Na linha de frente contra a Covid-19, diversos profissionais de saúde, de todo o mundo, viram sua rotina mudar. Com as altas nos casos confirmados e internações, os plantões se tornaram mais exaustivos, somados ao receio de se contaminar e levar o coronavírus para casa. Na segunda reportagem sobre a rotina desses trabalhadores em Juiz de Fora, publicada neste domingo (2), a Tribuna conversou com a técnica em enfermagem Simone Sodré de Oliveira Ferreira, que divide os plantões de 24 horas nas unidades de terapia intensiva dos hospitais da Unimed Juiz de Fora e Monte Sinai.
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A profissional de saúde fez parte da equipe médica que atendeu o primeiro paciente com Covid-19 na cidade. Desde então, quase um ano e dois meses depois, e apesar da vacinação ter se iniciado e de já se saber o que é necessário para evitar a proliferação do vírus, os casos ainda são muitos e continuam aumentando.
“Está sendo bem desgastante. A cabeça da gente vai a mil porque você não tem só o hospital, não são só os pacientes, tem a família também. Eu tenho dois filhos que já passaram por cirurgia cardíaca, então você fica 24 horas dentro de um hospital, igual eu fico, e vai para a casa com aquele medo. Será que vou levar alguma coisa para dentro da minha casa? Será que eu não estou colocando eles também em risco?”.
“Essa demanda dentro do hospital também está enorme e desgastante. Você vê na cara de cada um, no rosto de cada um, o tanto que estamos cansados”, confidencia, diz Simone.
Moradora do Bairro Grama, na região Nordeste de Juiz de Fora, a técnica em enfermagem começa o dia de trabalho por volta de 6h10, quando sai de casa para o primeiro turno de plantão, no Hospital da Unimed Juiz de Fora, no Salvaterra, Zona Sul. Lá, ela atua por 12 horas na UTI Covid. Mais tarde, às 19h, começa outro período de 12 horas no Hospital Monte Sinai, no Cascatinha, também na região Sul da cidade. O plantão de 24 horas se encerra no dia seguinte, às 7h.
Doença solitária
Na UTI Covid, Simone lida diretamente com pacientes contaminados pelo coronavírus. Como a profissional define, a Covid-19 é uma doença solitária, já que, ao ser internado, o paciente perde o contato com entes queridos e tem apenas os profissionais de saúde como ligação com o mundo fora do hospital. “Eles não veem nem a gente mais, eles só veem os nossos olhos”, conta. “Geralmente, na hora da intubação, fazemos uma videochamada para o paciente com familiar ou alguém que ele queira falar antes do procedimento. É muito emocionante ver a despedida deles, porque a gente não sabe como vai ser depois da intubação. A gente espera que eles voltem. Você escuta umas frases assim: ‘você promete, né, que vai me acordar daqui a sete dias?’, mas nem sempre é assim que acontece.”