Incentivar o filho a fazer o dever e ir à escola todos os dias, providenciar um lugar tranquilo no qual ele possa estudar em casa e comparecer às reuniões de pais são atitudes que, conforme um estudo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo, têm o efeito de elevar as notas dos alunos em torno de 15%. Para o diretor do Instituto Estadual de Educação (Escola Normal), Leonardo Ferreira, os impactos no aprendizado das crianças cujos pais participam ativamente da vida escolar são facilmente visíveis. “Quando os pais acompanham os meninos, além do desempenho, o comportamento também é melhor. Esses alunos têm mais interesse em ajudar a escola. Nos projetos, eles são mais ágeis e querem atuar.” No entanto, essa não é a realidade da maioria. O diretor conta que apenas 30% dos pais são presentes na vida escolar dos 2.700 alunos da instituição.”Muitas vezes, parece que os pais deixam os filhos na escola para poder trabalhar. Não têm a visão de que o estudo irá proporcionar um futuro melhor a eles.”
A doutora em sociologia da educação pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e pesquisadora do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), Fabiana Coelho, ressalta que, na maioria das vezes, pais cujos filhos estudam em escolas públicas atuam de modo diferenciado em relação aos pais da rede privada.
No Colégio Academia, um dos maiores da rede particular de Juiz de Fora, a coordenadora da Educação Infantil e Ensino Fundamental I do colégio, Leda Lisboa, garante que as reuniões de pais têm sempre uma boa adesão. “Alguns pedem até reuniões em grupos menores para saber mais individualmente da vida escolar dos filhos. Muitos trazem sugestões, fazem criticas”, conta Leda. “Até os 10 anos, a participação é bem efetiva. Quando os filhos vão ficando maiores, os pais vão dando uma certa autonomia, mas não deixam os alunos de lado. Em época de prova, eles estão sempre supervisionando”, acrescenta a coordenadora.
Conforme os educadores, o principal argumento dos pais ausentes é a falta de tempo. No entanto, a pesquisadora Fabiana Coelho afirma que “mais importante que atitudes são valores. Se uma família, em seu cotidiano, valoriza a escolarização e os aspectos que a cercam, isso tende a produzir um efeito de aproximação entre pais, filhos e escola”. Para os pais que não podem estar sempre presentes no colégio, uma das formas de interação com a educação dos filhos é o auxílio na lição de casa. “Se essa ajuda for encarada como uma maneira de aproximação, ela pode ser positiva, sim. Mais do que uma ajuda efetiva, esse é um momento em que os filhos compartilham com suas famílias suas experiências do mundo escolarizado. O que não pode é isso se tornar uma obrigação. É preciso que haja também muito cuidado para que essa ‘ajuda’ não venha a comprometer a autonomia do filho quanto à realização de suas tarefas”, esclarece a pesquisadora.
De acordo com Leda, nas reuniões, as professoras orientam os pais a supervisionarem a lição de casa e não fazerem pela criança. “Essa supervisão vai permitir que a família detecte alguma falha ou alguma coisa que não ficou bem entendida e precisa ser refeita.”
Reflexos de um auxílio exemplar
A auxiliar administrativa Lúcia Fortunato acompanha de perto a vida escolar do filho Heitor Fortunato Vieira, 9 anos. Não falta a uma reunião bimestral e não perde as apresentações e eventos realizados no Colégio Magnus, pertencente ao Centro Integrado Arco-Íris, onde o filho estuda. Seu empenho e incentivo é tanto que Heitor, com sua pouca idade, já conseguiu vários prêmios e é sempre destaque nas feiras de ciências promovidas na cidade. Este ano, ele conquistou o primeiro lugar na Feira de Ciências da UFJF, na categoria A – na qual concorrem alunos do 1° ao 4° ano do ensino fundamental, realizada no mês passado. “Eu falo que para ter sucesso, mesmo que falhe, tem que ter entusiasmo. Com a presença dos pais, a criança se sente mais motivada”, afirma Lúcia
Ela também está sempre orientando Heitor nos deveres de casa. “Ele faz tudo sozinho. Eu confiro se está certo. Eu falo com ele: ‘não foi isso que a professora perguntou. Lê de novo’. Eu só dou as dicas para ele ir se virando. É uma forma de dar autonomia para o aprendizado dele, sem deixar de participar.”
Segundo o diretor da Escola Normal, Leonardo Ferreira, a instituição está sempre abrindo espaço para a participação dos pais. “Temos um projeto chamado ‘Intervalo Cultural’, que acontece toda quarta-feira, onde pais e alunos apresentam alguma habilidade cultural. Um toca violão, outro faz stand-up. É muito bom, porque os meninos chegam em casa e falam: ‘o pai de fulano foi na escola, você não vai apresentar lá também?’.” O diretor contou ainda que, recentemente, foi realizado um projeto sobre o lixo, e muitas mães foram até a instituição ensinar formas de reciclar, confeccionando bonecos e pufes a partir do lixo.
Feiras despertam curiosidade
As atividades práticas costumam despertar maior interesse nos alunos, assim como atraem maior participação dos pais. O estudante Heitor Fortunato Vieira é apaixonado por ciências e se empolga com os experimentos. Aos 7 anos, participou de sua primeira feira de ciências, confeccionando, com a ajuda dos pais, um barquinho a vapor. “Em 2013, ele participou da feira da UFJF com o barquinho e ficou em 4° lugar”, conta orgulhosa a mãe, Lúcia Fortunato. A boa colocação empolgou Heitor e, no ano seguinte, ele participou novamente da competição da universidade, com uma simulação do gás que compõe a chuva ácida. O projeto conquistou o segundo lugar. Este ano, o chuveiro inteligente, com sensor de presença, apresentado por Heitor conquistou os jurados, e ele levou o 1° lugar da disputa. “Eu falo com ele que não pode desistir”, conta Lúcia.
O garoto diz que sempre discute com a mãe ideias de temáticas que estão sendo debatidas para decidir que trabalho eles vão desenvolver para a feira. “Este ano, eu falei para minha mãe que estava com muita falta de água, e o chuveiro é o que gasta mais. Aí, pensamos no chuveiro inteligente”, conta Heitor. Conforme Lúcia, sempre que as maquetes ficam prontas, o estudante se empolga, mexendo no experimento o tempo todo. “A minha mãe fala que se a gente ganhar, está ótimo. Mas se a gente perder, também está ótimo porque aprendemos muito. No ano passado, quando fiz a chuva ácida, depois da feira, caiu na prova de ciências, e eu acertei tudo. Se minha mãe não me incentivasse, eu não ia conseguir nada do que consegui.”
O diretor da Escola Normal, Leonardo Ferreira, comenta que os trabalhos dos alunos para a Feira de Ciências da instituição, realizada em setembro, surpreendeu. “São projetos que você vê que os meninos tiveram que estudar para mostrar na prática como funciona”, atestou ele.