Em janeiro de 2018 começaram as reuniões para formação do Fórum de Coletivos de Movimentos de Mulheres de Juiz de Fora, já na intenção de haver uma mobilização de maneira unificada, como aconteceu em 2017. Ao todo, Laiz Perrut, 26 anos, militante feminista, mestre em história e assessora sindical, afirma que cerca de 30 grupos se uniram para este fórum. Um encontro entre coletivos de mulheres, representantes de sindicatos, representantes de mandatos políticos, e também mulheres independentes desvinculadas de qualquer grupo. As chamadas foram feitas por meio da página no Facebook “8MJuizdeForaMG“.
Contra-medalha
Em uma das primeiras reuniões, enquanto discutiam o que seria proposto de ação para este ano, foi relatada a história de Isadora Monteiro, neta do casal de portugueses donos da padaria Linda, no Centro de Juiz de Fora. Ela se manifestou por redes sociais e enviou seu depoimento para a mídia criticando o Mérito Comendador Henrique Halfeld, em 2017, ter homenageado apenas seu avô, João Monteiro, por ser um empresário no ramo de panificação há pelo menos 40 anos no comércio da cidade. A menina se colocou no lugar da avó, Deolinda Tavares Monteiro, que dá nome à padaria, e pensou no porquê de ela não ter sido também homenageada, sendo que os dois criaram juntos, em 1977, o estabelecimento, com o esforço, a mão de obra e receitas dela. A resposta só poderia ser pelo fato de ela ser mulher.
“O incômodo gerado por essa invisibilização da minha avó abalou demais as mulheres da família, sentimento que foi reforçado no dia da cerimônia de premiação, onde o absurdo se tornou mais claro: dos 25 homenageados, apenas duas eram mulheres (e apenas uma estava recebendo o prêmio em seu nome e não em nome da instituição que representava). Motivada por essa realidade triste, eu comecei uma campanha para maior representação feminina na premiação e no conselho que faz as nomeações”, relatou Isadora Monteiro, em 28 de janeiro deste ano, em depoimento na página “As mina na história”, onde publicou um abaixo-assinado on-line contra a majoritária indicação masculina ao prêmio.
Quando o Mérito foi instituído em 1973, a ideia sempre foi a de entregar a medalha a fim de destacar cidadãos juiz-foranos que foram notáveis, em suas diversas áreas de atuação, para a construção da cidade. Esse foi o motivo para a criação da Medalha Rosa Cabinda. A escolha das 25 mulheres a serem destaque na cerimônia desta noite foi embasada na pluralidade de raça, classe e representatividade. Inclusive a repórter Júlia Pêssoa, da Tribuna, receberá sua medalha por cumprir o importante papel na imprensa de discutir questões de gênero em seus textos, contribuindo para a reflexão e disseminação de ideias em prol das causas feministas. Laiz destaca que preocuparam eleger, também, mulheres que contribuem para a cidade e merecem o agradecimento por serem invisibilizadas em suas tarefas.
Cabinda, a ex-escrava da família do Comendador Henrique Halfeld
O nome da premiação também surgiu coletivamente em reunião dos movimentos de mulheres, quando Denise do Nascimento Santos, da Candaces – Organização de Mulheres Negras e Conhecimento – , contou a história de Rosa Cabinda, ex-escrava da família do Comendador Henrique Halfeld. “Dentro do coletivo, a Mariana Gino, também já tinha feito uma pesquisa sobre a Rosa Cabinda. Era um assunto que já estava permeando as nossas ideias”, diz a doutora em Ciências da Religião Maria Luiza Igino Evaristo, 42, militante feminista negra e integrante da Candaces. “A Rosa é uma escrava que pertencia ao Henrique Halfeld e, em função de uma alteração na legislação (Lei Rio Branco, em 1871), ela passou a ter o direito de comprar sua alforria. Mas o Henrique Halfeld, segundo pesquisa, vetou essa possibilidade. Então, ela entrou em uma ação judicial contra o seu proprietário e conseguiu a vitória de poder ter o direito de comprar a própria liberdade. Se a gente pensar que, em Juiz de Fora, as histórias negras, ainda hoje, sempre são silenciadas. É muito importante a gente evidenciar essa personagem, que pôde exercer sua força, ainda em um período tão massacrante para a população negra.”
A frase escrita na “antimedalha”, como é chamada pelo Fórum, é o lema da luta feminista: “Até que todas estejam livres.” Haverá luta, greve, marcha e militância até que cada mulher tenha pleno controle de seu corpo e possa usufruir de direitos iguais. “A força do nome da premiação vem justamente nesse contraponto. O Henrique é um homem branco, senhor de escravo e está dentro de uma heteronormatividade. Já a Rosa Cabinda é negra e subjugada porque a gente sabe que os escravos nem eram considerados seres humanos”, ressalta Maria Luiza.
“Por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher”
A classe artística feminina também vai participar ativamente dos atos. Na noite desta quarta, 7, junto à cerimônia de entrega das medalhas Rosa Cabinda, o grupo Advance Cia de Dança irá apresentar a coreografia “Vida, loucura e morte”, de Virgínia Wolf, autora britânica reconhecidamente feminista por levantar em seus textos questões políticas e sociais, principalmente em favor do direito e liberdade das
No dia 8 de março, haverá a marcha “Juntas na rua em resistência!”. A concentração começa às 17h, na Praça da Estação, até às 18h30, quando começará a passeata pela Rua Halfeld, atravessando a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Batista de Oliveira em direção à escadaria do Cine-Theatro Central, onde artistas mulheres apresentarão seus projetos de música, poesia e performance a partir das 19h.