O dia era 6 de outubro de 2021. Pouco antes das 17h, um carro desgovernado atravessou a Avenida dos Andradas e atropelou três mulheres que estavam na calçada. A partir dali, os planos delas precisaram mudar. Depois de cirurgias e longos períodos de internação, que chegaram a durar até 26 dias, as vítimas ainda têm marcas visíveis e invisíveis pelo corpo e, quase dois meses depois, ainda encaram uma dura rotina de recuperação, aliada às preocupações e compromissos do dia a dia. Certas de que sobreviveram “por um milagre”, elas seguem agradecendo a vida, seguindo um passo de cada vez. A veterinária é uma paixão em comum entre as três mulheres, que ainda procuram entender a reviravolta em suas histórias ocorrida a partir daqueles poucos segundos, em que estavam ali, naquela hora e naquele local.
A engenheira ambiental Silvânia Martins Siqueira, 39 anos, nasceu em Porto Firme (MG) e mora em Viçosa, na Zona da Mata mineira. Naquela quarta-feira, ela havia acompanhado um irmão, 37, até Juiz de Fora, para uma cirurgia no Hospital Universitário (HU) do Bairro Santa Catarina. Acordada desde a madrugada para a viagem, ela não imaginava que depois seria ela quem estaria em um dos leitos daquela unidade hospitalar por quase duas semanas. “Saímos de Viçosa às 3h e chegamos em Juiz de Fora às 8h, direto no HU, mas ele precisava se apresentar somente às 13h. Então fomos ao hotel deixar minhas coisas (no Largo do Riachuelo, a poucos metros do local do acidente) e passamos pela Andradas. Estávamos muito felizes, observando tudo.”
O irmão seria operado no dia seguinte e, após a internação dele, por volta das 16h, Silvânia voltou andando sozinha pela Andradas em direção ao hotel, onde pretendia descansar. “Passei na Igreja da Glória, porque sou muito devota de Nossa Senhora. Respondi uma mensagem da minha tia que aniversariava, e ela estava em Aparecida do Norte, então pedi que rezasse por mim. Liguei para minha mãe, e ela falou para eu tomar cuidado, eu até disse que iria guardar o telefone porque fiquei com medo de ser roubada, tinha muita gente. Desligamos, eu passei por um ponto de ônibus que estava cheio, desviei de algumas pessoas e, quando vi, o carro já estava em cima de mim.”
As estudantes da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Naiara dos Anjos Pinto, 29, e Maria Cecília Oggioni Borges, 23, estavam juntas e contentes com o retorno das aulas práticas presenciais na instituição de ensino, à procura de um imóvel na região central para a mais jovem morar. As visitas já haviam terminado naquela tarde, e elas aguardavam a chegada de um motorista por aplicativo na calçada, perto da rua. “Os planos daquele dia eram ver apartamentos no Jardim Glória e no Morro da Glória. Não lembro como cheguei à Avenida dos Andradas, mas sei que fui para lá para pegar um carro para devolver a chave das imobiliárias. Último lugar que recordo vagamente é na Rua dos Artistas, por volta das 16h40. A Naiara sugeriu chamarmos um carro na avenida para ser mais rápido”, detalha Maria Cecília. “Ela voltaria para a cidade dela no dia seguinte (Bom Jesus do Itabapoana-RJ) e eu já estava com viagem planejada para Cabo Frio (RJ)”, conta Naiara. As duas chegaram a ver Silvânia sendo atropelada a poucos metros de distância e ainda tentaram correr, mas não houve tempo: acabaram sendo violentamente lançadas sobre o asfalto.
‘Vi minha perna pendurada e entrei em desespero’
A engenheira ambiental Silvânia Siqueira foi atingida de frente. “Não ouvi barulho, a única reação que tive foi colocar a mão direita para me defender, na direção da barriga. Fui jogada para cima e bati no capô, que ficou amassado. Dei umas piruetas no ar antes de cair. A única coisa que recordo, em questão de segundo, quando estava no alto, é que senti um calor muito forte, pensei na minha mãe e pedi: Santa Terezinha, não me deixe morrer aqui. Logo depois caí e quebrei o cóccix. Graças a Deus sou mais forte e não foi pior, se fosse mais magra poderia ter quebrado bacia ou coluna. Quando rodei no chão, bati o lado direito da face, tive corte profundo na sobrancelha direita e vários hematomas no rosto. Estou até hoje com sangue no olho e perdi parte da minha sobrancelha.”
Silvânia ainda sofreu fratura exposta no braço direito. “Quebrei o rádio e a ulna. Fiz cirurgia, levei 56 pontos e precisei colocar duas placas que vão ficar para sempre. Estou aqui, com meu braço parecendo robô, fazendo fisioterapia. Ainda estou com muita dificuldade para andar, e o braço direito está todo sem movimentos.” Devido à fratura no cóccix, ela ainda sente incômodo para sentar. “Fico a maior parte do tempo deitada. Para levantar ainda preciso de ajuda, consigo andar arrastando um pouco a perna, mas a dor em movimento melhora. Difícil é ficar sentada. Tenho que ir a Juiz de Fora de 15 em 15 dias para os retornos e, na véspera, já passo mal, fico estressada. Choro só de ter que entrar no carro.” Para aliviar o desconforto, o irmão dela dirige devagar, e a viagem de três horas ganha até uma hora e meia a mais.
Apesar de ter sofrido uma grave lesão na perna direita, a estudante Naiara Pinto, moradora do Bairro Progresso, Zona Leste de Juiz de Fora, ficou lúcida em todos os momentos. “Recordo de ver o carro saindo muito rápido do sentido contrário e de ainda comentar com a Maria Cecília: ‘Gente, onde esse carro vai assim?!’ E então ele invade a contramão e ocorrem os atropelamentos. Logo em seguida, vi minha perna pendurada e entrei em desespero, achando que ia perder a perna, mas o Samu chegou muito rápido, e o socorro foi muito eficiente, me levando para o HPS, onde fui muito bem atendida e fui para a cirurgia.”
Naiara teve fratura exposta da tíbia e da fíbula, algumas feridas nos braços e no rosto, e ainda quebrou alguns dentes. “Na perna direita coloquei um fixador externo no HPS, depois fui para o HU, onde coloquei outro fixador, o Ilizarov, o qual vou usar por tempo indeterminado. Já passei por três cirurgias e não há previsão de quantas ainda precisarei fazer para ajustar o aparelho. Também vou precisar de cirurgias nos dentes, mas ainda não consegui realizar todos os procedimentos por conta dos problemas com mobilidade.” Segundo ela, a recuperação é um processo que envolve muita paciência. “As dores são constantes, não consigo ficar muito tempo de pé, para andar com muletas é bem difícil, e eu dependo de ajuda para tudo.”
Ao contrário da amiga, que permaneceu consciente, a estudante Maria Cecília não lembra detalhes do acidente, nem o trajeto até o hospital. “Minha amiga e a irmã da Naiara estiveram comigo depois da minha cirurgia e ainda brinquei que estava sem dente, mas não me lembro de nada disso. Recordo de flash a partir do dia 8.” Ela conta que sua preocupação inicial foi com a cabeça, devido a traumatismo craniano, mas ela também teve lesões e fraturas múltiplas no pé esquerdo, rompimento no ombro do mesmo lado e escoriações por todo o corpo. “Em relação ao traumatismo craniano não foi preciso fazer procedimento, apenas o tempo e medicamentos. Mas já passei por três cirurgias no pé e ainda farei mais algumas.”
Maria Cecília observa que está sendo acompanhada por excelentes profissionais, desde o ortopedista e sua equipe, passando por técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e psicóloga. “O processo da minha recuperação é lento, e cada dia é um dia. Dependo muito das pessoas para realizar até simples atos, pois estou tendo que andar de cadeira de rodas, vendo a vida com outra perspectiva. Procurar ver com gratidão, no sentindo de agradecer mesmo a vida, é o que me faz diminuir a ansiedade e a angústia.”
Desacordada, vítima ainda teve celular furtado
O drama da engenheira ambiental Silvânia Siqueira ainda foi agravado pelo furto de seu celular, ocorrido logo após o atropelamento, enquanto, caída na calçada, ela alternava entre períodos de lucidez e de inconsciência, à espera de socorro. “Fiquei desacordada durante um tempo e, quando acordei, lá mesmo, fiquei gritando igual louca. Acordava e desmaiava de tanta dor, era muito sangue, e não sentia da cintura para baixo, então fiquei desesperada de ser algo mais grave.” Enquanto isso, pessoas foram se aglomerando ao redor. “Eu já estava ali, em uma cidade completamente desconhecida, e só gritava: quero minha mãe! Me deram a mão, tentaram me acalmar, e eu estava preocupada com minha bolsa, por causa dos documentos e do celular que eu tinha acabado de comprar. Aí uma moça falou que ia pegar meu telefone para ligar para minha família. Nessa hora já tinha até enfermeiro (que trabalha próximo) comigo. Ela pediu para eu desbloquear com a digital, mas não conseguia mexer o braço quebrado, e logo depois desmaiei de novo. Quando acordei, os socorristas do Samu já estavam, e alguém disse que pegou minha bolsa, mas meu celular não estava mais lá. Pensei que se eu morresse ou sobrevivesse, minha família não iria saber.”
Silvânia ficou internada no HPS de quarta a sexta-feira, quando conseguiu ser transferida para o HU Santa Catarina para ser submetida a cirurgia no braço no dia seguinte. “Quando eu entrei, meu irmão estava tendo alta. Minha mãe estava comigo desde a madrugada de quinta.” Até conseguir operar, a engenheira sofreu com dor extrema. “Nos três dias em que fiquei no HPS eu gritava e chorava muito. Sabia que tinha quebrado o braço, mas não sabia o que tinha acontecido com minha coluna, não conseguia me mexer na cama. Também não conseguia me alimentar sozinha. Até que um enfermeiro mexeu no meu braço de um jeito que melhorou. Deus coloca anjos na vida da gente.”
Durante as quase duas semanas de internação, a engenheira ficou preocupada com a família, que precisou arcar com as despesas de deslocamentos e cuidados, e recebeu medicação forte para suportar a dor. “Eu tomava remédio para dormir e não conseguia. Era muito desespero. Minha família também não pôde ficar comigo todo esse tempo por questões financeiras, e minha mãe, que poderia, tem problemas de saúde. Além disso, eu estava sem celular para me comunicar com as pessoas. Foram os piores dias da minha vida.”
Depois da cirurgia, que também recuperou ligamentos, a situação foi melhorando. “Foram sete dias para eu conseguir sentar numa cadeira de banho e colocar o pé no chão. Parecia que tinha ganhado na loteria quando fui tomar meu primeiro banho. Não conseguia me alimentar e perdi quatro quilos.” Para conseguir chegar em casa, Silvânia precisou ter força. “Foi a pior sensação que já passei, pois eram tantos traumas… Com o medo de entrar em um carro e os efeitos dos medicamentos, vim passando mal de Juiz de Fora a Viçosa. Sofri muito.”
Para ela, outra parte ruim é ficar sem trabalhar e depender das pessoas. “Recuperar do trauma psicológico também é muito difícil. Estou muito traumatizada, minha vida ficou de pernas para o ar.” Ela lamenta não ter conseguido ainda passar por tratamento psicológico e por alguns médicos para acompanhamento dos traumas. “Só minha fé mesmo que está me ajudando. Ainda estou tomando muitos remédios, que não tenho como comprar, e fazendo fisioterapia.” Quando teve alta, Silvânia recebeu de Naiara um celular emprestado, mas só conseguiu recuperar seu número para voltar a usar telefone oito dias depois.
O celular que havia sido furtado, cujas prestações ainda estão sendo quitadas, Silvânia conseguiu reaver graças ao trabalho da Polícia Civil. No dia 22 de outubro, uma mulher, 30, chegou a ser presa em flagrante por receptação, e o telefone foi recuperado durante ação da 7ª Delegacia, que também realiza as apurações relacionadas ao atropelamento. A suspeita flagrada com o celular pagou fiança e responde em liberdade. Já a mulher que praticou o crime de furto ainda não foi localizada. Mesmo com a localização do celular por meio do rastreador, a engenheira ambiental perdeu contatos de clientes e trabalhos que estavam armazenados no aparelho. “Infelizmente, hoje as pessoas só pensam em si e no seu bem-estar, não pensam mais no próximo. Graças a Deus a polícia conseguiu recuperar.”
Chamadas de vídeo para driblar saudade da filha
A estudante de veterinária Naiara Pinto ainda sofreu com a distância da filha, de 5 anos. “Fiquei quatro dias no HPS e 19 no HU. Foi um período extremamente difícil, pois, além de muita dor e muitos medos, ficar 23 dias longe da minha filha foi muito sacrificante. Além disso, o revezamento dos acompanhantes exigiu muito da minha família, fora os gastos.”
Por conta da pandemia, ela e a filha estavam em um momento de muita proximidade. “Ficávamos o dia inteiro na companhia uma da outra, então foi um momento de muito sofrimento, pois não foi fácil para ela entender que eu precisava ficar internada sem poder me ver. Meus apoios foram o meu marido e minha família, principalmente minha mãe, meu pai e minha irmã. Mas o pai dela foi quem conseguiu suprir mais minha falta, a gente fazia chamada de vídeo nos momentos mais difíceis e, assim, fomos levando a situação.”
A rotina de mãe e estudante universitária foi acrescida de idas constantes aos médicos, no mínimo duas vezes na semana. “Todos os dias preciso fazer o curativo, pois o machucado da perna ainda é muito grande, e a cicatrização é muito importante nesse momento, pois ainda há alto risco de infecção.” Segundo Naiara, as dores são muitas, e nem sempre os remédios aliviam. “Ainda dependo de ajuda para tudo, andar é difícil. Não consegui realizar meus planos de fazer as matérias presenciais, então estou fazendo algumas no ensino remoto. A rotina de estudos está bem prejudicada por todas as adversidades e, apesar de estar muito grata pela vida, é impossível não me preocupar com o tempo de atraso, ainda mais porque tenho uma doença autoimune na mama que já me atrasou nesse processo. A maternidade e os compromissos com minha filha aumentam essa minha ansiedade, pois, além de tudo, tem escola e as atividades que ela estava retomando agora. Como sou autônoma, não estou trabalhando, e as preocupações são constantes com as questões financeiras, visto que estou gastando muito com curativo e locomoção para o hospital.”
Natural de Apiacá (ES), Maria Cecília Borges foi quem precisou ficar mais tempo internada, totalizando 26 dias no Monte Sinai. “Contei com auxílio da minha família, a qual se revezava e se deslocava de Bom Jesus do Itabapoana (RJ) para Juiz de Fora. Minhas amigas de faculdade também foram essenciais para o revezamento. As técnicas que me acompanharam sempre eram muito alegres, criamos um vínculo nesse tempo, brincava com elas, e elas, comigo, até falaram que nunca me viram triste.”
Maria Cecília acredita que, desde o momento do acidente, Deus estava ali, não deixando o pior acontecer. “Infelizmente ou felizmente, quando tem que ser, é. Com certeza, estamos tirando várias lições disso tudo para nossa vida, aprendendo a ver as coisas de outra maneira e a valorizar coisas, como um simples banho de chuveiro.” Daqui para frente, ela quer viver com mais intensidade. “Cada dia é um dia para se viver e valorizar as pequenas coisas da vida.”
A amiga Naiara também crê ter recebido uma nova chance. “Considero que somos milagres, pois o susto foi muito grande. Agradeço muito a Deus pelas pessoas que me amam e que não mediram esforços para me ajudar nesse momento tão difícil, por todas as preces que fizeram por mim e pelas meninas. Tantas pessoas que nem nos conhecem e pediram muito pela nossa recuperação, mandaram mensagens de apoio. Esse carinho foi essencial para nossa força. Meu agradecimento e carinho serão eternos a todos os profissionais que cuidaram e ainda cuidam de mim, cada um deles foi essencial nesse momento, fui muito bem tratada em todos os lugares que passei nesse período. Hoje valorizo ainda mais cada minuto com quem amo e cada momento da vida.”
Na mesma sintonia, a engenheira ambiental Silvânia Siqueira se descreve como uma pessoa sonhadora, e um dos planos que tem pela frente é terminar a faculdade de veterinária em Viçosa, que ela havia acabado de retomar 15 dias antes do acidente. “Acho que Deus tem algum propósito para o que aconteceu. Foi um milagre, foi Santa Terezinha que me salvou.” Dos dias no HU, ela recorda do carinho com que foi tratada, por outros pacientes, acompanhantes e enfermeiros, e da convivência com Naiara. “Nós ficamos perto uma da outra. Acredito que fiz uma amizade para o resto da vida.” Para ela, a lição que fica é a de não desistir. “Não vai ser o trauma que vai me fazer parar. A perseverança é um lema meu. Também não vou deixar nada que eu possa fazer hoje para amanhã. Quero sempre ficar perto das pessoas que amo, a família é nossa base. A gente nunca imagina o que vai acontecer com a gente. Achei que eu fosse morrer sem conseguir realizar meus sonhos.”
Vítima atropelada tem irmão desaparecido há 9 anos
Primogênita e única mulher, a engenheira ambiental Silvânia Siqueira vive um drama familiar desde que um de seus três irmãos desapareceu, há nove anos. Edson Martins Siqueira tinha 24 anos quando foi visto pela última vez, em 2012, em um bar de Araçariguama, município paulista situado na região metropolitana de Sorocaba, onde ele trabalhava em uma metalúrgica. A cidade ficou conhecida em 2018 por outro desaparecimento: Vitória Gabrielly, 12 anos, sumiu na tarde do dia 8 de junho de 2018, quando saiu de casa para andar de patins. O corpo dela foi encontrado oito dias depois, no meio de um matagal, amarrado em uma árvore, com pés e mãos atados. Segundo a polícia, a adolescente teria sido morta por engano, em acerto de contas relacionado a uma dívida de drogas de R$ 7 mil, de uma pessoa que teria uma irmã com as mesmas características físicas de Vitória.
Por todas as buscas e pesquisas que fez ao longo de quase uma década, Silvânia acredita em outro desfecho para o sumiço do irmão. “Eu e minha mãe acreditamos que ele está vivo.” Apesar do trauma em decorrência do acidente, a engenheira diz gostar de Juiz de Fora e recorda que chegou a ficar quase um mês na cidade, no começo de 2020, após receber informações de que um morador em situação de rua tinha características semelhantes às dele. Ela conseguiu chegar até o homem, mas tratava-se de uma pessoa parecida. “Desde que ele desapareceu, vou atrás de todas as pistas. Minha cabeça está uma loucura até hoje. Sempre corri atrás da mídia para falar do caso, para ver se ele aparece, vivo ou morto. Agora, do nada, eu mesma que viro reportagem.”
No início deste ano a esperança de encontrá-lo reacendeu quando ela descobriu, pelo CPF, um cadastro de auxílio emergencial no nome dele. Três saques chegaram a ser feitos em uma agência bancária de Londrina (PR), mas as imagens de câmeras de segurança já haviam sido apagadas por terem decorrido mais de dois meses. Assim, Silvânia permaneceu com a dúvida se poderia ser de fato o irmão ou mais uma fraude aplicada por alguém, que teria usado os dados dele para conseguir o benefício do Governo federal.
“Fomos até a Polícia Civil que investiga o caso, na cidade de Araçariguama, e registramos BO para o fato ser investigado”, relata Silvânia, acrescentando que a Polícia Federal está no caso, junto com o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo. A família, entretanto, lamenta não ter condições de pagar um advogado para acompanhar as apurações. “Há nove anos lutamos sozinhos. Já procuramos o Poder Público, assim como vários tipos de ajuda, e nada. Talvez, se tivéssemos um advogado, já teríamos descoberto algo sobre meu irmão, mas, infelizmente, essa é a nossa realidade.”