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Hilda Machado Venerando, 91 anos – A vizinha do coração

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Foto: Arquivo Pessoal

Dona Zica tinha por costume ficar na janela e abençoar os que desciam a rua para trabalhar. “Vai com Deus!”, dizia. Uma das mais antigas moradoras do Bairro Vila Alpina, Hilda Machado Venerando era conhecida por Zica. Nasceu em Argirita e mudou-se para o Bairro da Zona Leste de Juiz de Fora logo que se casou. Era nova quando colocou uma aliança no dedo. E cedo ficou viúva, com três filhos jovens, que mais tarde lhes deram três netos e cinco bisnetos. Ainda hoje toda a família mora no mesmo terreno. Tudo no mesmo quintal, exceto um dos netos. Dona Zica gostava da casa cheia e fazia tudo pela família. “Minha avó era uma pessoa exemplar. Era família, carinhosa, amorosa”, conta a neta Daniele Venerando Pires, com a voz embargada. “A gente chegava do serviço, e ela estava sentadinha no sofá. Quando ainda podia fazer as coisas na cozinha, preparava tudo o que a gente gostava. Ela mimava a gente”, lembra a neta que na infância acompanhava a avó no dia do pagamento. As duas desciam o morro e quando chegavam no Calçadão, dona Zica sacava o dinheiro e depois levava a menina para comprar biscoitos na Fábrica de Doces Brasil. Era uma tradição, assim como eram tradicionais as sopas, os macarrões e a carne moída da matriarca, uma senhora muito católica, que adorava plantas e morria de ciúmes de suas panelas e potes. Numa noite da última semana de abril, Hilda sentiu-se mal. Uma ambulância levou dona Zica para o hospital, onde constatou-se que ela estava com água no pulmão e o coração estava grande. Dona Zica, carinhosa que só ela, tinha mesmo o coração grande, mas de maneira abstrata. Dias a fio os netos se revezaram no acompanhamento da idosa que, uma semana depois teve febre. Havia contraído, no hospital, o coronavírus. Por três dias, ela que sempre estava acompanhada, ficou sozinha. A família, na porta do hospital. Até que no dia 5 de maio o coração de dona Zica parou.

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