Uma idosa, de 72 anos, foi resgatada pela Polícia Militar em estado de desidratação, desnutrição, com hipertensão e extremamente fraca, no último domingo (6), no Bairro Grajaú, na Zona Nordeste de Juiz de Fora.
A mulher estaria sendo maltratada e viveria abandonada dentro da própria casa. A situação, na qual se encontrava a vítima, que não enxerga, seria provocada pelo filho dela, um homem, 37, que foi detido em flagrante. Os policiais descobriram a história de sofrimento da idosa, depois que a PM recebeu, via 190, uma denúncia anônima, apontando que a moradora da casa corria risco de morte, caso não fosse cuidada. Segundo a PM, ela era submetida a uma “situação totalmente deplorável e desumana”. O caso veio à tona, justamente, na semana que se comemora o Dia Municipal da Pessoa Idosa, servindo de alerta, para que casos como esses sejam denunciados.
Depois de localizada, a idosa foi socorrida pelo Samu, sendo encaminhada para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde ficou internada em tratamento emergencial. Nesta segunda-feira (07), a Secretaria de Saúde informou que a paciente apresenta desidratação e desnutrição, sendo mantida em observação. No domingo, conforme informações do Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), os policiais chegaram à residência, por volta de 13h30, e, depois de insistirem para fazer contato com a idosa, arrombaram o cadeado do portão de entrada. Eles encontraram o interior da casa em péssimas condições de higiene.
O documento policial aponta que a mulher foi atender à equipe policial com muita dificuldade. Ela teria confirmado aos militares que constantemente seu filho a deixava dentro de casa sem alimentação e sem cuidados com a saúde e higiene. A mulher disse ainda que o filho servia a ela alimentos podres, azedos ou crus. A senhora relatou que, muitas vezes, caminhava até o portão da casa e gritava por socorro, pedindo alimento para os vizinhos. Ainda, como ela apontou, já teria sido agredida pelo suspeito em datas passadas. A situação teria sido confirmada por um vizinho. Também consta no registro policial que foram encontrados diversos preservativos usados jogados no chão do quarto do suspeito, mas a idosa negou ter sofrido abuso sexual.
Os policiais fizeram contato com um parente da mulher, que afirmou que iria tomar providências no âmbito familiar. O suspeito foi levado para a delegacia, em Santa Terezinha, mas não teve sua prisão ratificada, sendo liberado em seguida. Todavia, o caso foi encaminhado para investigação no Núcleo do Idoso da Polícia Civil.
Outra vítima de 65 anos já fez 71 ocorrências
Segundo a delegada Ione Barbosa, uma das titulares da Delegacia Especializada em Atendimento da Mulher, casos como o dessa idosa não são a maioria dos que chegam para a unidade policial, mas estão cada vez menos raros. A policial não apresentou números, mas lembrou que, há menos de 15 dias, outro homem, 47, foi preso suspeito de ameaçar de morte e extorquir sua mãe, uma idosa de 65 anos. Segundo a delegada, a idosa já contava com uma medida protetiva contra o filho, já que ele vinha a ameaçando.
A vítima de 65 anos já tinha feito 71 boletins de ocorrência contra o filho. No último dia 10, a vítima e outro filho, que também recebia ameaças, procuraram a unidade policial para mais uma denúncia contra o suspeito, que é usuário de drogas há mais de 30 anos e, ao longo desse período, tem um histórico de ameaças contra sua mãe, além de extorqui-la, a fim de conseguir dinheiro para comprar drogas. No passado, ele danificou o veículo da idosa, uma antena parabólica e uma caixa d´água. A prisão dele foi necessária para resguardar a integridade física e psicológica da idosa.
Denúncias
Para Ione, é de suma importância a denúncia para por fim aos sofrimentos causados à vítima. “Parentes próximos, vizinhos, quem souber de um caso desse devem denunciar. Só assim a polícia terá ciência e condições de ir até o local, a fim de tomar as providências, resgatando a vítima e efetuando a prisão de suspeitos caso seja necessário”, adverte a delegada, acrescentando: “No caso dessa senhora do Grajaú, ela estava em condições deprimentes, a saúde debilitada, o que poderia levá-la à morte. No caso de 15 dias atrás, a senhora teve um AVC (acidente vascular cerebral) em relação aos problemas causados pelo filho.”
Atualmente, além do 190 da Polícia Militar, as denúncias podem ser feitas ao 180 e 181, que asseguram o anonimato dos denunciantes. “Assim, essas pessoas poderão ser acolhidas e passar por atendimento, sendo avaliada a necessidade de instaurar medida protetiva. Além de idosa, essa vítima é mulher e, claro, que o suspeito se aproveitou dessa condição e também por ela ser sua mãe. Esse tipo de caso deve escandalizar as pessoas, que não podem naturalizá-lo, pois é uma questão de humanidade. Isso vale para questões de violência em geral contra a mulher e casos de pedofilia”, ressalta Ione.
Necessidade de políticas públicas
A realidade das pessoas idosas requer respostas públicas para assegurar seus direitos a uma velhice cidadã, de respeito e de justiça social, afirma o assistente social e gerontólogo, José Anísio Pitico da Silva. “Casos como o dessa senhora do Grajaú, infelizmente, são vistos de forma recorrente no Brasil e, às vezes, na nossa cidade, denotando a necessidade de desenvolvimento, cada vez mais, de políticas públicas para pessoas idosas, principalmente, no que diz respeito ao apoio familiar”, ressalta.
Ela aponta que estudos realizados na área mostram que esse tipo de crime acontece no âmbito familiar e, comumente, parte de um filho, de um cuidador familiar ou de um cuidador informal, contratado para assistir o idoso. Ele pondera que, talvez, a violência maior contra a pessoa idosa, seja a silenciosa, a social, que resulta na indiferença pública. “O Estado brasileiro sempre deu às costas para a questão do envelhecimento do ponto de vista de não ter iniciativas públicas robustas de proteção social aos idosos. É preciso lembrar sempre da necessidade do incremento de políticas públicas em todas as áreas que abrangem os idosos, sobretudo no apoio familiar. É preciso lei municipal, participação de todos os poderes”, defende, acrescentando: “Não bastam só medidas punitivas e repressoras, mas é preciso um debate público para chamar atenção e efetivar ações para os diferentes tipos de violência contra pessoas idosas.”