Um motorista socorrista que trabalha no Samu-192/Cisdeste voltou a ser investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher por crime sexual. O homem, de 50 anos, já havia sido denunciado há um ano por uma enfermeira, 44, por assédio verbal no trabalho e chegou a ficar 60 dias afastado de suas funções. Desta vez, outra profissional de enfermagem, 30, registrou boletim de ocorrência, no último dia 24, dizendo ter sofrido abuso físico. Diante da denúncia, o suspeito cumpre novo afastamento preventivo “para que não haja interferências na tramitação do processo administrativo disciplinar já instaurado”, segundo informações da assessoria do Samu.
No caso mais recente, registrado como importunação sexual, a técnica em enfermagem esteve na Delegacia da Mulher, acompanhada de uma psicóloga do Samu. Ela contou que trabalha na área de atendimento de trauma, caso clínico e obstetrícia em unidade móvel, na qual o suspeito também atua na função de condutor socorrista. Os dois estariam dividindo os mesmos plantões na ambulância há cerca de oito meses.
A vítima relatou que, nos últimos três ou quatro meses, “notou algumas atitudes importunantes” do homem, que foram aumentando com o tempo. Como exemplo, a mulher citou que, em horários de descanso dos plantões, ele já tentou beijá-la e deitar sobre ela, chegando inclusive a passar a mão sobre seu corpo. A técnica em enfermagem acrescentou que está passando por diversos transtornos psicológicos por conta das investidas, sofrendo problemas de saúde, como transtornos de ansiedade e de imunidade, sendo necessário, inclusive, se afastar do trabalho. Ela ainda disse à polícia que outras pessoas também teriam sido importunadas pelo mesmo homem.
“Só quem passa por isso sabe”
Em entrevista à Tribuna, a enfermeira que afirma ter sido vítima do motorista socorrista há um ano também descreveu passar por situações constrangedoras desde que decidiu denunciá-lo. Segundo informações do registro policial, no dia 12 de outubro de 2020, quando estavam em uma ambulância no pátio do Centro de Operações do Corpo de Bombeiros (Cobom), o homem teria dito: “Além de linda, você se veste muito bem; na foto que tiramos com outras equipes, eu poderia sentir a sua calcinha; você não imagina como me deixa excitado; não leve como desrespeito, porque desde que entrou para o Samu você me deixa louco”. Em seguida, ele teria dito para que ela olhasse o órgão genital dele. A vítima destacou que o fato ofendeu a sua dignidade e honra e que, mesmo tendo alertado o homem sobre a sua conduta, ele teria continuado a proferir mais palavras de cunho sexual. Assim como a vítima mais recente, ela registrou ter conhecimento de outras colegas do Samu terem passado por situações desse tipo com ele.
“O caso foi encerrado simplesmente sem me darem respaldo algum. Ficaram na empresa rindo da minha cara e de cochicho, por não ter dado em nada. Quando eu o denunciei, foi muito difícil falar sobre isso, porque estava passando por constrangimento há uns dois meses”, desabafou a enfermeira que teve coragem para registrar ocorrência no ano passado. “Fui totalmente assediada por ele. Mandei um e-mail para o Cisdeste relatando o abuso, e eles o suspenderam por 30 dias, prorrogando por mais 30, remunerado. E vão esperar mais uma vez para tomarem providências?”, questiona ela sobre a suspeita de reincidência. “Tenho dois laudos mostrando que entrei em crise de pânico. Solicitei à empresa e consegui que o afastassem de mim, separando os plantões. Mas aguentei muitos murmuros, risadas e deboches. Até hoje sinto sensação de incapacidade, por ver que a Justiça não funciona, tudo não passa de propaganda. Ainda tomo remédios e tenho crises de pânico. Aí agora aconteceu com outra colega. Só quem passa por isso sabe.”
Delegada garante que caso está sob investigação
A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Alessandra Aparecida Azalim, comunicou que o inquérito relacionado ao caso de crime sexual registrado no ano passado e envolvendo um motorista socorrista do Samu foi concluído e encaminhado à Justiça. No entanto, ela não informou qual foi o indiciamento do suspeito. Já em relação à denúncia recente, a delegada destacou que já foi instaurado procedimento e abertas diligências preliminares. “Está sob investigação”, garantiu.
A assessoria do Samu-192/Cisdeste enfatizou estar tomando as medidas regimentalmente corretas em relação à denúncia de setembro. “Trata-se do afastamento preventivo para que não haja interferências na tramitação do processo administrativo disciplinar já instaurado, vez que precisamos garantir ao citado o direito de defesa. A administração precisa agir nos limites da lei, garantindo a qualquer um dos seus trabalhadores o contraditório e a ampla defesa.”
Ainda por meio de nota, a assessoria assegurou: “Da mesma forma, à denunciante foi oferecido todo o amparo jurídico e psicológico, inclusive oferecendo a ela a possibilidade de se ausentar do trabalho, se não se sentisse em condições de desenvolver suas atividades. Entretanto, por opção dela própria, preferiu continuar trabalhando.”
Sobre o caso de 2020, o Samu informou que o Processo Administrativo Disciplinar é interno, corre em sigilo e está em fase conclusiva.