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Agosto é o mês com menos mortes por Covid-19 em Juiz de Fora desde novembro

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Apesar da regressão do município para a faixa laranja do programa Juiz de Fora pela Vida, anunciada pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) na última segunda-feira (30), agosto é o mês com o menor número de óbitos notificados pelo Executivo municipal desde novembro de 2020. Os dados foram levantados pela Tribuna, e apontam também o menor número de novos casos confirmados em um único mês ao longo de todo o ano. Em meio ao avanço da vacinação, a situação de aparente estabilidade vai de encontro à preocupação com a circulação da variante Delta em Juiz de Fora, que é a cidade com mais casos da cepa em todo o estado.

Levando em conta os 31 dias do mês, a PJF registrou 64 mortes por Covid-19 em agosto. O número representa uma redução de 31% em relação a julho, quando 89 óbitos foram notificados, e 56% de diminuição quando comparado ao mês de junho, que encerrou com 139 mortes causadas pela Covid-19 na cidade.

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Ampliando a observação para outros meses, a tendência de queda no número de óbitos pela doença em Juiz de Fora fica mais evidente: foram 212 mortes em maio, 344 em abril, 262 em março, 111 em fevereiro, 205 em janeiro e 179 em dezembro. Apenas novembro aparece com número menor de óbitos por Covid-19 que agosto, com 61 mortes registradas pela PJF.

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A melhora no quadro epidemiológico também é notada no número de casos confirmados de contaminação pelo coronavírus. Em agosto, foram 3.361 diagnósticos confirmados pela PJF, também o menor número desde novembro de 2020. Em julho, foram registrados 3.697 casos, ou seja, houve redução de 36% nas confirmações durante o último mês.

“A gente nunca teve um período tão grande de estabilidade. Nós sempre tivemos ondas, com picos e vales. Mas nunca um platô durou tanto tempo, e ainda com tendência a queda. Para mim, o atual cenário é um dos melhores momentos com relação à pandemia”, opina o médico infectologista Rodrigo Daniel de Souza.

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Faixa laranja em meio à melhora

Apesar dos dados levantados pela Tribuna, a Nota Informativa número 30, que embasou a regressão da cidade para a faixa laranja do Juiz de Fora pela Vida, creditou a mudança à alta verificada na variação semanal do número de óbitos por Covid-19 na cidade. A análise, que leva em conta aspectos assistenciais e epidemiológicos, atribuiu 12 pontos na avaliação de risco da pandemia na cidade, sendo oito apenas para o aumento de mortes pela doença em Juiz de Fora, apontando crescimento de 100% nos últimos 14 dias.

Somando os oito pontos atribuídos pela variação de óbitos, com os dois da taxa de positividade para Covid-19 e os outros dois pontos pela avaliação de risco de esgotamento dos leitos estimado em 34 dias, tem-se os 12 pontos que levaram Juiz de Fora de volta para a faixa laranja. Para se manter na faixa amarela, a cidade precisaria ter pontuação entre um e nove pontos.

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No comunicado em que anunciou a regressão, a secretária de Saúde (SS) da Prefeitura, Ana Pimentel, não citou especificamente o aumento de mortes, mas apontou a preocupação com a circulação da variante Delta na cidade. “Juiz de Fora já apresenta a circulação comunitária da variante Delta do coronavírus, ou seja, não é mais possível identificar a origem da transmissão, fazendo com que tenhamos mais cuidados”, disse.

Apesar de a Prefeitura não detalhar qual foi a variação verificada no número de mortes, a Tribuna fez o levantamento com base nos dados divulgados pela própria PJF em boletim epidemiológico. Adotando o critério semanal, as últimas cinco semanas apresentam estabilidade: foram 14 mortes por Covid-19 entre a última segunda-feira (30) e o dia 24; 13 óbitos entre os dias 23 e 17; dez entre os dias 16 e 10; 18 entre os dias 9 e 3; e 12 entre os dias 2 de agosto e 27 de julho. Entretanto, pode haver discrepância entre os dados considerados pela Administração municipal, uma vez que os dias analisados pelo Executivo pode considerar outros períodos.

Índices ‘sensíveis’

Em entrevista à Rádio Transamérica Juiz de Fora na terça, o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Sedic), Ignácio Delgado, lembrou que os critérios do Juiz de Fora pela Vida são “mais sensíveis” do que os do Minas Consciente, programa estadual de enfrentamento à pandemia. Se estivesse seguindo os protocolos estaduais, a cidade estaria na onda verde, a mais permissiva. “O Município está fazendo um esforço muito grande para criar condições para uma abertura plena das atividades econômicas”, afirma o titular, que também destacou a circulação da variante Delta.

Ao longo dos últimos dois dias, a Tribuna solicitou à PJF os dados que embasaram a regressão para a faixa laranja. A reportagem ainda questionou qual seria o peso da transmissão da variante Delta no município para a mudança. Entretanto, até o fechamento desta reportagem, estes questionamentos não haviam sido respondidos.

De acordo com a nota técnica 30, entretanto, os resultados da semana anterior apontam um aumento de 63% na taxa de ocupação tanto de leitos intensivos quanto de leitos clínicos. Ainda conforme o documento, a previsão de esgotamento de leitos, um dos indicadores analisados, seria de 34 dias – considerando o cenário atual. Esse resultado é o mesmo do período anterior analisado. A variação de óbitos aumentou em 100%, e a taxa de positividade para a Covid-19 aumentou em 23%. Já a variação do número de casos confirmados da doença sofreu uma queda de 43%.

Critério gera ‘fator confundidor’, diz especialista

Como o critério do Juiz de Fora pela Vida atribui pontuação à variação no número de óbitos, na medida em que o número de registros diminui, a variação tende a ser mais sensível. É o que explica o infectologista Rodrigo Daniel. “Se você tiver uma morte na semana e, na outra semana, tiver duas mortes, será pouco em relação ao tamanho da população. Mas, para a estatística, será um aumento de 100%. Quando esse número fica baixo, pequenas variações representam um resultado muito grande”.

O especialista ainda destaca que a notificação do óbito reflete uma realidade vista semanas antes, uma vez que, muitas vezes, a vítima da Covid-19, antes de ter a morte confirmada, ainda foi um caso suspeito de contaminação, depois foi confirmado e passou pelo sistema hospitalar. “A mortalidade é o pior dos indicadores para a gente acompanhar a tendência atual da doença, porque nós estamos olhando para trás e interferindo tardiamente (…). A gente pode ter morte agora de uma pessoa que pegou Covid há três ou quatro meses”, argumenta o infectologista. “Talvez a mortalidade não deva ser um critério utilizado, ou não deva ser tão valorizado, porque cria um fator confundidor”, opina.

Na contramão da posição do especialista, entretanto, o Juiz de Fora pela Vida classifica o óbito como o segundo critério de maior impacto. O indicador pode somar, na conta final, até oito pontos na avaliação de risco, enquanto a variação no número de casos confirmados e a taxa de positividade podem aumentar a conta em dois pontos cada. A ocupação de leitos de Terapia Intensiva (UTI) pode atribuir até 12 pontos, os leitos clínicos podem somar até oito, e a previsão de esgotamento da assistência hospitalar tem o máximo de quatro pontos.

Por outro lado, o professor de Estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcel Vieira, é mais cuidadoso quanto a uma possível mudança de critérios. “Essa discussão precisa ser feita com muito cuidado, porque gira em torno do que seria um número de mortes por Covid-19 ‘aceitável’. Eu acho que aceitável seria não ter nenhuma”, diz Vieira. “Eu concordo que, quando os números estiverem mais baixos, a variação vai ser grande. Mas eu acho que é algo que precisa ser refletido, porque ainda estamos longe de ter um número pequeno”, afirma.

Números estacionaram em patamar elevado

Para o professor Marcel Vieira, apesar da melhora recente, os números da pandemia ainda estão em patamar elevado. Integrante da Plataforma JF Salvando Todos, que realiza o monitoramento da evolução da pandemia local e nacionalmente, o pesquisador reconhece a diminuição recente de casos confirmados, suspeitos e óbitos por Covid-19, mas mantém o sinal de alerta. “Mesmo com essas quedas, o número de casos, segundo padrões internacionais, ainda é elevado. A taxa de cobertura vacinal com duas doses ainda é muito baixa, dados os estudos feitos tanto no Brasil quanto no exterior. E o número de óbitos, embora tenha caído consideravelmente, ainda são elevados”, destaca.

Outro fator preocupante apontado pelo pesquisador é o número de registros e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Os casos de síndrome respiratória podem indicar, segundo especialistas, uma subnotificação no acometimento da Covid-19.

Considerando os números ainda preocupantes, o último boletim da plataforma chefiada por Vieira classificou as recentes flexibilizações nas medidas restritivas como “precoces”. A palavra foi empregada sobretudo pela tendência nacional de liberações, incluindo a realização de eventos e atividades com potencial de aglomeração. “Em Juiz de Fora, os números indicam que precisamos ficar atentos ao número de circulação de pessoas. E a gente vem observando que, a cada semana, aumenta o número de pessoas nas ruas”, alerta o pesquisador.

Variante Delta

A proliferação da variante Delta segue sendo um fator ameaçador dentro do atual contexto epidemiológico do município. Segundo o acompanhamento da SES-MG, Juiz de Fora é a cidade mineira com mais notificações da cepa no estado, com 23,5% do total das amostras genotipadas em Minas.
O infectologista Rodrigo Daniel aponta que ainda não é possível verificar aumento no número de casos confirmados ou no número de internações por conta da variante, uma vez que esses indicadores apresentam estabilidade ao longo das últimas semanas. “O número de casos e de internações não vêm subindo. Talvez (a variante Delta) tenha tido um impacto e a gente não consiga aferir, por exemplo: talvez, se não tivesse a variante Delta, o número de casos, hoje, seria menor. Mas isso os números não vão mostrar”, opina. Entretanto, o impacto futuro da cepa no cenário epidemiológico do município ainda é incerto, segundo o especialista. “Ainda é precoce para a gente tirar conclusão futura”, conclui.

* Colaborou Carolina Leonel

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