Responsável pela administração das barragens das represas Doutor João Penido, de Chapéu D’Uvas e de São Pedro, a Cesama informou que irá finalizar os planos de ação de emergência para as três estruturas neste semestre. Este tipo de planejamento detalha quais serão as áreas afetadas por uma eventual ruptura das barragens e estabelece as medidas a serem tomadas nesta circunstância, bem como, as rotas de fuga para as pessoas que estiverem nas localidades. Esta será a primeira vez que um estudo desta natureza será realizado para estas represas. As informações foram dadas pela companhia durante uma visita técnica realizada nesta quarta (6) por vereadores, professores da UFJF e técnicos da Cesama à barragem de João Penido, na Zona Norte.
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De acordo com o diretor de desenvolvimento e expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, uma parceria com a UFJF está em andamento para a realização do estudo que irá identificar quais são as áreas que podem ser atingidas neste tipo de situação. “Este é o primeiro passo, pois precisamos reconhecer estas áreas para então criar o plano de ação, que irá envolver o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil para a criação de rotas de fuga e treinamentos da população”, explica. “A ideia desta simulação não é alarmar os moradores destas regiões, mas apenas aumentar as medidas de prevenção e segurança.”
Segundo ele, a Cesama sempre fiscalizou as estruturas, mas após o rompimento da barragem do Fundão em Mariana, este trabalho passou a ser documentado. “Já havia o monitoramento por meio de instrumentos para ver o comportamento do maciço da barragem, mas em 2016 sentimos a necessidade de formalizar estes registros. Contratamos uma empresa para vistoriar as três barragens, foi quando tivemos a análise de que todas elas possuíam dano potencial e possibilidade de risco alto. A partir de então, começamos a implantar uma série de medidas sugeridas pela consultoria para aumentar a segurança.”
O dano potencial de uma barragem considera os impactos sociais e ambientais ocorridos em caso de rompimento. Neste sentido, as três estruturas administradas pela Cesama apresentam nível alto, sobretudo, por estarem localizadas na cabeceira da cidade. “Temos moradias que estão localizadas a menos de dez quilômetros das represas, por isso o dano potencial é alto. E é uma característica que não tem como ser modificada”, diz Marcelo. Já a possibilidade de risco é referente às condições de segurança. “Neste aspecto, são avaliadas as características geométricas, que também não podem ser alteradas; a manutenção, quesito que sempre tivemos uma boa avaliação; e o plano de segurança, que exige ações de prevenção emergência.”
Segundo ele, com a implantação das medidas sugeridas pela consultoria foi possível aumentar a segurança e, consequentemente, reduzir a possibilidade de risco das barragens de São Pedro e João Penido para nível médio, e a da de Chapéu D’Uvas, para nível baixo. Dentre as ações realizadas na Represa Doutor João Penido, por exemplo, está a manutenção do reservatório com uso de até 83% da capacidade total. “Nós iremos construir um extravasador de emergência que deve ser concluído no prazo de um ano, até lá, manteremos a operação num nível mais baixo.”
Em tempos chuvosos, frequência de monitoramento aumenta
A barragem da Represa Doutor João Penido foi construída na década de 30. Cinquenta anos depois da sua criação, técnicos da Cesama identificaram a necessidade de reforçarem sua estrutura. A construção foi erguida com terra compactada e pedra, posteriormente, ganhou diafragma de concreto para o maior controle da percolação da água. A barragem também possui drenos, o que garante maior controle da passagem de água. A represa possui um volume de 16 milhões de metros cúbicos.
A barragem da Represa de São Pedro também foi feita com terra compactada e pedra. A capacidade do reservatório é de 1,6 milhão de metros cúbicos, mas na prática, ela não opera em sua totalidade. “A represa possui um volume muito menor, o que nos permite ter um controle mais fácil, e é muito suscetível à questão das chuvas. Neste momento, ela está com 50% da capacidade. Em períodos mais chuvosos chega a 80%”, exemplifica Marcelo. Já a barragem em Chapéu D’Uvas é a mais nova e resistente. “Ela possui característica mista. De um lado tem uma estrutura semelhante à de João Penido, erguida com uma tecnologia mais moderna. Do outro, há uma parede de concreto.” O volume é de 146 milhões de metros cúbicos.
O monitoramento das três estruturas é feito de forma similar. “Todas possuem piezômetros, que servem para medir a pressão que a água faz no interior do maciço; sensores ultrassônicos, que medem o nível da represa; e marcos topográficos, que avaliam se há deslocamento. Além disso, temos a própria inspeção visual.” Marcelo esclarece que a frequência da fiscalização das barragens aumenta nos períodos chuvosos. “Normalmente, fazemos a vistoria uma vez por semana. Em períodos mais secos, o monitoramento é quinzenal. No entanto, ele pode se tornar diário quando há chuva.”
Audiência pública deve ser realizada este mês
A visita técnica à Represa Doutor João Penido integra o cronograma criado pela Comissão de Urbanismo e Meio Ambiente da Câmara Municipal para conhecer as barragens localizadas na cidade e saber quais as condições de segurança das estruturas. Na terça-feira (5), o grupo visitou a Barragem da Pedra e a Barragem dos Peixes, ambas de propriedade da Nexa Resources – antiga Votorantim Metais -, em Igrejinha.
De acordo com o Legislativo, a proposta é reunir informações para serem repassadas à população. Uma audiência pública para tratar o assunto deve ser realizada na segunda quinzena de fevereiro.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente José Márcio (Garotinho, PV) avaliou a importância de se ter o grupo in loco nas barragens. “É nosso papel buscar os esclarecimentos necessários para informar a população, sobretudo, após o acontecimento em Brumadinho. Após estas visitas, iremos nos reunir com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, para criar um protocolo de fiscalização destas barragens.”
Também estiveram presentes no encontro os vereadores Júlio Obama Jr. (PHS), Marlon Siqueira (MDB), Carlos Alberto Mello (Casal, PTB), Vagner de Oliveira (PSC) e Wanderson Castelar (PT), além dos professores da Faculdade de Engenharia da UFJF, Gislaine dos Santos, Jordan Henrique de Souza e Tatiana Rodriguez, e os técnicos da Defesa Civil.