Apenas oito das 16 Bases de Segurança Comunitária da Polícia Militar previstas, há um ano, para atuar em Juiz de Fora estão em funcionamento. O projeto foi criado em 2017, ainda no governo de Fernando Pimentel (PT), seguindo o Programa Mais Segurança, como ferramenta para reduzir a criminalidade violenta. Quando chegou à cidade, em julho do ano passado, a iniciativa causou polêmica devido ao possível fechamento de alguns postos policiais fixos, que seriam substituídos pelas unidades móveis. Agora, em movimento reverso, pontos estáticos da PM, como o da Praça Jeremias Garcia, em Benfica, Zona Norte, estão sendo reativados, enquanto as Bases de Segurança estariam sendo devolvidas a Belo Horizonte para serem realocadas em outros locais. Mais um bairro que deixou de contar com o equipamento é o São Pedro, na Cidade Alta, onde funciona a sede da 99ª Companhia da PM.
Apesar de alguns postos voltarem a abrir em período integral, o número reduzido de Bases Comunitárias preocupa, porque as vans são melhor equipadas e contam com aporte tecnológico. Além de duas motos, usadas no policiamento do entorno, as unidades contam com rádios de comunicação, notebook para registro de ocorrências e, ainda, programa de integração com as câmeras do Olho Vivo. Com isso, a cidade não estaria perdendo apenas oito Bases de Segurança, mas todo o “kit” que acompanha cada uma delas.
Para o presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro São Pedro, Wanor Alves Vieira, a base “está fazendo muita falta”. Segundo ele, o veículo costumava ficar parado no final da Avenida Presidente Costa e Silva, mas não é mais visto há cerca de três meses. Embora a 99ª Companhia atenda na mesma via principal, perto do Pórtico Norte da UFJF, a unidade móvel, conforme ele, estacionava em local mais distante, estendendo o raio de policiamento. “Sugerimos que ficassem na nossa associação, ao lado da igreja. Agora estamos até querendo colocar uma grade lá na casa, porque é um ponto crítico, com muito uso de drogas”, contou o morador. Ele acrescentou que a própria sede já foi invadida pelo menos duas vezes, há mais de um ano. “Levaram o computador e depois o micro-ondas. A primeira segurança é Deus, mas depois é aqui na Terra, e a gente estava precisando desse apoio”, lamentou.
Zona Norte
Em Benfica, a Base de Segurança Comunitária foi desativada há mais de três meses, no dia 3 de junho, conforme o comandante da 173ª Companhia da PM, capitão Marcelo Alves. Concomitantemente, o posto do programa Ambiente de Paz, que também funciona na Praça Jeremias Garcia, foi reaberto. “No mesmo dia em que foi desativada a base, foi ativado o posto. A base foi recolhida para Belo Horizonte, para ser realocada em outro local que necessite.” Ainda segundo o capitão, a decisão foi tomada a partir de um estudo e diante da existência de uma estrutura física já montada na praça.
“Os policiais que atuavam na unidade (móvel) passaram a ser empregados no Ambiente de Paz. A população recebeu bem (a mudança) já que, em um primeiro momento, quando a base foi instalada, houve certa resistência. Depois, quando viram o serviço, perceberam que a segurança permaneceu igual.” Na época, os moradores chegaram a fazer um abaixo-assinado pela permanência do posto.
Reforço do policiamento
O anúncio de que 16 Bases de Segurança Comunitária seriam espalhadas por toda Juiz de Fora para reforçar o policiamento em pontos considerados estratégicos e de grande fluxo foi feito no dia 31 de julho do ano passado, pelo então comandante da 4ª Região da Polícia Militar (RPM), coronel Alexandre Nocelli, durante debate sobre segurança pública na Rádio CBN. Na época, as unidades seriam divididas entre o 2º e o 27º batalhões, e o funcionamento ocorreria das 14h às 23h. Quatro militares ocupariam cada van, sendo que dois deles circulariam em motos pelas áreas em rotinas de patrulhamento. A ideia era que cada uma das sete regiões do município contasse com pelo menos duas bases.
PM aponta efetivo finito e novas frentes tecnológicas
Questionada pela Tribuna sobre a mudança na estratégia de policiamento, a Polícia Militar não especificou quais bairros deixaram de contar com a Base de Segurança Comunitária (BSC), as datas das alterações e nem onde funcionam os postos fixos que passaram a substituí-las. A reportagem apurou que, além de Benfica e do São Pedro, moradores não têm visto, nos últimos dias, a unidade móvel que costumava atuar no Fábrica, próximo à entrada do Monte Castelo, Zona Norte. Por outro lado, as estruturas continuam sendo percebidas pela população no Mariano Procópio (Rua Coronel Vidal), região Nordeste, no trevo entre os bairros Bom Pastor e Alto dos Passos, Zona Sul, e no Bairro Francisco Bernardino, região Norte.
“Em Juiz de Fora, os locais para instalação das bases foram precedidos de análises de criminalidade, de logística e dos benefícios que seriam gerados à sociedade. Procurou-se estabelecer, ao final de todo o processo, um número de bases (atualmente 8 BSCs) que coexistissem com as estruturas físicas já existentes na cidade e destinadas ao atendimento. Percebeu-se que, no município de Juiz de Fora, a sociedade, costumeiramente, já estava habituada a procurar a PM nas sedes físicas existentes, pelo que optou-se por não desativá-las em detrimento das Bases de Segurança Comunitária. Em outros municípios mineiros, para a instalação das BSCs, foram necessárias desativações de sedes físicas visando a racionalização do emprego do efetivo policial militar, o qual é finito e deve ser mensurado de acordo com as demandas existentes para um empenho eficiente”, esclareceu, em nota, a assessoria de comunicação da 4ª Região da PM, responsável pelo policiamento de Juiz de Fora e de outros 85 municípios da região.
A assessoria da PM em Belo Horizonte também foi procurada para informar o motivo desse movimento contrário, de recolhimento de parte das Bases de Segurança Comunitária que foram destinadas ao município há pouco mais de um ano. Como neste intervalo houve mudanças de comando na PM devido à gestão atual, do governador Romeu Zema (Novo), a medida poderia ter surgido a nível estadual. Entretanto, a questão foi considerada de responsabilidade da 4ª Região da PM.
190 Smart
A assessoria local destacou que, para desempenhar todas as atividades que a Polícia Militar realiza no município, “e sabendo que o efetivo é finito”, não há possibilidade de instalação de novas Bases de Segurança Comunitária em Juiz de Fora. Entre os trabalhos, a corporação citou atendimento às ocorrências geradas via 190, 24 horas por dia; lançamento de equipes preventivas, como o Grupo Especial de Policiamento em Área de Risco (Gepar), o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), a Patrulha de Operações (POP), o Tático Móvel (TM), as patrulhas Rural e Escolar e as bases comunitárias fixas (em Benfica, São Mateus, Manoel Honório e outros).
Para melhoria dos serviços prestados, a PM afirmou estar investindo em diversas frentes tecnológicas. Uma delas, denominada 190 Smart, está em fase de testes na cidade e consiste em equipar as viaturas com tablets e internet para que os policiais possam registrar as ocorrências nos locais dos fatos. O objetivo é proporcionar maior agilidade nos atendimentos, liberando as equipes em menor tempo para outras demandas.