A Polícia Civil investiga as denúncias de uma influenciadora digital de Juiz de Fora, de 24 anos, que relatou ter sofrido violência psicológica em seu relacionamento de sete anos com um homem, 26. Jady Meireles, moradora da Zona Norte, decidiu expor o caso nas redes sociais e registrou boletim de ocorrência de ameaça, na última segunda-feira (7), afirmando que seu companheiro havia rasgado suas roupas, danificado sapatos e bolsas e quebrado vidros de casa. Segundo o registro policial, a ação teria sido motivada pelo fato de ele não ter concordado, por ciúmes, com o fato de a vítima ter ido a uma confraternização ligada ao trabalho dela, no domingo.
Ainda de acordo com a ocorrência registrada pela Polícia Militar, quando Jady estava na festa, teria começado a receber mensagens telefônicas do homem, em tons de ameaça, do tipo: “Se ela aparecesse em casa, veria o que aconteceria”. Temendo a reação dele, a jovem deixou o evento por volta das 23h e foi para a casa de sua mãe, onde o filho do casal estava. Na segunda, decidiu ir até o apartamento para pegar roupas para o menino e teria encontrado o marido muito exaltado.
Jady contou aos policiais que o companheiro se recusou a abrir a porta da sala e desferiu um soco contra a estrutura, quebrando o vidro da mesma. Ao entrar no imóvel, ela percebeu que vários dos seus pertences haviam sido danificados, incluindo um cartão bancário, e também encontrou o vidro de um basculante quebrado. A PM foi acionada, mas o suspeito já havia deixado o local. A vítima acrescentou já ter recebido ameaças de morte por parte do companheiro.
No dia seguinte, na terça, foi o homem quem procurou a polícia e registrou uma ocorrência de dano. Ele compareceu à 173ª Companhia da PM, na Zona Norte, relatando que a mulher havia danificado sua moto e o difamado nas redes sociais, “por causa de um desentendimento”, dizendo ter vivido um relacionamento abusivo.
Procurada pela Tribuna, a assessoria da Polícia Civil informou que o caso foi encaminhado para a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, onde foi aberto procedimento para apurar os fatos. Conforme a assessoria, a delegada responsável, Alessandra Azalim, disse que a influenciadora foi ouvida nesta quarta.
‘Quero ser porta-voz de outras mulheres que sofrem violência’
Em seu desabafo no Instagram sobre a violência psicológica sofrida, Jady Meireles disse que aguentou por muito tempo o relacionamento, que considera abusivo, por amor. “Quero ser porta-voz de outras mulheres que também sofrem violência.” Ela avaliou ter conseguido denunciar o companheiro desta vez porque ele teria chegado ao extremo de quebrar as coisas dela. Assim, tomou as providências cabíveis, com queixa-crime, e requereu medida protetiva.
“Eu sei que nada disso vai apagar esse momento que eu tive. Não sei se um dia o meu psicológico voltará ao normal. Tenho focado no momento em ficar bem, na frente do meu filho, para que ele não sinta o que estou sentindo (…). Eu vou ensinar ao meu filho como se deve tratar uma mulher.” Ela falou ter insistido na relação para que o menino convivesse com pai e mãe juntos. “Mas nenhuma criança merece viver nesse meio de brigas, xingamentos.”
Em conversa com a Tribuna nesta quarta-feira, Jady reforçou estar vivendo um momento muito difícil. “A gente nunca acha que vai chegar nesse ponto de destruir seu patrimônio, sua casa, suas roupas. Paro para pensar e vejo vários sinais de que isso poderia acontecer, mas, por dependência emocional e pelo controle psicológico do agressor, que sempre nos coloca como a errada, acabamos ficando no relacionamento e, infelizmente, passando por isso.”
A influenciadora digital enfatizou que expôs a situação nas suas redes sociais para que sirva de exemplo a outras mulheres que vivem esse tipo de relação, achando “normal” o companheiro agredir verbalmente. “A partir do momento em que acaba o respeito, e a pessoa passa a te xingar de vários palavrões, isso é sim violência. É algo que mexe com nosso emocional, mas ninguém vê. Só a gente sente, só a gente sabe o que passa. Estou fazendo tratamento psiquiátrico porque, hoje em dia, sofro com ansiedade, síndrome do pânico e vários problemas emocionais decorridos desse relacionamento. Eu já havia tido crises de ansiedade, mas nunca achava que estavam ligadas ao agressor. Agora, conversando com especialistas, vejo que todo esse meu problema emocional vinha sendo acarretado por essas agressões verbais. Graças a Deus não chegou a ter violência física e consegui acordar a tempo.”
Certa de que a transição da violência psicológica para a física se dá “num piscar de olhos”, Jady espera ajudar outras mulheres com seu depoimento. “Vocês não estarão sozinhas, terão muito apoio.”