Cerca de 15 ocorrências, a maioria delas de ameaça, já haviam sido registradas pelas vítimas e outros familiares contra o homem de 50 anos preso pelo triplo homicídio, segundo a Polícia Civil. O crime, que teria sido motivado por desavença familiar relacionada a herança, aconteceu na manhã de quarta-feira (7), em uma casa situada atrás de um posto de combustíveis às margens da Avenida Deusdedit Salgado, próximo ao Parque da Lajinha, no Bairro Salvaterra, Zona Sul. O inquérito sobre o caso foi instaurado pela Delegacia Especializada de Homicídios no mesmo dia, com o auto de prisão em flagrante, e deverá ser concluído em dez dias. Segundo o delegado Rodrigo Rolli, o suspeito, que ligou para a Polícia Militar (PM) para comunicar o delito e se entregou, se reservou ao direito de só prestar declarações em juízo ao ser interrogado na 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha. Ele foi encaminhado ao Ceresp na manhã desta quinta (8), onde segue à disposição da Justiça.
Além de levantar as ocorrências e os possíveis processos que antecederam o triplo assassinato, o delegado busca desvendar a procedência do revólver calibre 38 usado na ação criminosa. “Queremos saber a quem pertence e como essa arma chegou às mãos dele, se foi repassada por alguém. Também vamos buscar informações sobre a origem, se tem numeração.” Na próxima semana, Rolli deverá ouvir familiares dos envolvidos e o próprio suspeito. “Vamos tentar recuperar as imagens do DVR apreendido pela PM no local. Vamos periciá-lo para verificar se há imagens do fato e fazer uma nova inquirição com mais provas para que apresente as alegações dele.”
Rolli revelou que a família já havia procurado informalmente a Especializada de Homicídios diante das ameaças sofridas, sendo as ocorrências encaminhadas à 1ª Delegacia, responsável pela Zona Sul. “Foram cerca de 15 ocorrências desde 2017, sendo umas oito em 2018 e outras quatro em 2019, a maioria de ameaças do autor dos disparos em relação às vítimas e à família como um todo. A motivação do triplo homicídio foi realmente a questão da partilha de herança. A família já estava brigando há muito tempo, havia uma insatisfação muito grande por parte de todos em relação ao inventário. Estamos fazendo o levantamento de toda vida pregressa, tanto do autor, quanto das vítimas.”
Tias do suspeito
As vítimas do ataque a tiros, Walter Paes, 71 anos, e Maria José de Oliveira, 61, tiveram os óbitos confirmados no local. Já Maria Cristina de Oliveira Paes, 57, foi socorrida até o HPS para atendimento médico, mas não resistiu ao ferimento e faleceu na tarde do mesmo dia. As duas mulheres mortas eram irmãs e tias do suspeito, enquanto o idoso era companheiro de Maria Cristina. Todos moravam no mesmo terreno, onde há uma entrada comum para três casas. “Eram vários herdeiros, e o pai do autor era um deles. Depois que o pai faleceu, começou muita discussão em torno dessa propriedade com relação ao uso e sobre como poderia ser dividida. Há várias ocorrências relacionadas a isso”, reforçou o delegado.
Em uma delas, de 23 de fevereiro de 2018, as irmãs relatam que o sobrinho estava fazendo ameaças de atropelá-las, sendo o motivo da desavença um sítio que pertenceu ao pai delas. “Por ser parente da família, o homem não aceita que seja dividida com ninguém a herança, o sítio em questão.”
O sepultamento das duas irmãs foi marcado para as 17h no Parque da Saudade. A Tribuna não obteve informações sobre o funeral de Walter Paes.
Suspeito registrou ocorrência 48 horas antes do crime
A última ocorrência entre os envolvidos foi registrada pelo próprio suspeito, cerca de 48 horas antes do crime, na manhã da última segunda-feira (5). No documento policial, o homem, que se apresentou à PM como vigia, relata que sua tia Maria José estaria enviando fotos e vídeos para familiares afirmando que ele estaria expondo seu órgão sexual. Ele acrescentou morar nos fundos da casa de sua tia e afirmou que as mensagens estariam sendo espalhadas por vários parentes, até que um deles o teria avisado.
Quando a polícia chegou ao local do crime na manhã de quarta, o homem que havia ligado para comunicar o delito estava sentado próximo à entrada da casa onde aconteceu o triplo assassinato e se entregou. Segundo a PM, o suspeito informou ter atirado contra três moradores da casa ao lado daquela onde ele reside. O idoso já estava sem vida, sentado no sofá com um disparo no peito. A mulher dele, Maria Cristina, também estava na sala, caída no chão e alvejada por um tiro na altura do seio esquerdo. Ela chegou a pedir socorro e foi levada pela própria equipe policial até o HPS, onde faleceu horas depois. Já Maria José foi encontrada pela PM no chão de um dos quartos, também baleada na região do seio esquerdo.