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Pela valorização da vida

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Sandra Castro, Débora Mattos, Kênia Borges, Laiz Perrut, Lucimara Reis, Cristina Castro e Jussaramar da Silva estarão hoje na Greve Internacional das Mulheres (Foto: Fernando Priamo)

O que as mulheres de hoje querem? A pergunta foi feita pela Tribuna a dezenas de mulheres nos últimos dias. Quando se recorda a luta histórica por equidade de direitos, as respostas podem passar bem longe daquilo que se pode embrulhar, comprar ou de qualquer objeto que, em um primeiro momento, possa ser pensado como ‘homenagem’ a uma mulher. “O dia 8 tem que ser marcado como um dia de luta, não concordo em transformá-lo em uma data comercial. As mulheres não foram queimadas e mortas à toa. O Brasil e o mundo vivem um momento muito complicado, e a mulher sempre é prejudicada nessas situações, então, é necessário continuar nas ruas, chamando a todas para protestar”, pontua a aposentada Sandra Castro, militante desde a Associação da Mulher Juiz-forana, grupo que atuou na década de 1980.

A tônica do movimento mundial pensado para hoje é a valorização da vida e da força de trabalho da mulher, por meio da ausência. A adesão a um dia “sem mulheres”, no qual as atividades laborais, domésticas ou em quaisquer outros campos da vida sejam interrompidas, expõe a necessidade de repensar o tratamento dispensado a elas, em todos os âmbitos. “Há alguns anos, lutávamos pela ampliação dos nossos direitos. Agora, lutamos para não perder garantias fundamentais. Também vamos aderir ao ‘Paro’, que é a Greve das Mulheres. Porque ainda é preciso conscientizar as pessoas sobre a importância da nossa vida. No carnaval, a cada três minutos, uma mulher foi agredida. As mulheres continuam ganhando menos que os homens, nos mesmos cargos, então vamos parar todas as nossas atividades, as domésticas, o trabalho, para que as pessoas sintam a importância da nossa presença. ‘Se a nossa vida não importa, que produzam sem nós'”, comenta a integrante do Coletivo Maria Maria, Laiz Perrut. A reforma da Previdência proposta pelo Governo federal é o fio condutor dos protestos marcados em todo o país, porque há o entendimento de que a mulher trabalhadora é a principal prejudicada com a possibilidade de aprovação da matéria.
“Esse é o momento de unificar todas as mulheres, respeitando as pautas específicas de cada uma, mas sabendo que vai atingir diretamente a todas. Especialmente as trabalhadoras, que têm uma jornada dupla, às vezes até tripla. Nós precisamos ser o carro-chefe dessa luta”, enfatiza a militante do grupo Mulheres em Luta, Priscila Alves Fraga. No âmbito do trabalho, a reforma da Previdência não é a única pauta. Ela se soma a inúmeras outras necessidades.

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“Sou mãe de dois filhos e trabalhadora do comércio, sinto na pele todos os ataques diários aos nossos direitos. A questão da Previdência afeta a todos, não só as mulheres. Mas nós temos uma jornada tripla, muitas mulheres precisam parar de trabalhar por problemas de saúde. Na maioria das vezes, a responsabilidade de manter a estrutura familiar é nossa. Isso se torna ainda mais difícil quando não temos acesso a creches, por exemplo. Há um descaso, há uma falta de apoio muito grande, além de todas as violências contra as quais sempre lutamos, que é preciso combater”, relata a comerciária Laiane Araújo.

Elas apontam a urgência do entendimento das responsabilidades atribuídas à mulher e da ação no sentido de reconhecer as necessidades delas, para que os direitos possam ser exercidos de maneira mais plena. “É importante fazer com que todas entendam que também fazem parte da classe mulher. Temos uma movimentação ampla dentro dos movimentos existentes, tanto partidários, quanto sindicais. As mulheres têm jornadas extensas de trabalho, e fazemos as coisas de forma corrida. O cotidiano nos engole e não conseguimos pensar enquanto seres humanos, parte de um coletivo, de uma classe, por isso não podemos parar de lutar”, considera Kênia Borges, integrante da comissão de formação do Coletivo Ana Montenegro.

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Por conta da escolha da reforma da Previdência como uma das principais bandeiras, a voz feminina chama outros trabalhadores para participar da luta encabeçada por elas. O ato unificado tem concentração marcada para as 17h na Praça da Estação e segue em direção à Praça João Pessoa, em frente ao Cine-Theatro Central. “Esse ano, temos todas as mulheres trabalhadoras com a gente. Vou levar minha mãe, minha avó, e a minha filha. Vamos reunir todas as mulheres, porque todas estamos sendo atacadas”, exclama Laiane.

‘Os corpos das mulheres são mais expostos’

Painel no Centro de Ensino Superior (CES/JF) reúne material de pesquisa feito pelos alunos no qual é destacada a inserção da mulher no mercado de trabalho e nas instituições (Foto: Marcelo Ribeiro)

Conforme a doutora e professora do Departamento de Psicologia da UFJF, Juliana Perucchi, existe, no contrato social brasileiro, uma hierarquização. Enquanto o homem branco ocupa uma posição de superioridade, os corpos das mulheres são subalternizados. “Os corpos das mulheres são mais facilmente explorados, por exemplo. Embora a hierarquia seja importante para a organização, ela não pode se dar por meio da violência. Mas existe uma desvantagem histórica para o corpo da mulher. Ganhamos menos nos mesmos postos de trabalho, somos mais vulneráveis à violência doméstica e à violência sexual nos espaços urbanos, pois a hierarquia dos corpos estrutura o contrato social”.
Segundo ela, para que a mulher possa ter condições mais igualitárias e possa exercer plenamente a cidadania, independente de classe, raça, identidade de gênero, orientação sexual, origem geográfica, entre outros aspectos, é preciso que toda a sociedade se conscientize e aja. “As pessoas precisam pensar sobre o óbvio e perceber o sexismo no cotidiano. O machismo tem que começar a incomodar. Não tem mais como ficar calado, ou manter o riso diante de machismo.” Ela detalha que, diante das situações que ferem a mulher, as pessoas podem escolher se posicionar com má-fé, quando estão cientes de que atacam pela fala direitos e acessos, assim como podem escolher adotar uma postura crítica e se posicionar contra.

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Base da pirâmide

Também é importante destacar que, além das demandas que são comuns a todas as mulheres, há demandas únicas de cada grupo. “As mulheres negras têm qualquer desejo ameaçado pela violência. O acesso de uma mulher negra não é o mesmo que o de uma mulher branca, ou mesmo de um homem. As mulheres negras estão na base da pirâmide, são mais vulneráveis à violência, são maioria no mercado informal, enfrentam maiores dificuldades”, explica Giane Elisa Sales de Almeida, mestre em educação e criadora da Organização de Mulheres Negras e Conhecimento (Candaces). Ela ainda reforça que o fator de maior interferência para que esse quadro experimente mudança, é o não reconhecimento do racismo.
Outro grupo sobre o qual a violência e a falta de informação gera vulnerabilidade é o composto por mulheres trans. “Embora tenhamos alcançado uma visibilidade maior na mídia, e na internet principalmente, infelizmente, as pessoas questionam muito a nossa condição, não nos respeitam. O ódio tem se tornado mais explícito, mas eu sou mais otimista. Acredito que as pessoas possam entender nossos direitos de existir, trabalhar, estudar. Não queremos mudar a vida das pessoas, nem destruir nada. Só queremos que reconheçam que temos os mesmos direitos”, diz Bruna Leonardo, militante do Grupo Visitrans e do Coletivo Duas Cabeças. Ela afirma que falta empatia, que é preciso que as pessoas se coloquem mais no lugar das mulheres e reflitam sobre o que elas passam.

Mulheres perdem medo de denunciar

De acordo com o Diagnóstico da Violência Doméstica e Familiar divulgado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), os registros de violência contra a mulher em Juiz de Fora estão dentro da média estadual. Em 2016, foram contabilizados, ao todo, 11.047 registros na cidade, 720,24 ocorrências para cada cem mil habitantes. A violência física segue como a maior fonte de registros, com 4.963 casos, seguida da violência psicológica, com 4.782 registros. “O número de denúncias continua aumentando, o que indica que as mulheres estão perdendo o medo de falar. Ao mesmo tempo, o número de crimes não está aumentando, permanece na mesma faixa dos anos anteriores. Os casos de grande violência não são tão numerosos, tivemos um feminicídio no último ano, e uma tentativa de estrangulamento que deixou uma mulher com o rosto desfigurado”, avalia a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Ângela Fellet. A delegada reitera que os agressores precisam saber que as consequências são drásticas, que as medidas protetivas devem ser respeitadas, e que eles correm o risco de prisão diante do descumprimento da ordem.

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