Comemorando 60 anos de carnaval, o bloco Domésticas de Luxo levou o samba para o coração da cidade e desfilou pela Rua Halfeld, partindo do Parque Halfeld até a Praça da Estação. A alegria dos integrantes, no entanto, contrastou com uma velha polêmica. Um grupo de cerca de dez pessoas protestou contra o que chamam de viés racista da atração carnavalesca, diante da caracterização dos foliões com a pele pintada de preto, artifício teatral conhecido como “blackface”. Em mobilização pacífica, que em alguns momentos chegou a ser reprimida por participantes do bloco, os manifestantes – a maioria formada por jovens negros – levantaram cartazes em que se destacavam frases como “eu não sua fantasia”.
“Este bloco acontece há 60 anos e só reforça que Juiz de Fora é uma cidade extremamente racista e desigual. Um exemplo é que os negros recebem salários menores que os brancos. Não nos deixam falar. Não querem ouvir os negros. Todos os anos, tentamos fazer este tipo de manifestação e somos reprimidos. É um bloco racista. Minha mãe era doméstica e não se sente representada por isto”, afirma Jussara Melo, 25 anos. A estudante aponta ainda os possíveis reflexos prejudiciais deste tipo de manifestação. “Tenho uma amiga que foi apelidada de doméstica de luxo. Não somos uma caricatura”, desabafa para defender o que entende como viés preconceituoso do bloco.
Por outro lado, um dos organizadores do bloco Doméstica de Luxo, o aposentado Valdir Alves, 62, evitou a polêmica destacando a tradição da manifestação carnavalesca sexagenária. “Não somos racistas. Quem começou esta história, no passado, não tinha este objetivo. Estamos dando continuidade a uma tradição. Somos um patrimônio da cidade.” Sobre o desfile, Valdir afirmou que o desfile ocorreu com sucesso e elogiou o apoio do Município e da Polícia Militar. “Tudo muito bem organizado. É um desfile bonito, lindo e marcado pela alegria.”