, avalia o comandante da 4ª Região, coronel Neir Adriano. No primeiro semestre deste ano houve 2.824 ocorrências de furto, contra 3.019 no mesmo recorte de 2020, resultando em queda de 6,46%. “Não podemos esquecer que o dever é nosso, mas a responsabilidade é de todos”, dispara o tenente-coronel Aleixo, sobre a importância da autoproteção para evitar ser vítima de crimes, sempre lembrada nas campanhas educativas da PM.
Sobre os crimes de estupro, o coronel Neir ressalta que a maioria acontece dentro de casa. “É o tipo de crime difícil de intervir para fazer uma prevenção, da mesma maneira que as extorsões, que têm acontecido por telefone, quando aplicam golpes (como do falso sequestro).” Ele considera que os números desses delitos são baixos. O tenente-coronel Caetano pondera que, além das campanhas educativas, a PM tenta prevenir esses crimes e os de violência doméstica – que podem culminar em casos de sequestro e cárcere privado – incentivando as denúncias, sobretudo pelo 181, que garante anonimato.
PM diz fazer ‘trabalho científico’
O comandante da 4ª Região da PM, coronel Neir Adriano, enfatiza que a tecnologia tem sido uma aliada nesse combate à criminalidade violenta, desde as câmeras do Olho Vivo, passando pela melhora dos sistemas de estatísticas e pelas viaturas equipadas com GPS, até o próprio celular, usado pelos militares no compartilhamento de informações e em aplicativos de segurança específicos. “Hoje o trabalho que fazemos é científico. A PM passou a mensurar os seus dados e a trabalhar com metas, utilizando a tecnologia para conseguir fazer o planejamento e a fiscalização.”
As redes de comerciantes e de vizinhos protegidos que, até há pouco tempo, exigiam a presença física constante dos militares, também passaram a ser eficientes mesmo à distância, graças à interação pelo WhatsApp. “A tecnologia auxilia muito, tanto para receber informação, quanto para passar alguma orientação à comunidade.” A aproximação entre polícia e morador também proporciona uma relação de confiança. “Com a cidade toda setorizada, cada policial é responsável por fazer o contato com quem trabalha ou reside naquele local”, contextualiza o coronel Neir.
Sensação de segurança
Para além dos números positivos, o comandante discorre sobre a importância de os juiz-foranos sentirem-se protegidos. “Quando setorizamos e diminuímos o território de atuação do militar é para que realmente ele conheça as pessoas daquele local e seja reconhecido também.”
As oito bases de segurança comunitária, estrategicamente espalhadas pelo município para atendimento e registro de ocorrências, também visam a essa interação com os moradores. “Nossa ideia não é trabalhar contra o infrator, mas a favor do cidadão de bem”, diz o coronel Neir, citando as grandes operações de visibilidade, que mobilizam grande efetivo e várias viaturas pela cidade, justamente para transmitir sensação de segurança. “Embora o foco seja na prevenção, não abrimos mão do trabalho repressivo”, pondera.
‘Monitoramos toda a cidade 24 horas por dia’
Nesse quesito, o comandante da 4ª Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cia Ind PE), tenente-coronel Wallace Caetano, conta com as equipes da Rocca (Rondas Ostensivas com Cães), GER (Grupo Especializado em Recobrimento) e Choque, além do apoio do helicóptero Pégasus, para garantir a segurança de Juiz de Fora e dos outros 85 municípios do entorno que compõem a 4ª Região da PM. “Nossa unidade é especializada na repressão.”
Ainda segundo o tenente-coronel, diariamente as guarnições saem às ruas com missões específicas, sobretudo nas chamas zonas quentes de criminalidade. “Monitoramos toda a cidade 24 horas por dia. É um trabalho qualificado de inteligência, nada é aleatório. Nossa coordenação e controle são feitos por meio de tecnologia. Se houver um crime violento, já temos um protocolo para atuar diretamente.”
As ações da especializada também são voltadas ao combate ao tráfico de drogas. “Uma boa parte dos crimes violentos, tanto homicídios, quanto roubos, está ligada, direta ou indiretamente, ao tráfico”, indica o comandante da 4ª Região, coronel Neir. “Ou a pessoa pratica o roubo para comprar drogas, ou para poder pagar a dívida, e também há as disputas por pontos de vendas. A maioria dos crimes permeia o tráfico. E onde tem os maiores combates, estatisticamente, são aquelas regiões que estão tendo redução de homicídios e roubos”, completa.
Dados
Só nos seis primeiros meses deste ano a PM realizou 1.853 ações contra o tráfico de entorpecentes, um incremento de quase 60% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram feitas 1.159. “Com isso tiramos de circulação não só aquele que é o chefe do tráfico, mas também aquele que manda matar, roubar, levantar dinheiro”, pontua o subcomandante do 27º Batalhão da PM, major Jean Michel Amaral.
Já os batalhões possuem as unidades do Tático Móvel para desencadear as ações repressivas. Em relação às armas de fogo, a PM apreendeu 151, de janeiro a junho, ou 14,2% a menos do que nos mesmos meses de 2020. “Também reduziram os crimes com arma de fogo na mesma proporção (13,84%)”, relata o comandante da 4ª Região, sobre a queda de 224 para 193. “Se há menos armas circulando, vamos fazer menos apreensões também.” A PM ainda aumentou o número de prisões/apreensões em quase 10%, passando de 3.964 para 4.359.
2º Batalhão fica mais de 50 dias sem registrar homicídios
Além dos bons resultados do primeiro semestre, até a primeira semana de agosto, o 2º Batalhão estava há mais de 50 dias sem registrar homicídios em sua área, que engloba as regiões central, Leste, Sudeste e Nordeste da cidade, com população estimada em 280 mil habitantes. “No ano passado instalamos o Núcleo de Prevenção a Homicídios, que engloba a parte administrativa, de planejamento, e alguns portfólios específicos, como as patrulhas de prevenção a homicídio e a violência doméstica”, explica o comandante do 2º Batalhão, tenente-coronel Henrique Aleixo.
“Analisamos, no mínimo quinzenalmente, todas as ocorrências registradas que possam ter desdobramento e evoluir para homicídio, como ameaças, violência doméstica em geral e agressões. As patrulhas fazem visitas tranquilizadoras, tanto a vítimas, quanto a autores, para não deixar que esse crime pequeno se transforme em algo mais grave.”
O tenente-coronel Aleixo pontua que a Vila Olavo Costa, considerada historicamente uma das regiões mais complicadas em relação aos crimes contra a vida, não registra homicídios consumados desde maio do ano passado. A melhora nos índices vem desde 2018, com a implantação pelo Governo estadual, em parceria com o Município, do programa Fica Vivo!. O projeto de combate a assassinatos entre jovens, voltado para a faixa etária de 12 a 24 anos, funciona na Unidade de Prevenção à Criminalidade (UPC) Olavo Costa e oferece diversas atividades sociais e esportivas, além de atendimentos do Programa Mediação de Conflitos.
“Dentro do Fica Vivo! temos uma equipe específica da PM, que é o Gepar (Grupo Especializado de Policiamento em Áreas de Risco). Estamos há mais de um ano sem homicídios lá, e este ano tivemos apenas uma tentativa. Fazemos um trabalho muito grande nesse local de prevenção”, destaca o comandante do 2º Batalhão. O delegado regional, Armando Avólio, diz que a participação da Polícia Civil no projeto agiliza o recebimento de informações para subsidiar o trabalho investigativo, contribuindo na redução da violência.
Outra área que recebe ações específicas em relação aos crimes contra a vida é o Bairro São Benedito e seu entorno, na Zona Leste. “Tivemos no início do ano cerca de três ou quatro homicídios, que despertaram nossa atenção, e fizemos todo esse trabalho (preventivo). Agora estamos há um bom tempo sem registros”, aponta o tenente-coronel Aleixo.
Já na parte do 27º Batalhão, responsável pelo policiamento da Cidade Alta e das zonas Sul e Norte, o foco dessa atuação são as vilas Esperança I e II, marcadas nos últimos anos por muitos conflitos entre grupos de moradores rivais que resultaram em mortes, e também os bairros Jóquei Clube I e II e Parque das Torres, todas na região Norte. “O último homicídio que tivemos na Vila Esperança foi no início de junho, mas não aconteceu em virtude de desavenças entre os dois bairros. Houve um desentendimento entre dois usuários (de drogas), e um deles foi morto a faca”, detalha o subcomandante do 27º Batalhão da PM, major Jean Michel Amaral. O Gepar estende o monitoramento até o Miguel Marinho.
“Não podemos nos esquecer do Parque das Águas, que demorou a pacificar, após trabalho de longa data. No Parque das Torres fizemos uma operação (há três semanas) para sufocar uma desavença que estava começando a crescer com o Jóquei Clube II”, conta o major Jean, sobre a manobra que resultou na apreensão de quatro armas de fogo. “Foi um trabalho de inteligência e de levantamentos que fez com que esses homicídios viessem a cessar.”
Já na Zona Sul, o alvo principal das estratégias de prevenção aos delitos contra a vida é o Sagrado Coração. O subcomandante do 27º Batalhão lembra que o bairro sofreu por muito tempo com as ocorrências ligadas ao condomínio Araucárias. “Hoje temos um controle sobre o que acontece, e as equipes estão sempre atuando.” Na Cidade Alta, a PM concentra parte dos esforços na região do Caiçaras, onde são feitas vários operações.
Metas
O major Jean conclui que as estratégias de combate às mortes violentas em Juiz de Fora têm surtido resultados, revelados nos números. “Com a pandemia no ano passado, os índices caíram muito. Este ano foi um desafio para nós diminuir ainda mais.” O tenente-coronel Aleixo enfatiza que as estratégias de repressão imediata têm se consolidado. “Quando o crime violento acontece, esgotamos ao máximo o levantamento inicial, para podermos fazer a prisão.
Temos uma porcentagem no 2º Batalhão de quase 70% de prisões em flagrante. E quando não conseguimos, todas as informações são registradas em relatório técnico, encaminhado à polícia judiciária.”
Ainda segundo o comandante do 2º Batalhão, todas as equipes têm suas metas específicas a cumprir. “Todos contribuem e já saem com as estratégias de policiamento atualizadas diariamente”, explica o oficial, indicando que os policiais recebem o chamado cartão programa e uma carta de operações, para saberem onde devem atuar, de acordo com todas as estatísticas disponibilizadas pelos sistemas tecnológicos. “Nenhum policial sai fazendo patrulhamento aleatório, passeando por um bairro. Ele tem que estar em determinado setor, em certo horário. Isso tudo é fiscalizado, inclusive pelo GPS das viaturas.”