Um homem de 37 anos, suspeito de ter praticado um duplo homicídio a tiros, no dia 31 de maio, no Parque das Torres, Zona Norte de Juiz de Fora, foi preso na última terça-feira (6) no Vitorino Braga, Zona Sudeste. Ele foi capturado por meio de mandado de prisão preventiva, expedido pela Justiça por solicitação da Polícia Civil e cumprido pela Polícia Militar. Esse é mais um resultado das investigações da Delegacia Especializada de Homicídios, que aponta queda de 22,5% nos assassinatos ocorridos no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020.
Segundo o delegado responsável, Rodrigo Rolli, as mortes violentas caíram de 31 para 24, enquanto as tentativas de homicídio tiveram redução ainda maior: foram contabilizadas 38 nos seis primeiros meses do ano passado, contra 23 de janeiro a junho de 2021, ou seja, houve decréscimo de 39,5%. “Dos 24 casos deste ano somente um ainda está sem autoria definida, o que traz um índice de resolutividade de 95% dos homicídios consumados (em 2021)”, disse o titular da Especializada.
Sobre o caso no Parque das Torres, Rolli revelou que uma das vítimas, o mecânico Ocimar Raimundo da Mota, 46 anos, não seria o alvo da ação criminosa, mas morreu “de forma equivocada”, ao ser atingido por um disparo embaixo do braço esquerdo, quando estava em sua oficina, situada na Rua Ridel Pereira da Silva. Ainda conforme a polícia, o atirador pretendia alvejar a outra vítima, Luiz Carlos Mendonça, 21, que também estava no local. “Ele foi baleado no rosto e ficou internado, até falecer no final de junho. Com isso, o caso tornou-se um duplo homicídio consumado.”
Ainda conforme o delegado, a equipe de investigadores conseguiu identificar o executor. “Testemunhas veladas e oculares do crime prestaram depoimento na delegacia, confirmando a autoria.” A motivação seriam desavenças entre o alvo da ação e o mandante do crime, que ainda está sendo levantado. “A investigação foi o mais rápida possível. Em 18 de junho fizemos o pedido de prisão do executor, e o mandado foi expedido pelo juiz titular do Tribunal do Júri no dia 27. A Delegacia de Homicídios começou a monitorá-lo e, na segunda e terça-feira desta semana, fizemos várias diligências para encontrá-lo. Ele conseguiu fugir do nosso cerco, mas na terça à noite a PM conseguiu prendê-lo, após ele sair do esconderijo onde estava na Zona Norte.”
O suspeito de ser o atirador deverá prestar depoimento na delegacia nesta sexta. “Esse executor agiu a mando de alguém”, destacou Rolli. “Vamos ouvi-lo para tentar apurar essa questão. Já temos elementos que levam a um suspeito.” O delegado ressaltou que essa foi mais uma resposta rápida. “Esse executor ainda costumava passar pelo bairro (Parque das Torres) com o objetivo de intimidar, causando temor para gerar impunidade ao crime.”
Zona Norte lidera casos
O delegado Rodrigo Rolli informou que a Zona Norte de Juiz de Fora concentrou a maior parte dos homicídios este ano, praticados em sua maioria com o uso de arma de fogo. As principais motivações foram desavenças, brigas de grupos e tráfico de drogas, além de algumas questões passionais. O titular da Especializada anunciou, com satisfação, que não houve assassinato no primeiro semestre na Vila Olavo Costa ou nos bairros adjacentes, como o Furtado de Menezes e a Vila Ideal. “Isso para nós é muito significativo, porque, quando assumimos a delegacia há sete anos, ocorriam dois, três casos por semana. Essa incidência perdurou nos anos seguintes, até começar a cair (mais significativamente a partir de 2018).”
Rolli também acredita que esse resultado pode ter relação com a presença maior do Estado, que implantou o programa Fica Vivo!. O projeto de combate a homicídios entre jovens, voltado para a faixa etária de 12 a 24 anos, funciona desde abril de 2018 na Unidade de Prevenção à Criminalidade (UPC) Olavo Costa e oferece diversas atividades sociais e esportivas. Também há atendimentos do Programa Mediação de Conflitos.
“Há uma série de fatores, mas vale ressaltar que todos os indivíduos daquela região que estavam ligados às execuções tiveram pedidos de prisão, prisões decretadas e cumpridas, indiciamentos e condenações”, reforçou o delegado. “Com o passar do tempo, tivemos apoio da população, por meio de denúncias e testemunhas veladas. As investigações são rápidas, e a sociedade acredita no trabalho da delegacia. Aliado a isso, também há temor por parte dos autores, ao vislumbrarem que há efetiva apuração e busca por parte da polícia judiciária em levar os autores desses crimes para julgamento, mesmo com toda precariedade e sucateamento que temos”, analisou o delegado, que trabalha com o auxílio de apenas um escrivão e três investigadores.
“Mesmo com esse efetivo irrisório conseguimos, da melhor forma possível, trazer esses resultados. Aquela região hoje é bem diferente de sete anos atrás em relação aos crimes contra a vida. Podemos falar que, naquela época houve uma pandemia, com 160, 170 homicídios por ano na cidade. Mas cortamos o ciclo de vingança, que acontecia com mortes até em estabelecimentos públicos, como aquele caso da UBS de Santa Rita, em 1º de outubro de 2014, quando um homem de 50 anos inocente morreu com tiro, enquanto o alvo era ligado ao tráfico. Acabamos com a zona de conforto que existia na prática de homicídio em Juiz de Fora, justamente com o trabalho de investigação, que muitas vezes leva à condenação e, em alguns casos, não, porque nem sempre conseguimos trazer provas efetivas. Mas hoje a criminalidade sabe que tem resposta”, concluiu o delegado.