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Adolescentes juiz-foranas ganham baile de debutante coletivo

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De acordo com o presidente da Casa de Cultura, ideia surgiu a partir do sonho de uma adolescente de 13 anos, que participou de outro concurso de redação (Foto: Marcelo Ribeiro)

As 40 adolescentes selecionadas para participar do 1º Baile de Debutantes de Juiz de Fora serão homenageadas na Câmara Municipal na próxima terça-feira (10). As meninas, todas com idade por volta de 15 anos, foram selecionadas por meio de um concurso de redação, cujo prêmio é a participação no baile, quatro ingressos para convidados e toda a preparação para o evento, como cabelo, maquiagem, vestido e aulas de dança. O projeto, de autoria da Casa de Cultura Evailton Vilela (CCEV), tem como objetivo dar protagonismo social aos adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Segundo os organizadores do baile, a intenção é reconhecer o mérito das selecionadas, que escreveram sobre o tema “A realidade dos meus 15 anos”. Além das honrarias concedidas pela Câmara Municipal, as adolescentes também serão homenageadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Atualmente, o projeto está em sua segunda etapa, preparando as adolescentes para o grande dia. Nesta sexta (6), elas serão apresentadas à imprensa e à sociedade. O resultado da primeira etapa foi divulgado na última semana, e o baile acontece no dia 24 de novembro.

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A partir das redações, os membros da Casa de Cultura puderam conhecer as diversas realidades de meninas cujas famílias não teriam condições de realizar um baile de debutante. No total, o projeto teve mais de 100 inscritas e, em alguns casos, as histórias retratavam situações de violência e de falta de estrutura familiar, entre outros fatores, como gravidez precoce. Uma das selecionadas escreveu a redação com os pés, pois seus braços são atrofiados. Sessenta e sete adolescentes escreveram as redações, que foram avaliadas por uma comissão da organização sem nenhuma ligação anterior com as participantes.

A iniciativa permitiu que adolescentes de diversos bairros da cidade tivessem acesso à oportunidade de ter uma festa de 15 anos, sem distinções ou preconceitos. Segundo a assessora de comunicação da Casa de Cultura, Lidianne Pereira Luz, “muitas das redações têm cunho de desabafo. De certa forma, essa festa vai culminar em um alento para essas meninas que vivem coisas tão desafiadoras todos os dias. Vai ser um momento que elas não esperavam ter e elas vão passar por essa transição de forma bem mais leve, com a única contrapartida de fazer a redação. O grande viés disso tudo é poder ver sorrisos no rosto de quem, geralmente, não tem”.

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A ideia de escrever uma redação para poder participar da festa surgiu também com o objetivo de incentivar as adolescentes a continuarem estudando e de mostrar que eles podem ocupar outros espaços onde, geralmente, não são consideradas bem-vindas pela sociedade. “Uma das meninas contempladas tem distúrbio de atenção e dificuldades na escola, mas a mãe contou que o fato dela ter conseguido por mérito próprio a motivou a continuar estudando, porque, diferente do que todo mundo falava, ela era capaz. Esse retorno que já começamos a ter com o projeto é muito bom, porque o simples fato de as meninas conquistarem algo mostra que o que elas querem, como fazer uma faculdade, é possível, diferente do que elas sempre escutam na periferia”, conta Fernanda Evarista da Silva, assessora de comunicação da Casa de Cultura.

Além de proporcionar a festa para as adolescentes, o concurso também vai colaborar com o funcionamento da Casa de Cultura, que passa atualmente por uma reformulação interna e pretende oferecer serviços e ações que os adolescentes de periferia desejam, como cursos profissionalizantes e ações que permitam a realização de seus sonhos de maneira concreta, considerando a realidade em que eles vivem.

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Projeto começou há seis anos

Pensado ao longo de seis anos, o projeto começa a dar frutos agora, segundo o fundador e presidente da Casa de Cultura, Jefferson da Silva Januário, conhecido como Negro Bússola. De acordo com ele, a ideia surgiu a partir do sonho de uma adolescente de 13 anos, que participou de outro concurso de redação. A história dela comoveu o grupo, que conseguiu colocar a festa em prática, com o apoio de 16 parceiros.

“Tivemos a ideia através da redação de uma menina que, com 13 anos, já era frustrada por não enxergar as condições necessárias para ter um baile de debutantes – que ela tanto almejava – devido à situação social e familiar dela. Na ocasião da primeira redação, trabalhamos a gravidez precoce e o crack, dois temas faziam parte da realidade dela. Ela foi destaque e falou que se não tivesse oportunidade de ter um baile de 15 anos, que isso não fosse extensivo para a família e amigos. Ela queria alguma alternativa. O resultado disso é que depois de 6 anos, ela tem três filhas e não teve o aniversário que ela queria, mas será a rainha do baile e vai ter todas as honrarias por ser a fonte de inspiração que nos fez ultrapassar essas barreiras”, conta Negro Bússola.

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A expectativa dele é que, nos próximos anos, aumente o número de adolescentes selecionadas para comemorarem seus aniversários de 15 anos em um baile coletivo. “A proposta é, a cada ano, aumentar o número de debutantes, pois é um projeto que vai entrar no calendário da Casa de Cultura. Por ser o primeiro, causa estranheza e curiosidade, mas as pessoas foram muito receptivas, principalmente as meninas que foram contempladas. Por outro lado, muitas empresas tiveram empatia pela causa. Infelizmente, o Poder Público não comunga muito com a ideia, exceto quando tem resultado imediato para eles. Mas temos algumas iniciativas de grandes empresas que vêm patrocinando e investindo em nosso sonho, na possibilidade de trazer um mundo melhor.”

Ainda de acordo com o presidente da CCEV, o projeto ainda corrobora com a ideia de que os moradores da periferia não devem ser encarados com olhar diferente. “A periferia tem que deixar de ser olhada como um submundo. As meninas vão receber uma homenagem por mérito próprio, mostrar que, mais do que nunca, merecem destaque. Queremos dar uma injeção de ânimo nelas. As pessoas sempre esperam um discurso de lamentações da parte de quem viveu. Nossa linha é que, se o céu é o limite, vamos morar no espaço. Queremos mostrar para esses adolescentes que eles são muito mais do que podem imaginar.”

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